ACTAS  
 
01/09/2010
Pobreza e exclusão social: um combate necessário
 
Dep.Carlos Coelho

Muito boa tarde, vamos dar início à nossa sessão da tarde, com um tema que é uma das nossas prioridades, que é a questão social, chamámos-lhe pobreza e exclusão social, um combate necessário. Há quem sustente que estamos perante uma emergência social em Portugal. Connosco temos o prazer de ter uma pessoa especial, o Pe. Lino Maia é um padre invulgar, é um homem de Deus que tem uma colecção especial de diabinhos e um padre que colecciona diabinhos já por si é um homem invulgar, não sei se ele vem aqui à Universidade de Verão conhecendo a vossa reputação, procurando ver diabinhos aqui há frente dele, (Risos) mas é um homem que é um exemplo de intervenção social, na paróquia de Aldoar ele desenvolveu uma obra notável, há muitas e muitas famílias hoje que têm mais qualidade de vida por uma obra que o Pe. Maia coordenou, coordenou de forma discreta, mas com muita eficácia e também sobre o seu impulso assistiu-se a uma reorganização das instituições da segurança social, em uniões distritais que marca uma alteração no mapa das IPSS em Portugal e da sua eficácia no terreno, de forma concertada. O nosso convidado tem como hobbie a leitura, tem como comida preferida a sardinha assada, tem como animal preferido o cão, o livro que nos sugere é um livro tocante, "O Principezinho" de Saint-Exupery, o filme que sugere, "Os Cavalos" de Pollac e a qualidade que mais mais aprecia nos outros é a lealdade. Sr. Padre, muito obrigado por ter aceite o nosso convite, o palco é seu.

 

(palmas)

