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António Carrapatoso e Pe. Lino Maia são os convidados para as aulas do 3.º dia da UV2010. Miguel Maduro é o orador do jantar-conferência.

António Carrapatoso

O chairman da Vodafone Portugal eu a aula da manhã no terceiro dia da Universidade de Verão. António Carrapatoso, também Presidente da Fundação Vodafone Portugal, apresentou um diagnóstico crítico da actual situação e modelo de desenvolvimento do País e defendeu um conjunto de propostas para inverter a tendência de afastamento face aos concorrentes Europeus. António Carrapatoso começou por referir que “Portugal é um país que nunca exportou muito. As exportações representam cerca de 30% do PIB, situação diferente em outros países com maior competitividade, situação que nos mantém no fundo da tabela na Europa a 27 no que respeita às exportações e ao défice comercial”. Da mesma forma, somos conduzidos para um cenário em que o saldo externo mantém défices anuais de 6 a 10 por cento. “Somos o país com a maior dívida externa acumulada, à frente de Irlanda e Grécia, com cerca de 110% do PIB”, afirmou.

António Carrapatoso apresentou aos alunos um vasto conjunto de indicadores e destacou que o “endividamento total da economia portuguesa é superior a 300% do PIB, sendo superior aos da Espanha ou Grécia, entre outros concorrentes”.

O professor da sessão da manhã lamentou que Portugal, nos últimos anos, tenha passado “de um crescimento de 3% para menos de 1%, mantendo actualmente o PIB per capita ao nível de 1993”, o que provoca uma degradação da nossa posição relativa na Europa. Abordando um conjunto de factores que determinam a competitividade do País, António Carrapatoso considerou que Portugal tem falhado o desafio da qualificação, apresentando dados que denunciam a fraca qualidade do ensino, situação agravada pelos baixos níveis de qualificação da população geral.

No campo da situação económica, António Carrapatoso considera que a crise externa só agravou a “situação interna do país”. “Nós acompanhamos sempre a Europa na recessão, mas não no crescimento”. Para o Presidente da Fundação Vodafone Portugal, os “governantes devem fazer centrar as políticas públicas nos cidadãos, potenciando as suas ambições de realização pessoal e profissional, procurando o bem-estar geral dos seus cidadãos”.

António Carrapatoso considera que o actual modelo social é injusto e insustentável e defende que o Estado deve definir as áreas em que é prestador ou regulador. O chairman da Vodafone Portugal defende a proposta de um novo modelo político assente na sociedade, procurando a encontrar soluções para a melhoria da qualidade de vida, combatendo a lógica de controlo da sociedade e das empresas pelo Estado e reduzindo o peso do Estado na economia”, assinalando que para transformar a sociedade com credibilidade e eficácia são necessários novos protagonistas".

Finalizando a intervenção inicial, António Carrapatoso afirmou que “Portugal só vai mudar com o apoio de todos os Portugueses e em particular com a energia, determinação, independência e generosidade das novas gerações. As novas gerações devem assumir o seu papel como principais agentes de mudança”. António Carrapatoso confessou o seu enorme “gosto em estar na Universidade de Verão” por entender que está a apoiar as novas gerações, na sua missão de tentarem vencer os desafios que se colocam ao País.

À intervenção inicial seguiram-se as perguntas dos alunos da Universidade de Verão.

Padre Lino Maia

A segunda aula do dia, com o tema "Pobreza e exclusão social: um combate necessário" foi dada pelo Pe. Lino Maia, Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), que iniciou a sua intervenção elogiando a Universidade de Verão como uma iniciativa “extremamente válida e útil” afirmando não ter dúvidas “que aqui estão muitos dos agentes para uma sociedade melhor”.
Na sua comunicação aos alunos começou pela referência ao papel e diferentes naturezas das Instituições de Solidariedade Social, destacando o apoio a crianças e jovens, a idosos, na protecção da saúde e na apoia à habitação.
Referindo-se às cerca de 5100 instituições de solidariedade social, que representam “pelo menos uma instituição por aldeia”, afirmou que 73,3% do que se faz em Portugal em termos sociais é feito pelas instituições de solidariedade social e que 68,6% desse mesmo trabalho é mesmo feito por Instituições Particulares. Este sector conta ainda com cerca de 200 mil trabalhadores que trabalham para toda a comunidade, dado representativo da importância da economia social no país.