 
Pe.Padre Lino Maia

Muito boa tarde, é-me sinceramente grato estar aqui convosco. Quando fui convidado, eu não podia dizer que não, até por uma razão muito simples é que na minha idade nós temos uma certa tendência para dizer “no meu tempo de jovem é que se fazia e que se pensava” e vamos esquecendo um bocado que todos temos de dar um bocado de contributo e todos temos de acreditar que nem só há 40 anos é que havia jovens, hoje também há jovens que sonham, que querem, com uma capacidade interventiva importante e portanto temos que dar o nosso contributo. Eu devo dizer que esta iniciativa da Universidade de Verão é uma iniciativa extremamente válida, extremamente útil e não tenho a menor dúvida de que aqui estão de facto alguns ou muitos dos agentes de uma sociedade melhor, não tenho a menor dúvida, a minha obrigação é partilhar convosco algumas preocupações, algumas ideias e mostrar-vos quanto acredito de facto em vós. Convidaram-me para falar um bocadinho sobre a exclusão social e o combate à pobreza, um combate necessário. Eu gostava de começar por vos lembrar, eu não vou dizer rigorosamente nada de novo, mas gostava de lembrar algumas coisas. Em primeiro lugar foi dito e é bem verdade eu estou ligado às IPSS, eu gostava que tivessem presentes o quão importantes são as IPSS em Portugal, segundo o Decreto-Lei que gere um bocado este mundo das IPSS, o 119/83, as IPSS são instituições sem finalidade lucrativa e eu diria que mais do que não terem finalidade lucrativa são instituições sociais de solidariedade, portanto não apenas, não têm finalidade lucrativa mas têm uma finalidade que é a solidariedade, por iniciativa de particulares e quando se fala em iniciativa de particulares, dos cidadãos, não podem ser constituídas por iniciativa do sector público, Estado local ou central, com propósito dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça entre os indivíduos e como já disse desde que não sejam administradas pelo Estado ou por outro corpo ou por um corpo autárquico, têm as instituições de solidariedade em Portugal, eu vou já dizer-vos números, mas têm um âmbito de acção bastante dilatado. Elas dedicam-se ao apoio a crianças e jovens à família, à intervenção social e comunitária, à protecção do cidadãos na velhice e invalidez, e em todas as situaçõs de falta ou de diminuição de meios de subsistência, promoção e protecção da saúde, educação e formação profissional dos cidadãos, resolução dos problemas habitacionais das populações, portanto, podemos dizer que nada escapa, nada do que é social escapa às instituições de solidariedade. Temos instituições de solidariedade que são intituições de solidariedade social e portanto as pessoas organizam-se e constituem uma associação, temos associações de socorros múltiplos, temos fundações de solidariedade social e há muitas fundações de solidariedade social e quando falamos de fundações da solidariedade social, estamos a falar de algumas daquelas que têm mesmo o título ou a natureza jurídica de fundações, mas também podemos estar a falar por exemplo dos centros de solidariedade paroquiais que de facto são fundações de solidariedade social e ainda as irmandades da misericórdia. Em termos de números, devo dizer que neste momento em Portugal temos, (os números dizem uma coisa e a realidade é capaz de não ser exactamente coincidente com os números), Portugal 5 mil e 100 instituições de solidariedade social, o que significa que praticamente por cada aldeia ou até mais que por cada aldeia há uma instituição de solideriedade social, depois na prática temos em actividade, não exactamente 5 mil e 100 mas andarão nas 4 mil e tal instituições de solidariedade social. Quais são as preocupações fundamentais ou digamos as intervenções destas instituições, eu devo dizer que aquele ideal de Juvenal “mens sano corpore sano”, todos nós sabemos que é muito fruto do voluntariado em Portugal, não apenas em Portugal mas especialmente em Portugal e quando eu falo que é fruto do voluntariado, o que é que nós constatamos? É que aquilo que é de promoção artistica, cultural, até religiosa, social está muito nas mãos do voluntariado, muito mesmo, até de protecção social e ordenamento do território, segurança, está muito nas mãos do voluntariado. Mas em concreto na acção social em Portugal, segundo a última carta social com números fiáveis, a de 2007, 73,3% do que se faz em Portugal de acção social é feito por instituições de solidariedade social, o que significa e retomando aquilo que dizia a momentos, aquilo que se faz neste país de apoio a crianças e jovens, de apoio a idosos, até com jovens de protecção e apoio às pessoas com deficiência, aquilo que se faz em Portugal, 73% é feito por este sector da economia social e concretamente 68,5% é feito por instituições particulares de solideriedade social. O que seria deste país, se as instituições de solideriedade social fechassem as portas? O que seria deste país se de facto não houvesse esta característica que é iminentemente portuguesa, não é só em Portugal que há voluntariado, até diria que nós encontramos com outras características voluntariado muito activo por toda a Europa fora, mas isto, em Portugal, de as pessoas se organizarem e constituirem uma instituição para responder às carências, às situações sociais, aos problemas sociais, isto é eminentemente português, enquanto pela Europa fora as instituições sociais são sobretudo de iniciativa estatal, local ou central, em Portugal, com estes números que acabo de dizer, 73,3% em Portugal é sobretudo por cidadãos que se organizam para criarem respostas sociais. Aliás, devo dizer que estas instituições sociais, não só são responsáveis por muita acção social e eu por exemplo devo dizer que em Portugal aquilo que se faz de apoio a pessoas com deficiência se no geral é 73,3%, no que se faz de apoio a pessoas com deficiência, é bastante mais do que 73,3%. Se formos a ver apoio a pessoas a diminuídos mentais, a pessoas com problemas de locomoção, invisuais, etc... é eminentemente feito por voluntariado. Mas não apenas são responsáveis por muita acção social estas instituições, como são de facto um agente económico a considerar. Nestas instituições há cerca (números redondos), de 200 mil trabalhadores e agora reparem o que seria deste país, se este sector não existisse e não empregasse tanta gente. Há cerca de 600 mil utentes directos nestas instituições e quando eu digo directos, é que para além destes utentes, estes utentes são membros de uma família, de uma comunidade e por isso praticamente estas instituições de solidariedade acabam por atingir a comunidade nacional, toda a comunidade naciocial. Nestas instituições (e é um desafio que já vos deixo), constatamos que como já disse são instituições lideradas, constituídas e lideradas por voluntários mas são sobretudo voluntários dirigentes e voluntários já na aposentação ou em vias de, não há muita juventude, não há jovens em número significativo nestas instituições. Nós precisávamos de ter jovens na liderança destas instituições, para além de termos jovens na liderança destas instituições por todas as razões, não é para ser simpático que eu vos digo isto. Por todas as razões, é muito importante também a presença de jovens nestas instituições, mesmo como não dirigentes, com dávida de tempo, com dávida da animação, com a sua experiência, com a sua capacidade de sonhar. A juventude é muito importante nestas instituições. Algumas características destas instituições, já sublinhei uma, que é a gratuitidade, estas instituições existem não para que haja lucros. Há um lucro evidente nestas instituições que é o sorriso que se faz nascer ou renascer na pessoa, nada mais bonito do que ver nessa instituições pessoas a encontrar um futuro, a serem capazes de olhar com alegria o seu passado. Mas os dirigentes não procuram outro lucro que não este imaterial, não vão distribuir dividendos destas instituições, mais, são instituições diria que de cidadania de solideriedade e de caridade, o que é que eu quero dizer com isto? As pessoas sentem, e isto é muito importante, sentem que são responsáveis pela comunidade, pelo todo da comunidade e portanto uma forma de exercício de cidadania é organizarem-se para responderem às necessidades da comunidade. São instituições também de solidariedade, isto já foi dito mas eu volto a repetir, as pessoas sentem que se devem aproximar dos mais carenciados, carenciados não apenas de bens materiais mas também de companhia, também de perspectiva de vida etc... e portanto instituições de solidariedade e há também instituições de caridade, eu quando digo de caridade é por uma coisa que acrescento já, é que há muitas instituições em Portugal, 41% não é a maioria, há 41% de instituições que são ligadas à Igreja Católica, isto é, pessoas que por razões de fé e caridade criam instituições socias e instituições de solidariedade, os centros sociais paroquiais, misericórdias e outras fundações e institutos em Portugal. Respostas de proximidade da comunidade, já disse da comunidade portanto a comunidade no fundo desde a aldeia mais recôndita de Bragança até à mais ocidental da ilha das Flores, nós vemos que as pessoas sentem no fundo que a sorte dos seus vizinhos é a sua sorte e isto por uma razão, digamos de comunhão, mas até às vezes por uma razão de segurança, nós sabemos e sublinho desde já este aspecto, nós sabemos que quanto mais for inclusiva a sociedade, isto é, quanto menos pessoas carenciadas tivermos, atenção eu quero sublinhar esta ideia, não vou dizer que só os carenciados são os provocadores da insegurança nada disso, mas agora a carência muitas vezes pode ser instigadora de alguma insegurança, porque quem não tem em suficiente tem de procurar condições para o ter, aqui isto atenção, merece alguma reflexão e algum respeito. A minha geração e a geração um bocado pouco anterior à minha, nós habituámo-nos a pensar que somos só cidadãos de direitos e esquecemo-nos que temos que ser para sermos cidadãos de direitos também temos que ser cidadãos de deveres. Isto é, para receber é preciso também colaborar, é preciso também construir, é preciso também dar e têm de dar, têm de construir sobretudo quem está mais perto, não podemos estar à espera que o Estado resolva ou dê, se nós que estamos na proximidade não resolvemos, não damos, não construimos e por isso é que é respostas de subsidiariedade, quem está mais perto é quem é mais chamado a resolver os problemas. Quando é o Estado central ou local a vir resolver um problema local mesmo eminentemente local, normalmente resolve mal, com burocracia, com despesa e sem coração. Quando é o mais próximo provavelmente resolve melhor. São respostas de envolvimento. Normalmente estas instituições, favorecem uma coisa muito bonita que é o envolvimento da comunidade, todos a interessarem-se pelo colectivo e interessa-se por muitas maneiras, até às vezes não só com a dádiva do tempo, não só liderando mas também partilhando os seus bens, a não ser que venha uma ASAE e impeça-lhes tudo, (Risos) mas de qualquer modo é importante este envolvimento da comunidade, aliás até ajuda a dar um sentido à detenção de bensA partilha dos bens é de facto muito importante, e ela é de algum modo favorecida por estas instituições. São instituições com inovação e pensamento, às vezes pensamos que são instituições só de caridadezinha, de responder às coisinhas mais ou menos, eu devo-lhe dizer que há neste momento em Portugal em algumas áreas em concreto uma grande evolução de qualidade de vida exactamente porque nestas instituições há inovação, há pensamento. Devo partilhar convosco uma pequena experiência, não pessoal, há 30 anos atrás quem tinha um determinado tipo de deficiência congénita em princípio não tinha mais esperança de vida do que os 18 anos. Com o trabalho que se está a fazer nestas instituições sobretudo e por exemplo de apoio ao cidadão diminuído mental, neste momento a esperança de vida nesse mesmo tipo de cidadãos passou de 18 anos e já está em cerca de 31/32 anos, claro que isto traz um outro problema, recordo-me de uma mãe, minha companheira na direcção da CNIS, que me acompanhava para as reuniões, ela tinha um filho com esse tipo de deficiência e dizia-me “Padre, não imagina a alegria que sinto” porque com esta nossa dedicação, o filho dela na altura já tinha 29 anos, quando ele nasceu a esperança de vida era 18, tem já 29 anos e ainda vai viver mais alguns e viveu exactamente mais 2 anos, e diz ela “não imagina a alegria que sinto mas também a angústia, eu não queria que eu morresse antes dele”, uma mãe dizer isto é um bocado duro, porquê? Qual será o futuro deste meu filho sem a mãe a apoiá-lo. Claro que há também inovação nestas instituições, quando este tipo de problemas se põe também há-de haver, surge um outro tipo de resposta e para este tipo de cidadãos também já estão a ser construídos lares com causa, etc... para que faltando os pais haja de qualquer modo uma retaguarda de apoio. São instituições que de facto não estão ainda muito a viver em comunhão, em rede, mas é importante que exercitem o trabalho em rede. E quando eu digo o trabalho em rede é por muitas razões, até às vezes pela a economia de recursos, mas não apenas pela economia de recursos, os problemas são cada vez mais pluridisciplinares e portanto se estas instituições trabalharem em rede, mais facilmente encontram respostas para as pessoas, respostas para as várias situações. Estas instituições são como disse, muito importantes na acção social em Portugal, mas desafiaram-me para vir aqui para falar de um problema concreto na sociedade em Portugal, que é o combate contra a pobreza. Eu devo dizer, e sem qualquer medo de errar, que neste momento quem faz mais em Portugal no combate à pobreza, não são às vezes determinados subsídios que se prestam e que são importantes, não vou aqui pôr isso em questão, talvez atenuem as manifestações da pobreza mas não resolvem de facto a montante o problema da pobreza. Vão atenuando manifestações de pobreza, mas não combatem a pobreza. Agora estas instituições na medida em que apoiam crianças e jovens e idosos e pessoas com deficiência, sobretudo apostando na educação que é um tema que eu vou pegar a seguir, estão de facto a combater eficazmente a montante a pobreza, estão a ajudar com que haja menos pobres e com que digamos, alguns pobres não leguem aos seus vindouros o estigma da pobreza. Quando nós falamos de pobreza podemos estar a falar de muitas coisas. O pobre em Portugal neste momento é aquele que, em princípio, vive com menos de 60% do rendimento médio de Portugal, o que significa que neste momento nós temos em Portugal cerca de, (os números vão variando) de 20% da população portuguesa. Depende de quem apresenta estes números, uns dizem 18 outros dizem 20, outros dizem 21, podemos dizer que 20% da população portuguesa de facto vive pobre, com menos de 60% do rendimento médio português, o que significa que 80% dos portugueses vivem com menos de 360 euros mensais. Claro que, há momentos dizia que os subsídios são importantes talvez não eliminem a pobreza, talvez atenuem algumas manifestações da pobreza, mas, é consensual que se não houvesse esse tipo de subsídios por exemplo RCI, por exemplo complemento solidário para idosos, por exemplo o apoio no desemprego, se não houvesse este tipo de subsídios não seria 20% da população a viver na pobreza, mas muito provavelmente tinhamos 40% do povo português a viver de facto na pobreza, é consensual que teríamos mais o dobro de pobres em Portugal. Quem são os pobres em Portugal? Nós temos vários tipos de pobreza, e eu aqui vou sublinhar alguns aspectos, quando falamos de pobreza, falamos de muitas situações, falamos naquela pobreza hereditária que há momentos falei, o que é a pobreza hereditária. Mas muitos pobres são pobres porque são filhos de pobres e porque a única riqueza entre comas que vão legar aos seus herdeiros é também a pobreza, é um facto que quem é filho de pobre tem muito mais probabilidades de se manter pobre e de legar a pobreza aos seus herdeiros do que noutras circunstâncias, e a pobreza hereditária, diria assim, é bastante significativa em Portugal, mais localizada em algumas zonas no que outras mas é bastante significativa. Temos também aquilo que eu poderia chamar a pobreza circunstancial, o que é que eu considero por pobreza circunstancial, aquela pobreza que é um bocado a consequência de se viver em determinadas situações, zonas deprimidas, zonas de demasiada concentração, bairros sociais, esta é também uma pobreza circunstancial, claro que muitas vezes, isto não é com compartimentos estanques, muitas vezes os que vivem nestas situações, nestes nichos, são exactamente aqueles que já herdaram a pobreza e aqueles que vão legar a pobreza aos vindouros, mas de qualquer modo, o viver numa zona deprimida e numa zona de demasiada concentração, tipo bairro social, isso pode de facto tornar mais, mais possível digamos assim, a pobreza. Depois há a pobreza dos frágeis, digamos assim, de populações especialmente fragilizadas, quem é que eu cito nestas circunstâncias, os idosos e em Portugal, os idosos são um nicho muito significativo de pobres, muito embora haja reformas e apoios e complementos solidários para idosos, mas nós sabemos que de facto os idosos são uma população bastante fragilizada, os imigrantes e quando digo imigrantes digo imigrantes com I, porque até muitas vezes e esta é uma realidade que neste momento estamos a viver cá em Portugal, alguns desses imigrantes, Portugal não é propriamente o país de imigração com I, é mais de emigração com E, saída do que entrada, mas de qualquer modo, houve muitos que vieram há 10 anos, 20 anos atrás seduzidos pela entrada de Portugal na Europa, muitos de fora que entretanto aqui não encontraram trabalho ou tiveram trabalho temporário, ficaram cá, não foram integrados. É uma população bastante fragilizada, mais, crianças e jovens em risco e quando se fala de crianças e jovens em risco, não estamos a falar de números muito insignificantes. Cada vez mais, temos crianças e jovens em risco por determinadas circunstâncias, famílias desestruturadas e as tais famílias na pobreza hereditária ou circunstancial e portanto temos mais situações de pobreza de crianças e jovens em risco, aliás sabeis que nas instituições que atrás mencionava de apoio a crianças, temos instituições, bastantes, (passam de 100), de apoio a jovens em risco e neste momento concretamente em Portugal, se está a diminuir o número de crianças e jovens nas instituições de acolhimento, não nos iludamos com a leitura destes número, é que de facto há menos bébés, digamos assim, a entrar nestas instituições mas há mais pré-adolescentes e adolescentes com antecedentes já problemáticos a entrar nestas instituições. Portanto há uma diminuição de entrada de crianças na primeira infância, há um aumento de entrada de pré-adolescentes e adolescentes nestas instituições com os problemas que vêm daí, por exemplo muitas destas instituições não foram criadas para este tipo de situação, foram mais para os bébés, órfãos, pobres mesmo na primeira infância e o tipo de problemas que trazem estes pré-adolescentes que trazem a estas instituições são problemas novos e estas instituições não têm capacidade muitas vezes para enfrentar este tipo de situação. Mais, temos em relação a estes frágeis, os portadores de deficiência e as pessoas que são de facto dependentes, toxicodependentes, é uma população fragilizada, não apenas toxicodependência mas outros problemas do género como alcoolia ou alcoolismo, etc., tornam de facto estas populações fragilizadas. Depois há os novos pobres que é aquele fenómeno que estamos agora a constatar sobretudo de há 3 anos a esta parte que vêm aumentando de mês para mês e quem são esses novos pobres? São aqueles que ontem já estavam excessivamente endividados e hoje são desempregados, o que é que isto quer dizer? Há muitas pessoas que já ontem quando chegavam ao fim do mês tinham o seu vencimento comido pelas dívidas que contraíram e agora se estão desempregados ainda estão mais fragilizados do que estavam ontem, e não são tão poucos como isto. Vão aumentando e todos vós constatais e eu sei que há jovens com certeza que até entre vós que apoiais por exemplo pessoas sem-abrigo e aquilo que estamos a constatar presentemente nos sem-abrigo é que ao lado daquela população normal de sem-abrigo aparecem-nos pessoas que vão pedir uma refeição na calada da noite até às vezes no seu carro, vão pedir uma refeição durante o dia e vão pedir até uma roupa ou algumas coisas, esses são os novos pobres que estão a aumentar muito significativamente de dia para dia. Claro que há olhares que nós podemos lançar para este fenómeno, eu gostava só de vos desafiar a lançar alguns olhares. Em primeiro lugar é evidente, e aqui desculpai eu também sou padre e com muito gosto e da Igreja Católica não posso ignorar, não venho aqui fazer proselitismo, mas não posso ignorar um documento da Igreja Católica, do Papa em concreto, e que nos lembra que a pobreza é sempre sintoma de injustiça. Não podemos olhar para a pobreza e cruzar os braços e encolher os ombros. Onde há pobres, há injustiça. Não vamos agora discutir que tipo de injustiça, mas onde há pobres há injustiça e há injustiça porque pode haver por exemplo isto, (e em Portugal é de facto uma realidade), normalmente acentuámos mais num aspecto que é a deficiente produção de riqueza, a questão da produtividade, às vezes acentuamos este aspecto, claro que convém que lancemos vários olhares sobre este fenómeno da produtividade, mas de qualquer modo isto acontece, mas não é só a deficiente produtividade, deficiente produção de riqueza, há também uma deficiente distribuição de riqueza, eu penso que é importante que nós de facto tenhamos a coragem de ler estes fenómeno, e todos vós sabeis, isto é um facto que se vai avançando continuamente em Portugal o fosso entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco ou nada vem-se agravando de ano para ano. Isto significa que há uma deficiente distribuição da riqueza. Há também outros fenómenos para os quais convém olhar e uma questão (nós estamos aqui nesta zona do interior português), vemos também que há zonas do país que estão a ser claramente ostracizadas. O nosso interior por exemplo está a ser claramente ostracizado. Claro que não é fácil, aqui por exemplo nós podíamos convidar as instituições de solidariedade a fazerem coisas muito bonitas para que o nosso interior não ficasse tão, não estivesse tão deprimido e de cada vez mais deprimido. Provavelmente, estas instituições podiam fazer bastante mais se fossem apoiadas por uma reactivação por exemplo da economia, de actividades económicas no interior, para um rejuvenescimento da população no interior porque de facto o nosso interior está deprimido, falta de actividade económica, causa efeito, também por um envelhecimento crescente das populações e por outras circunstâncias mais. São necessárias medidas de combate à pobreza, podemos olhar para aquelas medidas que podíamos considerar mais assistencialistas e aqui pego numa ideia que já fui avançando anteriormente. Há medidas que eu posso considerar mais assistencialistas, o que é que considero medidas mais assistencialistas? Não eliminam de facto a pobreza, atenuam é as manifestações da pobreza e nessas medidas assistencialistas nós podemos falar da subsidiação, é uma opção normal da política, normal nos agentes políticos é a subsidiação, até por um efeito perverso, subsidiando-se nós fidelizamos clientes, fidelizamos votos, mas não é só esse efeito perverso. Não podemos pura e simplesmente condenar à partida a subsidiação e em muitos casos, a subsidiação é capaz de ser a única coisa que se pode de facto fazer e que se deve fazer, mas estas medidas como o rendimento social de inserção, o complemento solidário para idosos e outras medidas, em muitos casos são absolutamente necessárias, mas provavelmente em muitos outros não resolvem o problema da pobreza, a seguir vou retomar esta ideia. São precisas medidas de inclusão social para irradicação da pobreza e para promoção da autonomia e quando falo de medidas para irradicação da pobreza e promoção da autonomia eu situo sobretudo quatro opções que têm que ser feitas. A primeira é preciso que o combate à pobreza seja assumido como um desígnio da sociedade. De facto não tem sido e é preciso que seja assumido como um desígnio na sociedade., Há bocado dizia que a pobreza é sempre manifestação de injustiça, nós não podemos (sejamos agentes políticos, sejamos agentes económicos, sejamos agentes religiosos, sejamos cidadãos numa palavra), ficar indiferentes perante este fenómeno de pessoas que não vivem com suficiente e que vegetam à procura da morte. É preciso assumir o combate à pobreza como um desígnio nacional e este desígnio nacional deve ter pelo menos, quatro itens, quatro eixos. O primeiro é absolutamente necessário de facto em Portugal, em Portugal mesmo, um apoio à família. Na família é de onde tudo começa e é onde tudo vai cair. Uma família destruturada, uma família não apoiada, é uma família muito provavelmente construtora de pobreza, uma família que atira para o risco mais pessoas. É preciso que haja de facto apoio à família, isto não pode ser uma ideia que se atire assim para o ar, tem que ter componentes e eu ponho muito em causa algumas iniciativas e aqui não estou a pensar nesta área ou noutra área, desta cor ou de outra cor, mas não tem havido um suficiente apoio à família. É preciso também que haja uma clara aposta na educação e aqui meus caros sei que estou com construtores do futuro, eu tenho sublinhado muito isto, é importante uma aposta clara na educação e quando eu digo uma aposta clara na educação, educação logo a partir dos primeiros meses de vida. Uma criança filha da pobreza, mas se tiver por exemplo acesso a uma creche onde haja projecto educativo, provavelmente terá um melhor futuro, para um futuro de maior autonomia do que uma criança que nasce pobre e só vai chegar há escola aos seis anos, porquê? Porque a criança que chegue à escola só aos seis anos vai já sentir de facto alguma inadaptação, algum desenquadramento, vai encontrar outras crianças que já andaram em creches, em pré-escolar e que tem outra condições, e portanto aquela criança que chega aos 6 anos sem ter percorrido uma creche ou ter um bom ambiente familiar e sem ter percorrido um pré-escolar, sente-se marginalizada, é uma criança que vai abandonar precocemente a escola e fatalmente ou quase fatalmente será um pobre no futuro. A aposta na educação logo a partir de creche é de facto fundamental, mais, é também muito importante e aqui volto a repetir falo com agentes de futuro, é preciso também olhar-se ao meio físico em que vivem as pessoas, uma criança ou uma pessoa que viva numa casa sem condições ou num gueto de um bairro social, provavelmente tem menos condições de futuro do que se viver em circunstâncias melhores e por isso meus caros, provavelmente não será necessário fazer muitos mais bairros sociais, provavelmente será conveniente alguns implodirem e fazer-se menos bairros sociais ou pelo menos mais disseminados, e com melhores condições. É evidente que uma criança que nasce num bairro social numa casa sem, por exemplo, água quente, etc… é uma criança que não vai ter futuro fatalmente. Conheceis aquela expressão "O homem é o seu ser e a sua circunstância", é preciso olhar às circunstâncias em que muitas crianças nascem e crescem e é preciso intervir, às vezes há autarcas que hoje já não precisam de fazer mais como vias de comunicação, provavelmente já não terão que fazer mais rotundas e interrogar-se-ão sobre que fazer. Eu penso que intervir nestas condições físicas de vida das pessoas é de facto um grande desafio para de facto combatermos a pobreza. Mais, é preciso que haja de facto uma grande aposta no empreendedorismo e esta aposta no empreendedorismo é evidente meus caros que se pode fazer de muitas maneiras, mas também com um envolvimento da comunidade, por exemplo era capaz de ser muito interessante que aquelas crianças que andam, não digo na creche, mas por exemplo no infantário e na escola para além da iniciação às letras e a outras coisas também fossem iniciadas aos valores, aos verdadeiros valores e também de algum modo fossem iniciadas às actividades que existem no meio, às iniciativas do meio, ao empreendedorismo do meio. Uma criança que se habitua a ver desde pequena, o maior a lançar-se e a construir o seu futuro é uma criança que provavelmente será mais empreendedora. Estes para mim são os quatro grandes eixos num combate à pobreza que deve ser assumido como um desígnio nacional,  eu recordo-vos novamente, apoio, aposta, apoio à família, aposta na educação, aposta na intervenção, no meio físico e aposta no empreendedorismo. Haverá naquilo que acabo de dizer alguma crítica, porque é uma questão actual, vós com certeza que já muitas vezes pensastes sobre ela. Há subsídios que ajudam a atenuar as manifestações de pobreza não erradicam de facto a pobreza mas, o que é que eu penso por exemplo do complemento solidário ou melhor do rendimento social de inserção? Nós sabemos que em Portugal neste momento em números redondos há cerca de 386 mil beneficiários do RSI, estes números não devem estar muito desactualizados porque com as novas medidas de rigor há alguns que estão a deixar de receber o RSI, entretanto há outros que estão a começar a receber. Claro que o RSI não é aquilo que se recebe, não é o suficiente para uma vida digna, não ajuda a pessoa a passar, da pobreza a uma vida de facilidade, atenua os efeitos da pobreza. Em determinadas circunstâncias o RSI é de facto importante é sempre importante mas é capaz de ser fundamental em algumas situações quando a pessoa que dele precisa não pode ter de facto o acesso a uma vida de autonomias, há deficiências, há outras situações em que o RSI será um subsídio para a eternidade, não deve ser entretanto o normal no RSI essa vocação, deve ser um complemento para inserção social. Aliás, prefiro esta designação de RSI à outra que tinha anteriormente que era o rendimento mínimo garantido. No governo do Durão Barroso adoptou-se esta designação de rendimento social de inserção e a vocação deve ser na maioria dos casos, deve ser de facto para inserção social, para isso é importante que haja um grande acompanhamento dos beneficiários do RSI, uma grande produção de autonomia dos beneficiários do RSI. No último relatório sobre os beneficiários de RSI dizia-se que houve cerca de 500 mil acções de apoio aos beneficiários do RSI, o que significa que cada beneficiário do RSI beneficiou de uma acção e meia de apoio, acção e meia, porque se eram 386 mil os beneficiários e houve 500 mil acções de apoio de acompanhamento, parece que estamos a falar de um número óptimo, não é esta porém a minha leitura, para essas 500 mil acções de apoio aos beneficiários de RSI, contou-se tudo, contou-se por exemplo a vacinação, a inscrição na escola, o levar o beneficiário a um centro de saúde, acções de formação para a vida autónoma, para a actividade autónoma. Para actividade profissional apenas 3%, destas 500 mil apenas 3%, o que significa que os beneficiários do RSI precisam de facto de muito estímulo, acompanhamento quase personalizado, para que deixem de ser beneficiários do RSI e passem a ser cidadãos de pleno direito integrados na sociedade com vida autónoma. Claro que isto leva a grandes opções. Contrariamente ao que se passa noutros países por razões óbvias, não vou dizer que nós é que somos os coitadinhos mas temos provavelmente bastantes subsídios, não temos acção directa de acompanhamento dos beneficiários, é preciso uma acção directa de acompanhamento e provavelmente estes beneficiários do RSI nunca mais são muitos deles, nunca mais serão trabalhadores por contra de outrém, serão trabalhadores para serem autónomos por conta própria, por isso precisam de um apoio muito personalizado, um apoio muito directo, não é com um técnico a apoiar cento e tal beneficiários do RSI, não é assim que se vai promover autonomia, provavelmente é com o envolvimento da comunidade com acções mais directas. Nós devemos acreditar de facto no futuro e eu repito aquilo que dizia no princípio, eu estou encantado com esta iniciativa e com o vosso envolvimento nesta iniciativa, vós sereis de facto construtores de um futuro melhor e não tenhamos dúvidas, se vós contribuirdes e irdes contribuir para que haja menos pobreza em Portugal estareis a contribuir para que haja mais justiça e estareis a deixar Portugal melhor do que aquilo que encontrastes. Eu aqui devo lembrar uma expressão de Luther King que não posso terminar sem a citar "Um dia…", dizia Luther King, prémio Nobel da Paz, "Um dia os jovens aprenderam palavras que não compreenderão, as crianças da Índia vão perguntar, o que é a fome? As crianças do Alabama, questionarão o que é a segregação racial? As crianças de Hiroxima se assombrarão, o que é a bomba atómica? e as crianças na escola vão indagar o que é a guerra? E tu lhes responderás, tu lhes dirás, são palavras que não se usam mais, como as diligências, as galeras, ou a escravidão, são palavras que nada exprimem, essa é a razão por que foram retiradas do dicionário. Espera-se que sejais os construtores deste futuro”.

( palmas )

 
Duarte Marques

Muito bem, vamos começar, vamos dar início ao período de perguntas e respostas, eu antes de dar a palavra à Marina Macedo do grupo castanho que vai fazer a primeira pergunta, gostava de lhe dizer uma Sr. Padre, gostava de lhe dizer com o maior respeito e com todo o gosto e sobretudo com muita honra de o termos aqui, que ao longo da vida temos conhecido muitas pessoas e trabalhado com muita gente, e o Sr. Padre é para nós e para mim pessoalmente e para a JSD também, vamos convidá-lo em breve para outros eventos, é uma referência sobretudo pela sua humildade e pela sua discrição e sobretudo pelo espírito de sacrifício e que consegue colocar por equipas pequenas e grandes a trabalhar da mesma forma todas sem olhar para o lado, e olhando sempre para a frente, e há muita gente do Porto que fala muito de si, muitos jovens da JSD, alguns colaboraram consigo mais de perto e esse testemunho tem chegado a nós por essas pessoas, é por isso que sabemos dos diabinhos e coisinhas todas! Agora vai falar a Marina Macedo que é do Porto e conhece muito bem também a sua obra, muito obrigado Sr. Padre por estar aqui.

 
Mariana Ferreira Macedo

Muito boa tarde a todos, como o Duarte Marques já teve a oportunidade de referir é com especial agrado que me dirijo aqui hoje ao Sr. Padre Lino Maia, sou do concelho do Porto, tenho acompanhado muito de perto a obra que tem realizado e portanto deixo aqui um bem-haja por tudo o que tem desenvolvido e que tem feito em prol da sociedade. O Exmo. Sr. Reitor da Universidade de Verão conotou-nos hoje com a característica diabinhos, como não podemos ter só a fama, mas também temos de ter o proveito, aproveito para, desculpem a redundância, para perguntar ao Sr. Padre se considera que o princípio da subsidiariedade tem sido respeitado pelo Estado? Em consequência do trabalho desenvolvido pelas IPSS´s, creio que já foi referido anteriormente noutras palestras que este governo do Eng. José Sócrates tem tido um papel persecutório em relação às IPSS´s com um maior enfoque das que são da Igreja Católica, como é que eventualmente vê isso, as suas repercussões e se considera que há uma medida discriminação positiva relativamente à Santa Casa da Misericórdia? Muito obrigada.

 
Pe.Padre Lino Maia

Quanto ao princípio da subsidiariedade eu devo-vos dizer muito simplesmente isto, às vezes à atropelos de facto a este princípio. Não vou dizer que vai  deixar de existir, por vezes ainda há um bocado desta cultura em Portugal e não apenas em Portugal, o Estado tem o dinheiro e portanto chama a colaborar quem quer, o Estado não tem dinheiro, o Estado cobra impostos não é? E deve distribuir, eu penso que as IPSS’s não podem ser toleradas e os cidadão em geral não podem ser tolerados apenas, têm que ser encarados como os primeiros construtores. Quem está mais perto é quem tem mais capacidade, e pelo menos tem o coração mais capaz de reagir do que quem está mais longe, o Estado é sempre a última e aqui eu devo dizer, em última instância, eu aqui devo dizer que o Estado tem competências e deveres de que não se pode alhear. Em primeiro lugar deve conhecer e reconhecer quem actua, deve apoiar quem actua, deve promover a coordenação de quem actua, deve regular na actuação e deve suprir quando não há quem actue. Penso que às vezes de facto há aqui um atropelo, eu devo citar um caso concreto, foi o que se passou e condeno, e acompanharam com certeza, foi o que se passou em relação ao ATL, é o que se está a passar agora em relação a centros escolares, quando alguém faz deve ser apoiado, conhecido, reconhecido e apoiado, se não há quem faça, o Estado deve apoiar para que apareça alguém a fazer e se não aparece ninguém a fazer, o Estado então tem que criar. Penso que não tem havido uma boa interpretação do princípio de subsidiariedade. Quanto às IPSS da Igreja Católica, eu quando disse e é um facto, 41% das instituições são da Igreja Católica e muitas outras têm o espírito cristão, porque o povo português podemos não ser católicos, podemos ser agnósticos, mas a nossa cultura e não nos podemos alhear da nossa cultura, a nossa cultura é cristã, judaico-cristã, não podemos ignorar isso. Em alguns momentos, parece-me que há alguma, inveja por a Igreja fazer tanto e tão bem. Às vezes parece-me que é aí essa inveja e por isso é que há algum atropelo, tem sido um combate que nas negociações eu tenho desenvolvido, é uma razão até porque é importante nós temos a CNIS que eu lidero, que representa todas as instituições da Igreja e não da Igreja, das duas 2700 IPS’s da CNIS, cerca de 40% são da Igreja Católica, mas o estar á frente um padre, podia ser um leigo e espero que a seguir a mim seja um leigo, mas o estar à frente um padre que representa todas (e tenho instituições agnósticas, até que em princípio até poderão ser contra a Igreja), tem ajudado diluir algum ciúme, alguma inveja, tem ajudado a diluir, nem sempre com facilidade, nem sempre com facilidade. As misericórdias, as misericórdias, nós temos em Portugal cerca de 380 misericórdias, só uma misericórdia é que não é ligada à Igreja que é a exactamente a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Essa é estatal. As outras são ligadas à Igreja, são associações privadas de fiéis ou associações públicas, considero associações privadas de fiéis mas sempre com o espírito Cristão.

 

 
Duarte Marques
Muito obrigado, Cátia Madeira do grupo encarnado.
 
Cátia Madeira
Boa tarde Sr. Pe. Lino Maia. Tive muito gosto em ouvi-lo devido à importância do tema, para mais que este ano se assinala o Ano Europeu da Luta contra a Pobreza e Exclusão Social. Acha que as políticas aplicadas no contexto do combate à pobreza nomeadamente ao RCI, têm sortido o efeito de decréscimo da pobreza e se sim nesse caso, se deve manter? Obrigada.
 