O Presidente da CNIS e pároco de Aldoar, no Porto, lamentou que” não existam jovens em número significativo nestas instituições nem na liderança das mesmas, sendo importante contrariar essa realidade”.
“Não podemos estar à espera que o Estado dê, se nós não, que estamos perto, não procuramos as soluções”, disse, defendendo assim um princípio de subsidiariedade, num envolvimento de proximidade. O Pe. Lino Maia referiu o papel fundamental que estas instituições têm no combate à pobreza: “Mais de 20% da população vive com menos de 360 euros por mês”, percentagem que passa para mais de 40% antes das transferências sociais.
Com um conhecimento profundo da realidade social da população portuguesa, o Pe. Lino Maia explicou aos alunos da Universidade de Verão os diferentes tipos de pobreza que existem na nossa sociedade, alertando particularmente para o acréscimo de pré-adolescentes e adolescentes a serem institucionalizados, embora seja verificada um diminuição da “entrada de crianças e bebés”, em situações difíceis de acompanhar por estruturas que foram concebidas para apoiar a crianças de outras idades. Outra questão a que o padre Lino Maia se referiu foi o dos “novos pobres, que de há uns anos a esta parte aumenta de mês para mês”. Falamos de pessoas que “ontem já eram excessivamente endividados e que hoje estão desempregados”. “E não são tão poucos como isso. Há situações de pessoas que vão, com grande descrição, a meio da noite pedir roupa e alimentação às instituições”.
Enquanto desafiava os alunos a envolverem-se no combate à pobreza disse que “não podemos olhar para a pobreza e ficar de braços cruzados” e lamentou que exista em Portugal uma deficiente distribuição da riqueza”. “Devemos ter a coragem de ler este fenómeno. Em Portugal o fosso entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco vem-se agravando”, disse. Neste contexto, salientou que “ há zonas do país que estão a ser claramente ostracizadas, como é o caso do interior”, defendendo que as nossas instituições deviam ser “convidadas a fazerem coisas ’boas’ pelo interior do país”.
No plano das soluções, o Presidente da CNIS, disse serem necessárias medidas concretas de combate à pobreza. “Podemos avançar para medidas mais assistencialistas que atenuam as manifestações da pobreza como são os casos da subsidiação, mas existem efeitos perversos de fidelização de clientes e de votos”. A verdade é que “em muitos casos medidas como o RSI e o CSI são necessárias, mas em muitos outros casos não são a melhor solução.”
O professor da aula da tarde apontou quatro opções que devem ser feitas, para fazer do combate à pobreza um desígnio nacional:
1. Apoio de facto à família. “É de onde tudo começa. Uma família desestruturada e não apoiada é construtora de pobreza”.
2. Aposta clara na Educação, “logo a partir dos primeiros meses de vida. Uma criança, filha da pobreza, se tiver acesso a uma creche terá acesso a uma vida diferente do que terá se chegar pela primeira vez a uma escola, aos 6 anos”.
3. Olhar-se ao meio físico onde as pessoas vivem.” Será conveniente mudar a forma como construímos os bairros sociais. Devem ser mais pequenos e disseminados”
4. Grande aposta no empreendedorismo, “com o envolvimento da comunidade”. “As crianças que frequentam escolas ou infantários deveriam, desde muito cedo, participar mais nas actividades das suas comunidades”
Sobre os apoios sociais disponíveis, Lino Maia referiu que estes subsídios “não dão uma vida digna, mas apoiam algumas pessoas em situações de pobreza”. Sobre o Rendimento Social de Inserção, entende que o mesmo deve assumir o seu carácter de complemento de inserção social, defendendo que deve existir um “grande acompanhamento e promoção de autonomia aos beneficiários do RSI”. Neste capítulo, o Pe. Lino Maia referiu que no último relatório sobre o RSI (de 2007) eram referido que houve uma acção e meia de apoio aos beneficiários do RSI, onde todo o tipo de medidas foram contabilizadas, da alimentação à vacinação”. Contudo, “as acções de procura de emprego e inserção na vida activa não foram além dos 3%.”. “Temos provavelmente bastantes subsídios, mas não temos acompanhamento para a autonomia dos beneficiários. Não é com um técnico a acompanhar mais de cem beneficiários que há autonomia. Há que envolver a comunidade”, afirmou.