Pe.Padre Lino Maia

O RCI como disse para mim, em algumas situações, é um subsídio para a eternidade, e deve ser um subsídio para a inserção social para a autonomia. Eu considero muito positiva a experiência francesa, que não se corta imediatamente o correspondente ao RCI ao beneficiário correspondente do RCI, vai-se cortando à medida em que o seu rendimento na inserção social, profissional é superior em x % ao RCI. Julgo que essa experiência francesa devia ser importada para Portugal, penso que as iniciativas deste ano na luta contra a pobreza são mais de folclore, mais de fachada do que combate eficaz à pobreza. Houve bastantes candidaturas para este ano europeu de luta contra a pobreza, mas a maior parte das que foram aceites, as candidaturas são de show off, portanto promoção de seminários, apresentação de estudos etc., de show off, agora para combate eficaz à pobreza, poucas foram as aceites, eu julgo que aqui (desculpai defender a minha dama) mas a iniciativa que a CNIS está a promover que é de facto trabalhar com os beneficiários do RCI e tenho o apoio de associações empresariais e fundações ligadas a empresas, no sentido de levar os beneficiários do RCI a criarem a sua própria actividade económica é uma iniciativa muito interessante, reparo que há pessoas que já agora começaram por exemplo a consertar sapatos, a fazer croquetes, etc., a coser a roupa e cada vez mais nós vamos caminhar para aí. A roupa há dois anos atrás comprava-se nos saldos e deitava-se no contentor sem a usar, agora as pessoas já começam a fazer contas e talvez comecem a usar uma roupa usada, não é? E nada como arranjar quem a conserte. Estas iniciativas, pequenas iniciativas, mas são grandes iniciativas e essas é que ajudam de facto a erradicar de facto a pobreza.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, João Antunes dos Santos do grupo cinzento.
 
João Antunes Santos

Começo por cumprimentar em nome de todo o grupo cinzento, toda a organização da Universidade de Verão na pessoa do Sr. Director Carlos Coelho, cumprimento de forma especial e calorosa o convidado, o Sr. Pe. Lino Maia, que aqui representa centenas dirigentes associativos que diariamente dedicam as suas vidas às causas sociais. O Sr. Padre numa entrevista disse que “A eficácia e a eficiência devem estar garantidas”, referindo-se às associações de cariz social, também o Dr. Vieira da Silva quando era Ministro da solidariedade social deu uma entrevista onde disse, que “o sector social não tinha como fim o lucro, mas também não podia dar prejuízo”. Sabendo nós que os privados buscam melhor a eficiência e a eficácia tem uma gestão mais rigorosa, ao contrário do sector público que se acomoda e tem resultados deficitários, tendo em conta a sua experiência, diga-nos o que funciona melhor, as instituições geridas por privados e reguladas pelo Estado ou as instituições legalmente públicas e acha que estas instituições de solidariedade social algum dia podem vir a ser auto-sustentáveis?   Obrigado.

 
Pe.Padre Lino Maia

Eu penso que devemos caminhar para a auto-sustentação destas instituições. Nunca devem ser totalmente digamos independentes do apoio do Estado. O Estado cobra os impostos e portanto tem um poder digamos moderador e regulador e diminuidor das tensões, ainda que uma instituição pudesse funcionar sem o apoio do Estado não devia prescindir dele. Mas também não deve estar tão dependente do Estado como está presentemente. Penso que deve-se caminhar para a promoção de iniciativas para a auto-sustentação das instituições. Eu não vejo o sector lucrativo privado, lucrativo como o mal da fita e o público como o bom da fita, às vezes parece que o que é público é bom, o que privado é mau porque procura lucro e as IPSS´s estão assim um bocado no meio-termo, portanto, não são boas nem más. Julgo que temos que procurar que haja rigor nas instituições de solidariedade e rigor no Estado. O grande problema e aquilo que se está a passar e a discussão que vós tendes feito e deveis continuar a fazer, por exemplo sobre o Estado Social e por exemplo sobre o Serviço Nacional de Saúde, etc. . Penso que é importante que nós não sejamos tão dogmáticos em algumas afirmações, às vezes aquilo que é público está um bocado mal gerido, há exames a mais, há coisas a mais, há gastos a mais, é muitas vezes o problema do público, é preciso que haja rigor. Nas IPS é importante que os dirigentes sejam rigorosos também, porque também às vezes pensa-se um bocado, enfim sou voluntário, dou tempo que quiser, tem de haver rigor, tem de haver rigor. O não haver lucro, temos de ser moderados quando falamos em lucro. Uma IPS não tem que chegar ao fim do ano com saldo a zero, não é? Não é possível, não é gerir uma instituição assim, é possível e é necessário que haja sempre um excedente, porque há sempre uma eventualidade, há sempre uma necessidade da promoção, de um investimento etc... O lucro que acontece, ou o excedente que não é distribuído pelos sócios, é para investimento na própria instituição e portanto e não há mal nenhum, pelo contrário e mesmo o que precisamos é de um novo regulamento jurídico, um novo, é preciso olhar um bocado ou todo o substrato jurídico que apoia este sector, é preciso que estas instituições criem formas de auto-sustentação mas que entretanto não podem ter, digamos assim, uma concorrência desleal com o sector lucrativo propriamente dito. Elas beneficiam de determinadas isenções e portanto se vão criar formas de auto-sustentação devem funcionar como as outras empresas lucrativas e portanto têm que pagar impostos, têm que estar colectadas, etc. Agora, a receita, do produto, o lucro dessa actividade é que reverte em favor dessa instituição e não em favor dos sócios, mas temos que caminhar para aí.

 
Duarte Marques

Muito obrigado Sr. Padre, Inês Carvalho de Sá do grupo roxo.

 
Inês Carvalho Sá

Boa tarde a todos, em nome do grupo, cumprimento a mesa em especial o Sr. Pe. Lino Maia, efectivamente as palavras do Duarte são certeiras pela humildade e generosidade com que comunica é efectivamente um prazer ouvi-lo. Tendo em conta a sua longa e larga experiência nesta área e tendo em conta também as medidas de combate que o Sr. Padre considera neste momento mais eficazes e que elencou, eu gostaria de perguntar-lhe se considera nomeadamente o apoio à família e o apoio à primeira infância, se considera que em Portugal actualmente, nós já trabalhamos efectivamente na prevenção, portanto na primeira infância ou continuamos a resolver os problemas da delinquência da exclusão e da pobreza tarde de mais e junto de uma faixa etária acima dos 25, cujos resultados são obviamente muito diferentes dos resultados que obtemos quando trabalhamos na prevenção?  Muito obrigada.

 
Pe.Padre Lino Maia

A minha resposta é de facto fácil, nós ainda estamos a funcionar muito a jusante e não a montante não é? e portanto, temos de apoiar de facto, de facto a família. Temos de apostar, de facto, na educação, aquilo que eu dizia há bocado mantenho, uma criança que chega aos seis anos à escola, sem ter passado por uma creche, ou pelo menos por um infantário, se é uma criança pobre, ela vai legar o estigma da pobreza aos seus herdeiros e mais, já ainda como criança, começa a ser muito provavelmente um factor de insegurança. Nós já vemos em muitos meios pré-adolescentes a agruparem-se para alguma delinquência, não podemos enfiar a cabeça na areia. Claro que não vou dizer que com creche vamos resolver o problema todo, é sempre necessário medidas, também correctivas não vamos ter medo de dizer isto. Quando um pré-adolescente está na pré-delinquência, não é só com beijos e carícias que ele se educa às vezes é preciso acções correctivas. Estas nossas instituições de acolhimento, não terão vocação para esse tipo de situações porque devem às vezes ser instituições correctivas e não apenas de acolhimento e por isso é, são necessárias medidas, eu portanto concordo consigo, estamos ainda bastante a jusante e pouco a montante. Apoio à família, aposta na educação e logo a partir da cresce, é fundamental.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, Maria João Transmontano do grupo bege.
 
Maria João Transmontano

Muito boa tarde a todos, começo por cumprimentar em nome do grupo bege o Sr. Padre Lino Maia e agradecer-lhe a sua disponibilidade nesta aula que é tão importante nos tempos de hoje, cumprimento também o nosso reitor Carlos Coelho e o director adjunto da Universidade de Verão, Duarte Marques. A JSD lançou campanha de passaporte para o desemprego e uma maneira de o combater nos jovens faz-se através de estímulos da economia e principalmente através do empreendedorismo dos jovens e a pergunta do grupo bege é: Que tipo de medidas concretas devem ser tomadas pela Igreja e pelo Estado para chamarem a economia e apoiarem o empreendedorismo dos jovens?   Muito obrigado.

 
Pe.Padre Lino Maia

Eu penso que o grande trabalho que a Igreja tem de fazer é sobretudo nas zonas mais deprimidas que também por acaso, não é só por acaso, é onde a Igreja tem por vezes uma presença mais forte e talvez através das instituições e de outras organizações ligadas à Igreja Católica por exemplo através de Vicentinos. (Fazem coisas fabulosas os nossos Vicentinos). Aquilo que terão provavelmente de fazer é de reactivar actividades económicas abandonadas e que o sector lucrativo provavelmente não vai activar porque o sector lucrativo evidentemente olha imediatamente aos lucros, aos dividendos e às vezes a reactivação da actividade económica nestes meios mais deprimidos, só muito posteriormente é que vai ser rentável, durante bastante tempo não é rentável, e por isso tem que ser quem não olhe ao lucro. Penso que a Igreja Católica tem um trabalho muito importante a fazer, as instituições têm um trabalho muito importante a fazer e isso nas zonas mais deprimidas. Nas zonas de maior concentração social, bairros sociais, eu penso que aqui mais as instituições de solidariedade, (muitas são da Igreja Católica), no seu conjunto aquilo que terá a fazer é a promoção, da harmonia, nos bairros sociais, nas zonas de grande confluência social. O grande problema da instabilidade, e eu comparo-a por exemplo aquilo que se passa na zona do grande Porto e na zona da grande Lisboa, nas duas áreas metropolitanas, na área metropolitana de Lisboa há nos bairros sociais bastante mais instabilidade do que na área metropolitana do Porto muito embora a população residente da área metropolitana do Porto em bairros sociais seja maior 22% de as pessoas que vivem na área metropolitana do Porto, em bairros sociais, e em Lisboa não chega bem aos 20% e porque é que há mais insegurança num lado do que noutro? não é que as pessoas sejam melhores.... há várias razões, não  é que sejam melhores  as do norte que as do sul, não vamos entrar nessa questão, é porque de facto, na área metropolitana do Porto, temos mais instituições sociais mesmo nos bairros sociais a promover a harmonia, a coesão social, a empregar pessoas do bairro social, voltadas as pessoas para o bairro social com dirigentes também dos bairros sociais. Por exemplo numa obra diocesana de promoção social da cidade do Porto que tem actividade em 18 centros de 11 bairros sociais, cerca de 430 trabalhadores dos bairros sociais, mais de 4 mil quase 5 mil, 4800 utentes dos bairros sociais e muitas pessoas que vivem nos bairros sociais já foram também utentes nestas instituições, isto provoca uma grande harmonia, uma grande estabilidade não instabilidade, uma grande segurança, eu penso que o grande trabalho é exactamente este de procurar a harmonia no bairro social.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, Vanda Simões do grupo amarelo.
 
Vanda Simões
Boa tarde a todos, um cumprimento especial à mesa em particular ao Padre Lino Maia que muito nos honra com a sua presença, com as suas palavras e acima de tudo honra-nos também o trabalho de excelência, de nobreza e de autonomia das obras sociais da Igreja. Posto isto, gostaríamos de ouvi-lo, sobre aquilo que nos parece ser um paradoxo, e se calhar versa mais é mais afecto às organizações, esse paradoxo assenta no facto de uma multiplicação de organizações sociais de combate à exclusão social, de combate à pobreza, no discurso político encontra cada vez mais terreno fértil na pobreza, mas por outro lado não encontramos uma diminuição no número de pobres. Não estaremos nós, ou não estará a sobrevivência destas instituições dependente de uma certa perpetuação das carências a que socorrem porque se não deixam de ter razão de ser, porque depois como é que podem exigir subsídios ao governo se não cumprirem quotas. Não estará a pobreza a tornar-se nos dias que correm um negócio?   Muito obrigada.
 
Pe.Padre Lino Maia

Tenho gostado muito das questões que me têm colocado e agora esta que coloca não resisto a fazer uma citação dos anos 60 que foi muito mal interpretada. Recordo-me que nos anos 60 uma grande autoridade neste país, dizia que era “bom que houvesse pobres para que os ricos pudessem praticar a caridade”. Agora digo que às vezes perante algumas coisas que acontecem, apetece-me dizer que é bom que haja pobreza para que alguns não caiam na pobreza, o que é que eu quero dizer com isto? É que alguns fazem da luta contra a pobreza, não um objectivo altruísta, de coração mas um modo de vida. Gasta-se bastante dinheiro na luta contra a pobreza e os resultados não são eficazes por vezes, há muito show off, há muitos diagnósticos, há muitos seminários, há muitas coisas que se fazem que no fundo não atenuam mesmo a pobreza. Num encontro que tive com o Sr. Presidente da República há uns tempos, eu apresentava-lhe uns números ele foi mais radical nos números, aquilo que se destina à luta contra a pobreza, só em... eu dizia 50%, ele dizia menos, em menos 50% é que de facto contribui mesmo para a diminuição da pobreza, mais de 50% fica nos caminhos, no tal modo de vida. Ora eu penso e comparando um tipo de situações com outras, nós temos as instituições da Igreja, eu acho que é muito importante que nós tenhamos instituições da Igreja ao lado de outras instituições que não são da Igreja. As instituições da Igreja tem a lucrar muito com as instituições que não são da Igreja num aspecto em concreto, é que as instituições que não são da Igreja estão a apostar bastante, mas as da Igreja também, mas eu agora falo como grupo, não é? As que não são da Igreja estão a apostar bastante na qualidade, na formação e na qualidade, as instituições da Igreja apostam mais digamos, digamos na gratuidade não é? Eu penso que este cruzamento, as instituições todas precisam da qualidade da formação é fundamental, o que fazemos pelos pobres deve ter a melhor qualidade e com os melhores técnicos, o que fazemos pelos pobres, agora devemos fazer de facto com gratuidade. Por isso tem-se posto esta questão, os dirigentes têm que ser um bocado mais remunerados, dizem alguns, nesse dia quando isso acontecer, é evidente que eu deixo isto provavelmente deixarei antes porque só cá estar mais um ano nisto.... é conveniente dar lugar aos mais novos. Porque é que eu digo que deixaria isto se os dirigentes passassem a ser financiados, remunerados? Era a perversão deste sector, é preciso a gratuidade nisto, é preciso a gratuidade e não há, eu diria que, eu não estou totalmente, com total gratuidade nisto, o que eu exijo é uma compensação nisto, é por exemplo estar convosco é bom, para mim é bom, é encontrar o sorriso nas pessoas, não há nada que dê tanta alegria como ver uma criança a sorrir, ou um idoso a olhar para o seu passado com satisfação ou um deficiente a começar a ter alguma autonomia, isto é gratificante, não é? eu não estou com total gratuidade nisto, exijo compensação.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, João Passinhas do grupo rosa.
 
João Carlos Passinhas

Muito boa tarde, em primeiro lugar saudar a mesa, os digníssimos Duarte Marques vice-presidente da JSD e Carlos Coelho, Director da Universidade de Verão. Não posso deixar de dizer que me sinto feliz por agora não ter havido enganos em passarem-me a palavra... (Risos) Exmo. Padre Lino Maia, é para mim um orgulho e uma honra estar aqui na sua presença, o Sr. para mim é uma das pessoas que mais tem feito pelo esbatimento das desigualdades e das assimetrias em Portugal. As IPSS´s terão de continuar a corresponder aos diferentes problemas sociais, cada vez são mais, têm também uma importância relevante em alturas de crise como esta e além do mais, têm o ónus no desenvolvimento, na educação e na prevenção social, ou seja, são uma forma de não instigar possíveis criminosos que poderão advir destas alturas de crise por não terem pão para comer. Passando agora às questões, com as tendências economicistas do governo, tem-se verificado cortes cegos nos apoios sociais, 1200 euros é quanto custa um idoso por mês, num lar de uma IPSS, a comparticipação do Estado queda-se pelos 311 euros, o que é manifestamente insuficiente segundo assevera o cónego Francisco Crespo, presidente da CNIS. A CNIS é a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, perante isto questiono-o o que lhe apraz dizer acerca desta matéria, como indagou a opinião do cónego Francisco Crespo? Muito obrigado.

 
Pe.Padre Lino Maia

Quase que subescrevo na íntegra a opinião dele. Eu penso que, em relação aos lares de idosos e não apenas aos lares de idosos, a muitas das instituições de solidariedade, nós temos que reestudar um modelo de cooperação com o Estado, neste momento e mesmo importante que estudemos e vós de certeza que hei-de ser agentes nesse estudo. Neste momento os utentes das instituições de solidariedade são apoiados da mesma forma independentemente da sua situação social e independentemente do meio em que vivem. Uma instituição de solidariedade no interior tem custos diferentes que tem uma instituição social, por exemplo nas grandes cidades. Nas grandes cidades há zonas diferentes, há meios favorecidos e há meios mais desfavorecidos, uma instituição de um bairro social é apoiada da mesma maneira que é apoiada uma instituição de um meio mais favorecido. Temos que reestudar o modelo de cooperação, é preciso que aqueles que podem contribuir, que podem pagar os custos da frequência paguem mesmo, paguem mesmo, não há problema nenhum em dizermos isto, paguem mesmo, para que aqueles que não podem pagar, tenham acesso à frequência da instituição. Porque a instituição tem que pagar os vencimentos, tem despesas, e portanto se não tem receitas, não pode prestar os mesmos serviços sobretudo aqueles que são o seu público mais privilegiado, são os mais carenciados. Claro que aqueles que podem pagar não serão muitos, mas há provavelmente alguns que podem pagar os custos e se esses podem pagar, então a instituição pode abrir as portas a mais carenciados que é de facto a sua vocação. Agora vai mudar um bocado, mas a soma daquilo que o Estado dá à instituição, com a contribuição do utente nunca pode ultrapassar o custo médio da frequência, ora imaginemos, falou de números, estão de algum modo correctos, se a frequência do lar de idosos anda à volta, (é discutível, depende do meio, disse eu há bocado de Setúbal e Viseu é onde fica mais barato o lar de idosos), o custo médio é neste momento o que anda ali perto do Porto que fica perto de 900 euros por mês há um ano. Se um que pode pagar na íntegra os 900 euros, pagar e não poder ser o limite máximo de 500 e tal porque o Estado paga 300 e tal, mas se pagar os 900 euros, então a instituição pode abrir a porta a mais que não podem pagar nada. Eu penso que é, este é de facto o grande desafio, o modelo de cooperação está em debate, está em estudo, eu tenho-me batido um bocado para avançarmos nesse sentido, acredito que se caminhe, acredito que se caminhe e tem-se que caminhar espero que vocês estejam a caminhar nesse sentido.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, António Dias do grupo verde.
 
António Dias

Boa tarde a todos, em nome do grupo verde gostaria de cumprimentar todos os elementos da mesa e de saudar e extraordinária intervenção do Padre. Lino Maia. Tenho duas perguntas, primeira, seria correcto converter fundos destinados a subsídios sociais no apoio financeiro directo a instituições ou associações de carácter social e ainda, disse que a essência da accção social é o voluntariado, mas este necessita de mais jovens, o que poderá ser feito nos jovens a intervir activamente na dinamização da acção social? Obrigado.

 
Pe.Padre Lino Maia
Eu vou-lhe pedir que se pudesse repetir a primeira pergunta, agradecia.
 
António Dias
Com certeza, seria correcto converter fundos destinados a subsídios sociais no apoio financeiro directo a instituições ou associações de carácter social?
 
Pe.Padre Lino Maia

Ah!, aqui está o subsídio directo à família ou à instituição, é essa a questão?

 
António Dias
Como disse, o apoio social, o subsídio era um atenuante da pobreza, portanto não iria resolver a pobreza na íntegra, por isso é que estou a perguntar se seria exequível fazer essa transferência técnica de fundos?
 
Pe.Padre Lino Maia

Exacto, é um debate que tem sido feito, está a fazer-se menos, é bom que o recoloque e ainda bem que põe a questão. Portugal é considerado dos países que menos gasta no apoio às famílias e não é verdade, é dos países que mais gasta no apoio às famílias porque aquilo que o Estado neste momento está a fazer é a financiar as instituições, e portanto normalmente na Europa, as estatísticas apresentam aquilo que é para apoio às pessoas, não instituições mas directamente às pessoas. Mas de facto Portugal é o país que mais investe no apoio às famílias, Tenho muito medo e temos o exemplo do RCI, eu tenho muito medo, eu sou a favor do RCI atenção e penso que não podemos só dar benefícios em espécie, às vezes também é necessário benefícios em numerário, em dinheiro, agora se estabelecessemos como critério o subsídio em dinheiro pecuniário aos necessitados, às pessoas, o que é que poderia acontecer? Era um mau uso desse subsídio e um não uso naquilo que era necessário e sobretudo eram prejudicadas as pessoas mais necessitadas, as crianças e os idosos eram mais necessitados, eram mais prejudicados, eu penso que é importante financiar em espécie, e em espécie pode ser através do apoio à instituição ou através de outros serviços que não necessariamente o pecuniário, não necessariamente o dinheiro. Esta questão é muito importante e ainda bem que o coloca e é bom que reflictam sobre ela. A questão do voluntariado: eu penso que os jovens podem e devem, (já disse), até como dirigentes. Normalmente as direcções são, pessoas da minha idade quase, eu sou dos mais velhos deste país, mas é um bocado da minha geração. Era importante termos jovens mesmo na direcção e desafio-vos a propor-vos como jovens dirigentes, é um espírito renovado, até na gestão isso é importante e na sensibilidade para novas respostas sociais e depois não é a única maneira de ser voluntário. Eu tenho um amigo, Presidente da União das Misericórdias que nós temos no voluntariado chefes e não temos índios, todos querem ser dirigentes, mas depois acompanhar as instituições não há assim muitas pessoas, eu penso que é muito importante a presença de jovens nas instituições. Deixo-vos só um desafio, há uma coisa que poderia ser espantosamente bela, nós dizemos que um idoso que morre é , o ditado não é português, um idoso que morre é uma biblioteca que arde, vós que sois peritos por exemplo na informática, se dedicassem horas numa instituição de idosos, pondo os idosos a contar histórias, a sua experiência, os seus conhecimentos, depois tratando isso informaticamente, pondo os idosos em contacto uns os outros, instituições umas com as outras, nós tínhamos de facto uma qualidade de vida infinitamente superior nas nossas instituições e estávamos a dar bibliotecas espantosas de ciência, de conhecimento a este país. A dádiva do tempo, a presença jovem nas instituições e então com crianças jovens, mas também com idosos é fundamental, desafio-os. Ainda há pouco fui a uma instituição, alguns de vós talvez conheçam em Beire, que é um lar de Idosos no concelho de Paredes, estava lá um grupo de estudantes de medicina e enfermagem, fantástico o trabalho que lá estão a fazer, no período de férias, a presença jovem é fundamental.

 

 
Duarte Marques
Muito obrigado Sr. Padre…
 
Pe.Padre Lino Maia

Aqui posso dizer que não seriam diabinhos de facto, mas anjos da guarda.

(risos)

 
Duarte Marques
… Pedro de Silva Martins do grupo Azul.
 
Pedro Silva Martins

Boas tardes, quero agradecer em nome do grupo azul a presença do Sr. Lino Maia, Sr. Padre, nesta tarde na Universidade de Verão. A sua presença cria uma excelente oportunidade para os mais jovens recolherem informações sobre questões sociais que tanto nos importam. Sabemos que a realidade actual não é a mais forte e assim as IPS´s mantêm e aumentam a sua importância. A pergunta do grupo azul, baseia-se em dois conceitos, o futuro e as boas práticas, assim a questão que nós colocamos será, como é que as IPSS´s olham para o futuro e que novas competências acha importante desenvolver para que estas sejam mais eficazes e eficientes no apoio que prestam, no caso de já existirem essas boas práticas, que práticas assinalaria e destacaria? Muito obrigado

 
Pe.Padre Lino Maia

É uma questão muito exigente, eu devo dizer-vos que para as instituições de solidariedade a inovação sobretudo fazerem de cada vez com mais proximidade, com mais coração aquilo que fazem. Vai ser sempre necessário, novas respostas vão surgir, particularmente, certas zonas, nichos de população, portadores de deficiência, de alguma viciação, vai ser necessário apostar muito em IPSS´s. O Estado é provavelmente um agente que não será muito eficaz nesta área, agora penso também, há bocado dizia e recordo, as instituições de solidariedade têm muito a fazer nas zonas mais deprimidas, na reactivação da actividade económica, é um trabalho extremamente importante. Não sei se está alguém aqui de Macedo de Cavaleiros, um dos melhores vinhos que agora se produz no Douro, foi medalhado, é de uma IPSS da misericórdia de Macedo de Cavaleiros e lá com esse vinho, com a reactivação da cultura da vinha e do vinho lá, fixou-se a população, rejuvenesceu-se a população e eu penso que, e automaticamente também a misericórdia beneficia. Beneficia também num investimento que foi feito, foi moroso, mas agora beneficia, a tal auto-sustentação de que há bocado falávamos. As boas práticas, eu penso que é fundamental, há bocado quando dizia é importante o trabalho em rede e a comunhão das boas práticas, é importante cada vez mais, é um mal de que algumas instituições ainda enfermam, algumas ainda funcionam um bocado como quintas, um bocado herméticas, a partilha de boas práticas é fundamental porque ninguém tem a melhor solução, todos têm boas soluções, se partilhadas encontra-se a melhor solução, eu penso que a prática, a partilha das boas práticas é fundamental. Permito-me só telegraficamente dar um exemplo, há anos atrás, fez-se muito para o realojamento de pessoas que viviam em barracos, em Matosinhos, a câmara de criou uma cooperativa que estava insolvente e instalou lá pessoas que viviam numa zona de barracas, aliás era uma zona que pertencia à paróquia de Aldoar, eu estive muito envolvido nisso, passado pouco tempo, aquelas casas que eram muito boas, numa cooperativa de habitação, estavam perfeitamente degradadas, aquilo era uma zona extremamente complicada, no Porto ainda na área em que sou pároco, Aldoar, com essa experiência, então procurámos fazer o seguinte, não dar casas já feitas às pessoas, ajudar as pessoas a recuperar a casa que iam ter, foi a grande aposta, devo dizer-vos que as pessoas foram todas realojadas, hoje vivem na casa  que ajudaram a recuperar, sentem-se ligadas à casa e não há problemas de insegurança nessa situação. A partilha de boas práticas é fundamental.