Instando os jovens alunos da Universidade de Verão a aprofundarem a sua participação nas Instituições de Solidariedade Social e nas acções de luta contra a pobreza, o Padre Lino Maia lembrou as palavras de Luther King:
  “Um dia os jovens aprenderão palavras que não compreenderão.
As crianças da Índia vão perguntar: “O que é fome?”
As crianças do Alabama questionarão: “O que é segregação racial?”
As crianças de Hiroshima assombrar-se-ão: “O que é bomba atómica?”
E as crianças na escola vão indagar: ‘O que é guerra?’

E tu lhes responderás, tu lhes dirás:
São palavras que não se usam mais, como as diligências, as galeras ou a escravidão.
São palavras que nada exprimem. Essa é a razão por que foram retiradas do dicionário.”

Seguiram-se as questões dos alunos dos 10 grupos de trabalho.

Miguel Poiares Maduro

O Professor de Direito e Director do Global Governance Programme do Instituto Universitário Europeu de Florença distinguido no corrente ano com o Prémio Gulbenkian de Ciência regressou à Universidade de Verão como conferencista no terceiro dia da Universidade de Verão.
Questionado sobre o que têm em comum o homem político e o homem científico, Miguel Poiares Maduro apontou o “trabalho para o reconhecimento” que o homem de ciência procura numa comunidade científica e o homem político “numa comunidade mais alargada, de eleitores”.  Miguel Poiares Maduro considera porém que as estratégias e as linguagens de uma e de outra área são diferentes, porquanto a ciência faz-se num domínio mais fechado, embora não hermético, dependendo dos conhecimentos da área específica é metodologicamente mais complexa”. Já o homem político deve, na opinião do conferencista deve conseguir reunir um conjunto de capacidade do cartógrafo, procurando a capacidade de interpretar e “simplificar a realidade, sem a falsear”; do poeta, comunicando e aprofundando a narrativa das ideias e das propostas que apresenta; e, do juiz, pela capacidade para tomar boas decisões.

Miguel Poiares Maduro relevou a importância de um exercício permanente de questionamento, de procurar encontrar a formulação da “pergunta” em vez de precipitarmos, insistentemente, a resposta “pronta”. O Director do Global Governance Programme do Instituto Universitário Europeu de Florença afirmou “vivermos num mundo de alternativas imperfeitas, em contextos nos quais existem sempre custos de oportunidade para cada decisão e opção tomada”, devendo, quer o homem político, quer o homem de ciência, evitar cair em vícios lógicos sem questionar permanentemente os seus fundamentos.
A concluir a intervenção inicial, antes do período de perguntas dos alunos, Miguel Maduro salientou que “o cientista, o académico não propõe políticas, antes produz ideias, que o político deve saber transformar em propostas políticas”.
Já no período destinado às perguntas dos alunos, Miguel Poiares Maduro apresentou o seu ponto de vista sobre temas tão diversificados como o Federalismo Europeu, a aplicação do Tratado de Lisboa, o mercado europeu de educação, a mobilidade de alunos e investigadores no espaço europeu e global, a concorrência entre instituições do ensino superior, o alargamento, da União Europeia e os desafios do direito comunitário.

10.00 - Avaliação da UNIV 2010
12.00 - Sessão de Encerramento da UNIV
13.00 - Almoço com participantes de anteriores UNIVs