 

 
Duarte Marques
Muito obrigado, vamos para a última pergunta das perguntas dos grupos, Raquel Pinto do grupo laranja.
 
Raquel Ferreira Pinto
Boa tarde a todos, gostaria de agradecer mais uma vez a sua presença e o grupo laranja gostaria de lhe colocar a seguinte questão. Os jovens precisam de ter sucesso nas suas vidas para ajudar o país tanto na sua vida académica como profissional, considera a crise de vocações e até a falta de fé têm influência nesta situação? Obrigada.
 
Pe.Padre Lino Maia

Eu penso que neste momento, ainda bem que põe esta questão que é de facto pertinente, eu penso que não há falta de fé, não há falta de vocações, eu penso que o que não tem havido é a suficiente promoção dos valores e a defesa dos valores. Penso que aquilo que está a acontecer em Portugal, talvez, agora há outros problemas que estão a tomar a dianteira no debate nacional, mas às vezes digamos subtemas, são temas fracturantes, temas conjunturais, uma certa relativização crescente que há na sociedade, o que é efémero é aquilo que é tema, eu penso que é fundamental que voltemos a educar pelos valores, voltemos a falar de valores, voltemos a falar também de deveres, eu penso que é de facto este o grande problema. Nunca encontrei na juventude como hoje, (e digo isto não é para vos ser simpático), uma sensibilidade tão forte. Nos anos 60 até encontrava mas depois parece que deixei de encontrar, agora estou outra vez a encontrar na juventude de hoje uma grande sensibilidade pelo valor, uma grande sensibilidade para a dádiva, uma grande sensibilidade para a comunhão, eu penso que é isto que é preciso que seja o tema do debate, é preciso que seja isto pregado na sociedade.

 
Duarte Marques

Muito bem, muito obrigado Sr, Padre, vamos agora passar às perguntas livres tenho aqui já algumas inscrições que foram chegando e outras chegarão com certeza, estamos a quase uma hora de debate, o Sr. Padre foi bastante breve nas respostas que deu, foi óptimo, assim permite a todos fazerem perguntas. Muito bem, primeira pergunta vai ser feita pela Vânia Sousa do grupo laranja e a segunda pela Sofia Manso do grupo amarelo, logo de seguida, obrigado.

 
Vânia Raquel de Sousa
Muito boa tarde, Vânia do grupo laranja. Fazendo uma analogia e remetendo-me também à metáfora do Padre António Vieira no sermão aos peixes, Sr. Padre Lino, conseguimos combater a pobreza e a exclusão social quando o governo, em vez de ensinar a pescar continua invariavelmente a dar a cana de pesca, hoje parece que o governo não se organiza em torno das necessidade mais emergentes da comunidade, pelo contrário, acaba por dificultar o nosso trabalho, por exemplo falo na questão da burocracia...da burocracia...
 
Sofia Manso

Boa tarde, uma vez mais reafirmo pelo grupo amarelo o prazer enorme que é estar presente o Sr. Padre Lino Maia. Em primeiro lugar antes de iniciar a minha questão queria fazer uma referência porque ontem estivemos a falar de um Estado social e de uma social-democracia, vemos que isso implica inerentemente a solidariedade, a solidariedade essa que o meu grupo tem tentado promover aqui pela criação de um espaço onde é possível pela recolha de tampas das garrafas, temos só que arranjar 3 toneladas, mas é um início, e sendo o início todos podemos contribuir apesar de parecer que falta muito é um percurso decerto todos participaram, agradecia que tomassem nota da iniciativa. Voltando então para a minha questão, remete-me um pouco para a demorada aplicação daquilo que se chama trabalho comunitário, isto porquê? Porque vemos um país com uma justiça lenta, uma série de problemas económicos e que seria poupados  pela aplicação daquilo que se chama trabalho comunitário, trabalho comunitário esse, que poderia ser obviamente beneficiado ou melhor as instituições que o sr. padre representa seriam beneficiadas por esta forma de trabalho comunitário, considera então que poderia associar-se e favorecia então as instituições então como a introdução do trabalho comunitário?

 
Pe.Padre Lino Maia

A propósito da primeira questão, não é para vos ser simpático, mas devo dizer que nós temos um Estado demasiadamente pesado, demasiadamente pesado e quanto mais pesado é, mais ineficaz é. Manter o aparelho do Estado é caro. Neste momento, gasta-se muito como manter o aparelho do Estado. Nós precisávamos talvez de menos Estado e melhor Estado, não tenham a menor dúvida. Há burocracia a mais, há gabinetes a mais, há fundações a mais, há assessorias a mais, há pareceres a mais, é um Estado muito pesado, muito pesado. É preciso, passar-se um bocado para a comunidade, para a sociedade, é preciso que haja a promoção do envolvimento da comunidade, nós é que temos que ser os construtores do nosso futuro. O Estado tem uma função importante, mas é preciso menos Estado e melhor Estado. O Estado Social, eu julgo que às vezes nós dogmatizamos demasiadamente alguns temas, não é? Eu sou absolutamente a favor do estado social, absolutamente a favor e quando penso no Estado Social, estou a pensar sobretudo em quatro serviços, não é? é o apoio na saúde, na educação, na acção social e na habitação, agora, eu penso que o Estado Social, se em relação à educação eu sou absolutamente a favor, porque a educação para mim é por onde tudo começa não é? É por onde tudo começa, se em relação à educação eu defendo a universalidade e a gratuidade, nos outros serviços, eu defendo uma comparticipação conforme as circunstâncias, as disponibilidades das pessoas. Eu, por exemplo cito o meu caso pessoal. Ainda há poucos anos beneficiei de um grande apoio do Serviço Nacional de Saúde, um grande, um enorme apoio que tive há 7 anos atrás. Eu provavelmente podia ter contribuído para esse apoio que tive com uma quota-parte. Eu não tenho muitos bens, mas não sou dos mais carenciados deste país. Sou absolutamente a favor da universalidade dos serviços e, de um pagamento conforme as circunstâncias das pessoas, ajustado às situações das pessoas e isso em relação à saúde, não tenho a menor dúvida. Em relação à  segurança social também não tenho a menor dúvida, eu sei que este discurso não é politicamente correcto, eu sei que não é correcto e amanhã estarei a ser crucificado por dizer isto, mas é claramente a minha posição, é claramente a minha posição. Penso também que em relação à habitação, agora talvez não precisemos de muitas casas mais, talvez haja casas a mais neste país, agora precisamos talvez de melhor habitação, o importante é o envolvimento das pessoas na casa onde vivem, a pessoa envolvida na casa é uma pessoa que estima a casa, que acaba por gostar daquilo que ajudou a construir. É importante o envolvimento e o envolvimento faz-se de muitas maneiras, isto de dar tudo às pessoas é capaz de não ser muito bom, é capaz de não ser muito bom. Agora o que é preciso é que haja universalidade de serviços, que ninguém neste país deixe de ter acesso a um serviço, agora cada um poderá contribuir ajustadamente à sua situação, porque meus caros não tenhamos ilusões, é o problema que se pôs em relação às Scuts, é evidente que para mim todas as auto-estrada por onde eu passo deviam ser Scuts, por onde eu sozinho passo, deviam ser Scuts, era o que eu queria, não é? em teoria, não é o que deveria ser, porque o povo vai ter que pagar de qualquer maneira, vai ter que pagar de qualquer maneira, ou pagam uniformemente ou pagam ajustadamente, eu penso que em relação a determinados serviços o pagar ou contribuir ajustadamente não é a tentar contra o Estado social. Por exemplo o Serviço Nacional de Saúde neste momento em Portugal, que é um bem excelente, talvez pudesse ser um bem ainda mais excelente se não houvesse tantos gastos como há, algum alheamento como há, talvez pudesse ser melhor, talvez eu esteja a dizer uma barbaridade mas é assim que eu penso e eu penso que é importante que haja o debate sobre o assunto. Em relação ao trabalho comunitário e à justiça, eu sou absolutamente a favor, até porque a pessoa só é livre e é feliz quando tem alguma autonomia, não é o dependente que é feliz. Esta questão da eternização dos subsídios não é a promoção da felicidade das pessoas. A promoção da felicidade é a produção de autonomia, não tenham a menor dúvida, é a promoção de autonomia. O trabalho comunitário se bem enquadrado legalmente, bem enquadrado e bem acompanhado, pode ser uma boa promoção da autonomia da pessoa. Há bocado citava o exemplo da CNIS, que está neste âmbito europeu de luta contra a pobreza a promover uma acção que eu penso que é de facto meritória. Se nós levarmos os beneficiários de alguns subsídios, bem acompanhados, bem apoiados, não explorados, bem estimulados, a exercer algum trabalho comunitário provavelmente aqui estará alguma promoção da sua autonomia, amanhã terão condições para terem a sua actividade, para não estarem tão dependentes do que é comunitário, dos bens comunitários. A justiça, eu sobre a justiça apetecia-me perguntar o que é isso, o que é isso de justiça, em Portugal não sei onde é que ela está, está normalmente fora dos palácios, não é? Tem lá a balança, não é dos paços de justiça, das casas de justiça, o que é demasiado lento é demasiadamente injusto, eu penso que era importante, era importante um alerta neste país para aquilo que se passa de facto com a justiça, há pessoas de facto muito mais competentes e eu  não tenho competência nenhuma para falar sobre isso, mas parece-me que é consensual a necessidade de implantar uma verdadeira justiça neste país porque de facto não há justiça.

 
Duarte Marques
Muito obrigado, de seguida o João Tiago Valente do grupo rosa e depois o Tiago Cartaxo do grupo bege.
 
João Tiago Valente

Boa tarde, antes de mais queria estender os cumprimentos da nossa parte, do grupo rosa à mesa e ao Sr. Padre Lino Maia, muito obrigado pela sua lição, até agora tem sido deveras interessante e estou a ver que uma forma que nunca pensei que este tema me interessasse tanto como até ao momento. O Sr. Padre Lino Maia referiu as situações de urgência onde é necessário intervir em certas zonas do interior para combater a pobreza. Eu como venho da Beira Baixa, muito propriamente de Castelo Branco, identifico-me portanto com essa situação e a questão que eu lhe queria perguntar vai neste sentido, tal como o Sr. Padre, passo a redundância, os padres na minha óptica são os principais impulsionadores e dinamizadores deste tipo de acções sociais juntamente com alguns paroquianos, a minha questão é a seguinte, cada vez existem menos padres, eu vejo na minha zona em que estamos a falar (10 segundos inaudíveis) da posição Igreja Católica neste sentido, o que pode fazer para inverter esta situação e se os diáconos podem realizar verdadeiramente o mesmo tipo de trabalho que um padre o que na minha óptica não acredito, era essa a minha questão?   Obrigado.

 

 
Tiago Cartaxo
Muito obrigado, boa tarde, boa tarde Sr. Padre, peço desculpa por este problema, gostava só de, o grupo bege gostava só de lhe colocar uma dúvida, quanto ao que disse há pouco, há pouco tinha falado nas entidades que olham ao lucro ou seja, as entidades privadas, as empresas que tem uma lógica mais mercantil, a nossa dúvida prendia-se com o facto de se saber se o sr. padre considera que combater a exclusão social e a pobreza passa também por convencer as empresas, lá está, a serem mais socialmente responsáveis e se sim de que forma? Muito obrigado.
 
Pe.Padre Lino Maia

Em relação à primeira questão eu devo-lhe dizer que compreendo e subscrevo aquilo que diz. Eu julgo que a Igreja, (desculpai agora é um bocado a minha missão também, se estão aqui Católicos e mesmo não Católicos, eu quando falo de instituições da Igreja, instituições sociais devo dizer que há instituições de solidariedade social de Igrejas protestantes muitíssimo importantes em Portugal e fazem um trabalho excelente, não são só as instituições da Igreja Católica, tenho que sublinhar isto). Agora há uma passagem no livro dos Actos dos Apóstolos, quando os apóstolos começam para lá a falar que andava para lá um que tinha morrido e que estava a aparecer vivo e querem obrigar os apóstolos a calarem-se, lá as autoridades, há um homem extremamente sensato que diz, bem, isto que andam para aí a dizer se for obra de Deus não interessa combater porque não se elimina a obra de Deus, se for obra dos homens, também não interessa muito combater porque vai durar pouco tempo. A Igreja tem dois mil anos e portanto é obra de Deus, não tenham a menor dúvida. Eu não estou muito assustado com a diminuição de padres, isto talvez ponha à Igreja desafios interessantes, por exemplo, falou e muitíssimo bem, diáconos permanentes, a assunção da responsabilidade dos leigos, é-se cristão não é pelo sacramento da ordem, é-se cristão por sacramento do baptismo, baptismo, comunhão e crisma, portanto, nós temos responsabilidades na Igreja não é por sermos padres, é por sermos cristãos, mas os diáconos, e porque não as mulheres também? Eu se estivesse a brincar, mas pronto, você colocou a questão a brincar, às vezes digo que as mulheres são muito importantes na Igreja, porque se não não havia quem fizesse a limpeza das Igrejas, mas … (risos)… mas agora muito a sério digo, as mulheres, a Igreja, as mulheres têm um papel fundamental na Igreja, fundamental na Igreja, e quantos de nós, quantos de nós têm fé porque tiveram uma mãe com fé que soube muito melhor que o pai, porque a mãe transmite com o coração, transmitir a fé. E porque não as mulheres no sacerdócio ministrial? Não será para estes dias, mas não tenho a menor dúvida que virá a acontecer e não é o fim da Igreja, não será o fim da Igreja, portanto, não é só para fazer limpeza por amor de Deus, as mulheres têm um papel extremamente importante que não tem sido sempre reconhecido, claro que também não vamos combater quem esteve para trás, antes de nós. A Igreja tem contribuído, tão bem e muito, para um respeito pela dignidade da mulher, nós ainda vemos hoje, atenção, não há aqui proselitismo nenhum, os muçulmanos não são piores que nós, atenção, eu respeito muito o Islamismo, respeito muito o Budismo, respeito todas as religiões, respeito as pessoas, mas a Igreja, no tempo de Jesus Cristo, contribuiu muito e depois, para que as mulheres vissem a sua dignidade reconhecida e respeitada, portanto agora se caminhar para o sacerdócio ministerial das mulheres, não é dar um passo em falso, é talvez chegada a hora disso acontecer, portanto, não estou e sobretudo, que a diminuição de padres seja uma forma de todos assumirem o seu papel no seu lugar na Igreja. Quanto…  a pergunta do Tiago...

 
Duarte Marques
Tiago qual é a tua questão?
 
Tiago Cartaxo
Peço desculpa, tinha-lhe perguntado, porque há bocadinho tinha falado nas entidades que olham ao lucro e se no seu entendimento... a importância da responsabilidade social, exactamente, e de que forma?
 
Pe.Padre Lino Maia

Exacto, desculpa eu não ter apontado na altura e por isso passou-me. Aí, para mim, há bocado tentei dizer e devo dizer, nós precisamos de um sector privado lucrativo muito forte em Portugal, precisamos, precisamos e talvez porque não temos é que temos andado na crise em que estamos, agora o que é preciso, é que de facto o lucro financeiro não seja digamos o único objectivo ou melhor, é preciso olhar aos meios para atingir determinados fins, os fins não justificam os meios, a responsbilidade social das empresas e a responsabilidade social começa logo por uma questão muito importante, muito importante, nós às vezes pensamos só no ambiente, etc... etc... mas a responsbilidade social começa exactamente por aqui, Portugal é o país com um maior fosso na redistribuição da riqueza, temos salários extremamente baixos e provávelmente teremos algumas bonificações extremamente altas. A responsabilidade social, começa exactemente por uma melhor distribuição da riqueza, por melhores salários também, e não há combate há pobreza, o Prof. Bruto da Costa diz uma coisa que para mim é importante, ele diz que, o combate há pobreza e eu apontei 4 eixos, 4 dias, ele aponta 3 e diz ele, 1/3 da pobreza em Portugal elimina-se com melhores salários, outro terço com melhores reformas e apoios no desemprego, o outro terço então com as medidas que eu apontei, agora, eu não tenho a menor dúvida que a responsabilidade social começa por aí, melhores salários, claro que isto também não é com um clique que se muda a situação, eu tenho sido a favor por exemplo dos passos que se estão a dar neste momento para o aumento da prestação mínima, do salário mínimo, é necessário que se caminhe mesmo muito nesse sentido e agora a vós peço de facto trabalho nesse sentido, agora não é só aí que termina a responsabilidade social, nós vemos em determinadas s zonas não há, mas aí autarcas, atenção tomem cuidado não é? porque às vezes alguns compadrios um bocado complicados. É preciso que as empresas sejam defensoras do ambiente, não é? e às vezes a pretexto disto e daquilo passa muita coisa por baixo da mesa não é? e depois é importante e neste momento estão a ser dados, a CNIS tem neste momento parcerias com as associações empresariais, são óptimas, óptimas, por exemplo em breve vai começar uma iniciativa de apoio a inserção do Crianças em Creche, é uma grande empresa em Portugal que vai financiar a inserção de crianças das mais carenciadas em creches dos meios mais deprimidos, portanto isto de chamar as empresas também à actividade, ao apoio solidário é de facto importante, até por uma questão de sobrevivência meus caros, há aqui um efeito de bola de neve dígamos assim, se houver uma melhor distribuição da riqueza, se houver melhores salários, se houver melhores apoios, haverá mais clientes amanhã, não tenhamos dúvidas, haverá um melhor circuito económico e portanto as empresas conseguiram sobreviver muito melhor, e depois também há um outro aspecto também, há empresas que estão a apoiar muito creches na própria empresa e outros apoios sociais na empresa, nós se tivermos menos insegurança, menos instabilidade neste país teremos com certeza uma melhor qualidade de vida, um melhor futuro até por esta razão portanto a responsabilidade social, há outros itens, mas eu começava por este e aqui autarquias tem muito a fazer. Melhores vencimentos, mais justiça nos vencimentos, melhor defesa do ambiente, mais apoios de facto sociais, não sei se respondi há sua questão mas é o que eu penso.

 

 
Duarte Marques
Muito obrigado, Bruno Silva do grupo encarnado e depois José Castela do grupo roxo.
 
Bruno da Silva

Muito boa tarde, Bruno Silva do grupo encarnado mais uma vez em nome do grupo encarnado, queremos agradecer a presença do Sr. Padre Lino Maia que temos o gosto de ouvir as suas ideias próprias. Falou há 2 minutos num ponto importante do ambiente e também falou do vinho produzido pelas Santas Casas, como construtor de futuro, sabe deixar-nos um exemplo concreto, o Sr. mesário Matos Chaves da Santa Casa da Misericórdia do Porto, instalou na quinta de Barca d’Alva em Figueira, Castelo Rodrigo, centrais solares de microgeração de produção de electricidade com recurso a energias renováveis, um investimento decerto de 150 mil euros, com o retorno em pouco menos de 5 anos, com o incentivo do Estado conforme o Decreto-Lei 300103/2007 de 2 de Novembro apoiando  assim as Santas Casas e as diferentes IPSS´s, a minha pergunta é a seguinte, não acha que o contrário destes raros exemplos, a ONG e instituição têm tido um crescimento cada vez mais lento, se não parado devido a restrições e complicações impostos pelo Estado português actual como pode explicar estas barreiras politicas? Obrigado.

 
José Francisco Castela

Antes de mais nada muito boa tarde, queria agradecer ao corpo directivo da Universidade de Verão por nos presentearem mais uma vez com um orador de excelência nacional, a minha pergunta vai neste sentido, como é lógico num Estado social nós temos de acima de tudo salvaguardar que todas as pessoas tem acesso aos bens que necessitam, portanto temos o dever social de ajudar todos os necessitados, no entanto sabemos também que essa ajuda deve ser cuidada, deve ter parâmetros mínimos, deve ter uma exigência, deve ter uma regulação e sabemos também que por esse país fora, principalmente no que toca à ajuda social aos idosos há muitos sitos sem condições e ilegais e muitas vezes que nem sequer estão registados e ninguém sabe da existência deles, o que eu queria perguntar ao Sr. Padre Lino Maia, é que tendo em conta, este paradoxo, este paradigma, peço desculpa, de termos de ajudar mas temos de dar uma ajuda com regras, como é que vê a actividade das instituições da acção social que não estão legais e não estão reconhecidas?

 
Pe.Padre Lino Maia

A iniciativa das centrais solares, fotovoltaicas, eu penso que é uma iniciativa muito interessante. Estamos aqui perto de uma zona, na Guarda, concretamente está a produzir-se neste momento bastante energia fotovoltaica, para que, o retorno, e eu aqui gostava só, tenho que defender a minha dama também, o mal às vezes nas instituições e por isso desafio-vos mesmo que não vos negueis a ser dirigentes de instituições de solidariedade, até por esta questão, é que muito provavelmente vocês forem jovens dirigentes abertos à construção do futuro, também poderão ser dirigentes por mais tempo. A maior parte dos dirigentes das instituições de solidariedade ou são dirigentes... a maior parte… por favor não gravem isto... bastantes dirigentes ou são um bocado cansados, ou dirigentes são sem grande futuro e às vezes alguns estão um bocado, enfim porque foram apanhados para aquilo sem saber muito bem no que se metiam. A questão, por exemplo que focou da energia fotovoltaica, é uma questão, nem muitos dirigentes aderiram a isso, apesar da existência nem muitos estão a aderir a isso porque o retorno em 5 anos, segundo cálculos que eu tenho é talvez ao fim de 7 anos, um dirigente, só pode ser dirigente os mandatos é por 3 anos e 2, pode ser 2 mandatos consecutivos, excepcionalmente é que pode haver mais do que 2 mandatos. Ora se o retorno é ao fim de 5 a 7 anos, um dirigente se esteve lá sem ter retorno, e portanto aparece outro dirigente, outros dirigentes e portanto há esta transitoriedade exagerada e provavelmente esta pouca abertura também aquilo que é novo, este calculismo às vezes, pronto, que evita que faz com que não se aposte de facto em novas medidas. Agora, é importante de facto, há bocado dizia e mantenho quecada vez mais, com um enquadramento jurídico que tem que ser revisto, que tem que ser revisto, mas é importante que de cada vez mais as nossas instituições criem formas de auto-sustentação, é importante, não podem estar tão dependentes do estado, não podem estar, nós em termos financeiros, há bocado não disse mas devo dizer-vos, neste momento também não é tanto como às vezes se diz, mas as despesas de facto das nossas instituições de solidariedade são cobertas em média em 42% pelo orçamento do Estado, 58% são comparticipações de utentes e dádivas da comunidade e também dos dirigentes, talvez o ideal seria o não subir muito mais estes 42% do orçamento do estado, eu diria que até o ideal é que diminuam um bocadito, eu digo isto, numa reunião com dirigentes e IPSS´s, não podia dizer isto se não eles crucificavam-me, eles dizem  sempre que o estado tem que dar muito mais, eu devo dizer que é preciso criar outras formas de autosustentação nas instituições, agora para isso é preciso de facto um novo enquadramento jurídico, porque também não é correcto, não é justo que uma instituição seja concorrente com uma empresa que paga impostos ao estado, uma instituição que está isenta de alguns impostos tem que se cria uma forma de autosustentação, tem que entrar no circuito normal. Quanto há questão de e por isso a questão de haver dirigentes jovens, abertos, mandatos talvez mais maiores, desculpai os mais maiores, mas pronto, é preciso de facto isso. Em relação há questão de Estado social e lares sem condições, eu devo dizer-vos que felizmente, também digo isto, se só estivesse com dirigentes de IPSS´s talvez não dissesse isto com tanta força, mas há, há talvez até, há talvez um controlo excessivo, um demasiado controleirismo da parte do Estado em relação às IPSS´s, há demasiada fiscalização às vezes o que se quer encontrar e o que não se encontra inventa-se, o que se quer encontrar de facto falhanços nas IPSS´s. Os lares sem condições não são de IPSS´s isso posso garantir, porque há um grande, um enorme controlo por parte dos serviços do estado, da segurança social em relação aos lares das IPSS´s, o que quando fecha, encerra um lar, é normalmente um lar lucrativo, um lar clandestino, mas também agora não vou crucificar os lares clandestinos, talvez, talvez, se houvesse mais celeridade, mais agilidade nos processos de legalização, não haveria tantos lares clandestinos, portanto é preciso da parte do estado que haja mais agilidade, mais celeridade, menos burocracia para fiscalizar e para legalizar os lares lucrativos, agora o que devo dizer-vos é que é de facto muito importante, é fundamental que os lares e não apenas os lares, todas as instituições, todos os equipamentos das instituições tenham de facto qualidade, eu costumo dizer quando vou visitar uma instituição, costumo dizer, o ideal de uma instituição, o ideal de um equipamento de uma instituição é que evite duas coisas, desculpai às vezes a linguagem e dito duas coisas, o luxo e o lixo, não é? quer dizer o seguinte, é para pobres qualquer coisa serve, não, não, não, é para pobres, tem que ser bom, evitar agora também o luxo, o exagerado também não interessa, também não interessa, às vezes e por exemplo, citou a questão de lares, eu penso que neste momento ao bocado um jovem falou de 1200 euros o custo da frequência de lares, eu penso que talvez pudéssemos com menos custos ter lares com a mesma qualidade ou boa qualidade aos serviços mais carenciados, bastavam pequenas coisas, não é questão de cair no lixo, não, com boa qualidade podiamos ter menos custos.

 

 
Duarte Marques
Muito obrigado, Ricardo Lima do grupo encarnado e a Vilma do grupo castanho a seguir.
 
Ricardo Lima

Queria dar um grande cumprimento ao Sr. Padre, até porque somos praticamente vizinhos, o senhor é pároco de Aldoar e eu resido nas Campinas, portanto somos vizinhos. Eu queria-lhe fazer duas perguntas mas a mais importante toca no aspecto que falou sobre os guetos e a delinquência juvenil. É para mim uma grande hipocrisia, aliás uma hipocrisia fatal da justiça portuguesa que por um lado psicopatas, ladrões, assasinos passados uns anos estejam soltos e que adolescentes e mesmo pré-adolescentes passem anos nas cadeias, nos colégios, nas tutorias, aliás sempre tive como verídica a afirmação de que a cadeia é a maior escola de ladrões e não tenho dúvidas nenhumas que muitos entram lá, nem todos, nem todos, por um pequeno desvio e saem de lá completamente delinquentes e o que eu queria perguntar ao Sr. Padre era o que é que nós, enquanto sociedade ou até partido podemos fazer para valorizar a reabilitação desses jovens e a sua reinserção em prol da coerção, coerção essa que mais que um travão, um aumento da criminalidade e da delinquência, tem sido o motor das mesmas e também queria-lhe perguntar o que pensa do interesse que o nosso líder Passos Coelho tem demonstrado em reforçar o potencial do sector social, por um lado como motor de emprego e por outro lado como motor de combate à pobreza?

 
Vilma Cunha Rocha

Boa tarde, começo por congratular a posição do Padre Lino Maia no que concerne à posição futura quiçá das mulheres no sacerdócio, esperemos que não seja simplesmente a limpar a Igreja, que vá mais longe e representando o grupo rosa, aqui vai a seguinte questão,  hoje mais do que nunca, a máquina da comunicação social, faz um enorme apelo directo e indirecto, para que os portugueses tenham mais filhos. Nós não estaríamos a cair no erro de encarar uma criança como um simples número, famílias sem o mínimo de condições continuam a trazer filhos ao mundo, trazendo desta forma um ciclo de pobreza que muito prejudicará o desenvolvimento de Portugal, não deverá a Igreja exercer maior acompanhamento no seio destas comunidades aconselhando-as a um maior controle?  Obrigada.

 
Pe.Padre Lino Maia

Ora, vou procurar ser telegráfico, em relação ao líder do PSD o Dr. Pedro Passos Coelho, eu devo dizer-lhe que ainda antes na fase de pré-candidatura tivemos encontros e eu devo dizer que me tem agradado a preocupação que ele tem, a abertura que ele tem por este sector da economia social e concretamente pelo sector solidário em concreto, tem-me agradado sinceramente e penso que não é uma questão conjuntural, eu penso que ele é de facto mesmo sensível, até por razões pessoais a este sector, portanto tem-me agradado sinceramente, sinceramente. Quanto à questão de delinquência e prisões etc., eu penso que aquilo que se tem que fazer é um bocado aquilo que há bocado dizia, uma aposta, aposta, na educação, no apoio à família, na intervenção no meio ambiente, no meio físico da vida das pessoas. Eu se tiver o meu escritório desorganizado, vou para uma tasca, desculpai o termo, beber uns copos, o que é que eu quero dizer com isto, eu preciso de ter a minha casa arrumada para trabalhar, para me organizar, eu penso que é fundamental, fundamental intervir no meio físico das pessoas e uma aposta clara na educação é fundamental e depois, e quando esta aposta na educação, não é só com escola pública meus caros, que nós apostamos na educação, é com o envolvimento da comunidade. A educação é uma acção conjunta, a escola pública também é importante, mas é uma acção conjunta de associações, de Igreja também, é uma aposta conjunta, eu penso que só se houver esta aposta conjunta é que nós estaremos a trabalhar a montante para termos gente mais equilibrada, mais sadia, mais feliz e menos criminalidade. Claro que as nossas prisões, muito provavelmente em muitos casos não são propriamente centros de reeducação e de reabilitação, estou plenamente de acordo, aqui há muito a fazer, muitas vezes são espaços um bocado ostracizados pela comunidade, há muros demasiadamente altos por várias razões entre as prisões e a comunidade, tem que se fazer bastante aqui mesmo, e aqui a juventude pode fazer muito também, as visitas às prisões, o trabalho com os prisioneiros é de facto muito importante, um prisioneiro é, pronto, provavelmente uma pessoa infeliz, às vezes basta um sorriso para encontrar a esperança. Em relação à natalidade, eu tenho que dizer que não tenho feito nada para que aumente a natalidade… (risos)(palmas) … agora, mas claramente, é verdade, claramente, claramente, eu sou absolutamente a favor de incentivos à natalidade, mas incentivos à natalidade não é tanto acenar com subsídios, eu penso que um filho deve ser sempre a expressão de um amor, é isto que é de facto importante, uma criança deve ser sempre a expressão de um amor, um amor entre um casal e para mim um casal, portanto é um homem e uma mulher, porque não encontrei até hoje uma criança que fosse a expressão de um amor entre dois homens ou entre de duas mulheres, portanto, penso que é de facto importante, de facto isto mesmo, que seja sempre a expressão do amor e por isso incentivar a natalidade criando condições à coesão familiar, à reestruturação familiar, à vivência familiar, é importante isso e depois incentivos mais, já foi de alguns, mas penso que com isto já disse bastante.

 
Duarte Marques

Muito obrigado, vamos para o último bloco de perguntas, vai ficar muita gente de fora, peço imensa desculpa mas não há tempo, e vamos fazer três, vai ser o Tiago Alves, o Nuno Firmo e o não sei a minha letra, peço imensa desculpa, e o Pedro Roma do grupo Azul.

 
Rafael Saque
Muito boa tarde a todos, muito boa tarde a todos, gostava de saudar o Sr. Padre Lino Maia pela sua apresentação. A pergunta que eu vou fazer não é em nome de todo o grupo azul, quem se quiser identificar posteriormente é livre de o fazer. Ainda ontem a Dr. Leonor Beleza falou numa iniciativa de alguns multimilionários tais como Warren Buffet e Bill Gates que doaram grande parte da sua fortuna à caridade, acha que grandes instituições entre as maiores do mundo eram capazes de aderir a esta iniciativa e porquê? Obrigado.
 
Nuno Miguel Mendes Firmo

Boa tarde, quero dar os parabéns ao Sr. Padre Lino Maia por continuar a mostrar a esta juventude o que possui. O âmbito da minha pergunta, da minha questão advém do facto de eu ter criado conjuntamente com um grupo de amigos uma associação juvenis sem fins lucrativos há cerca de 2 anos a esta parte, no decorrer desta minha experiência e tendo em consideração a actual visão, de espontaneidade, voluntariado no que concerne à gestão destas instituições, não acha que torna a missão e os objectivos da mesma extremamente dependentes da boa vontade dos dirigentes tornando o seu trabalho pontual e muitas vezes superficial tendo em consideração o âmbito nacional com as mesmas actividades poderiam ter. Será que não deve ser delineado um projecto claro, com princípios próprios por parte do governo, idêntico por exemplo ao que é feito pelo Parlamento Europeu com o programa Juventude em Acção?

 
Tiago Alves

Boa tarde, cumprimentar a mesa e o Sr. Padre em especial, a minha pergunta vem no seguimento que o Sr. Padre falou em relação à influência do meio em que as crianças vivem no seu caminho até à pobreza. Nós vemos às vezes muito aqueles filmes americanos em que na escola o facto de se apostar muito nas actividades extracurriculares nomeadamente o desporto ou a dança, a dança talvez seja mais americana, o tema das claques, que tem sempre o final feliz, que é dada o envolvimento e toda a motivação que essas actividades extracurriculares dão, acabam por induzir resultados muito positivos depois ao nível curricular, tirar essas crianças da rua e fazer deles jovens com futuro. A minha questão é até que ponto isso 1. é exequível em Portugal na sua opinião, se tiver algum conhecimento, alguma experiência desse género;  e 2.  se será uma acção que caberá mais às IPSS´s ou se o principal deverá ser deixado eventualmente às autarquias? Muito obrigado.

 
Pe.Padre Lino Maia

Ok, vou ser telegráfico, eu digo sinceramente que não tenho nenhum parti-pris para ir contra multimilionários, contra os pobres, contra as pessoas. O que importa é que as pessoas sejam pessoas. Eu penso que aquilo que há demais belo sobre a face da terra são as pessoas e eu conheço de facto gestos profundamente altruístas, solidários com muitas capacidades, com muitos meios e portanto aquilo que Bill Gates fez, aquilo que alguns estão a fazer entre nós cá em Portugal, às vezes anonimamente, é muito bonito e tem que ser estimulado, (eu às vezes costumo dizer que os ricos que são ricos é porque não dão, não é? senão, não eram ricos, mas entretanto, isso digo às vezes a brincar porque de facto temos exemplos de muita solidariedade, de muito altruísmo, de muita generosidade em Portugal). Quanto à questão dos dirigentes e a juventude em acção, aquilo que digo é muito importante que se evite algum voluntarismo no voluntariado, nos dirigentes e que se aposte muito na formação dos dirigentes das instituições de solidariedade. Há de facto bastante voluntarismo, talvez e por isso é que por vezes não há um programa mesmo de acção consistente, com objectivos, com avaliação, eu penso que é extremamente importante nestas instituições haver um programa, haver objectivos, haver uma avaliação permanente sobre o cumprimento. Há às vezes bastante voluntarismo, concordo, sublinho aquilo que disse. Quanto a iniciativas, eu devo lembrar, por exemplo neste momento a fundação Calouste-Gulbenkian está a apoiar a formação de pequenos grupos de quase de dança instrumentais, cópia daquilo que aconteceu na Venezuela, na América Latina, que há um grande grupo neste momento de adolescentes e de pessoas que foram tirados da marginalidade através da formação musical, através concretamente dos violinos. E a fundação Calouste-Gulbenkian está a apoiar neste momento experiências do género em alguns bairros sociais, concretamente em Gaia por exemplo já há em formação um grupo musical apoiado pela Gulbenkian, eu penso que, aqui devo lembrar-vos na iniciativa Porto Capital da Cultura 2001, na sequência dessa iniciativa houve aposta para levar a palco uma, acção musical, falha-me o nome, com gente, rapazes e raparigas que tinham faltado à escola, que estavam no absentismo escolar e desempregados, para formar um grupo musical que actuou depois na escola, Casa da Música, foram só jovens que tinham abandonado a escola e desempregados que formaram esse grupo e o resultados foram excelentes, isso foi em 2001/2002, esses rapazes e raparigas, arrancados ao absentismo escolar, esses desempregados começaram a partir dessa experiência, começaram a regressar à escola, a apostar num emprego porque se sentiram promovidos, sentiram-se valorizados, é a valorização das pessoas que muitas vezes leva à sua aposta numa melhor qualidade de vida, eu julgo que aqui podemos fazer coisas muitíssimo interessantes porque as pessoas é que tem que ser hoje os agentes da mudança.

 
Duarte Marques
Muito obrigado.
 
Dep.Carlos Coelho

Muito obrigado, resta-me agradecer ao Padre Lino Maia a excelente intervenção que nos dedicou e a resposta a tantas e boas questões, o Duarte Marques e eu vamos despedir-nos do nosso convidado e pedia ao grupo dos avaliadores que viessem para aqui para continuar os trabalhos. Sr. Padre Lino Maia, em nome de nós todos muito e muito obrigado.           

(palmas)        

 

 

 

10.00 - Avaliação da UNIV 2010
12.00 - Sessão de Encerramento da UNIV
13.00 - Almoço com participantes de anteriores UNIVs