ACTAS  
 
9/3/2010
Falar Claro
 
Dep.Carlos Coelho

[A GRAVAÇÃO COMEÇOU TARDIAMENTE]

 

A comunicação política não é unívoca, ou seja, não sou só eu a transmitir aquilo que quero mas sou também eu a tentar perceber o que as pessoas que votam em mim querem.

 

Saber isso é essencial, sobretudo numa sociedade de informação. Quem quer fazer politica ou intervenção cívica deve perceber que a comunicação é nuclear.

Nós não estamos sozinhos no mundo, não construímos nada falando com o espelho ou apenas connosco. A lógica do sucesso de uma intervenção social resulta na nossa capacidade de comunicação com os outros.

 

A única parte teórica que eu e o Rodrigo colocámos na nossa intervenção tem a ver com este esquema, a ideia de que há na comunicação três elementos fundamentais: o emissor, o receptor e a mensagem, aquilo que os liga aos dois.

 

Eu, ao falar-vos, estou a estabelecer um laço convosco, estou a transmitir uma mensagem e é isso que faz o fluxo da comunicação. Mas que para esse fluxo seja bom, precisamos daquilo a que chamamos sintonia de comunicação, isto é, eu tenho de transmitir uma mensagem que vocês percebam.

Se estiver aqui um chinês a falar-vos, pode ser o melhor orador do mundo mas não estabelece sintonia porque vocês não percebem aquilo que ele está a dizer.

 

Vocês têm de adequar o registo da vossa comunicação às pessoas que vos estão a ouvir. Ao falarem para uma assembleia de jovens da vossa idade, podem usar determinado tipo de comunicação; se forem falar para um Centro de 3ª Idade a linguagem já terá de ser diferente.

 

Muitas vezes há palavras que se usam no Norte e não no Sul. Há palavras que se usam no Litoral e no Interior não. O tipo de linguagem para uma audiência de advogados não é a mesma que eu terei de utilizar para uma audiência de pescadores. Devo, portanto, afinar o discurso para ser capaz de falar a linguagem que os outros compreendam e adiram emocionalmente. É essencial.

 

E como vos disse há pouco, não esquecer que a comunicação não é unívoca. Quando fazemos uma sondagem e recebemos os dados, nós estamos a ouvir aquilo que os eleitores nos estão a dizer e estabelece-se outro circuito da comunicação, em que o receptor passa a emissor e vice-versa.

 

Falar, comunicar com sintonia, significa portanto perceber quem está do outro lado e falar uma linguagem que os outros percebam. Se isto for mal feito pode acontecer uma de duas coisas: ou a comunicação não está a funcionar de todo, porque os outros não nos percebem ou prestarmo-nos ao ridículo por fazermos figuras tristes.   

 

VÍDEO ENTREVISTA ESPANHOLA A JOSÉ SÓCRATES

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Começo por vos falar sobre o receptor da mensagem.

Este, para quem não sabe, é o peixinho dourado, uma criatura muito simpática, muito popular, normalmente está em cima do frigorífico dentro de boiões e tem uma memória de três segundos.

Ele está sempre à volta do aquário, porque não se lembra que já passou por lá antes. E este, meus amigos é o vosso típico eleitor, o vosso típico receptor da mensagem. Este é o vosso comportamento eleitoral, na prática nós somos um rebanho de ovelhas, somos guiados e depois aquilo que muda é o número de cães pastores. Antes do 25 de Abril só tínhamos um cão pastor, hoje em dia temos mais, o cão pastor do PSD, do PS, do CDS.

Umas ovelhas vão para a direita outras para a esquerda e as ovelhas negras vão para o Bloco de Esquerda.

 

RISOS

 

Este, meus senhores chama-se António Damásio e escreveu um livro muito interessante chamado “O Erro de Descartes” que fala de neurociências e do comportamento do nosso cérebro.

 

O António Damásio introduziu um enorme chavão: “o sinto logo existo”, porque nas primeiras conclusões a que os neurocientistas chegaram é que o cérebro funciona por compartimentos estanques. A parte de trás tem uma função, a parte da frente tem outra e por isso se fizermos uma lobotomia perdemos ou ganhamos outras funções.

 

E o que nós conseguimos identificar e chegar à conclusão em termos de comunicação sobre estas funções do cérebro? Uma das primeiras conclusões a que se chegou é que a memória visual é muito maior que a auditiva, ou seja, o vosso eleitor decora muito melhor a mensagem se a mesma vier de forma animada, do que estando apenas a ouvir falar. Isto é uma espiral, se vocês ficarem a olhar durante muito vai dar-vos aquele efeito de hipnose. Isto em neurociência chama-se “zoning out”, quer dizer que o cérebro assim que assimila uma tarefa que lhe parece familiar, desliga e passa a pensar em outras coisas. Ou seja, se eu falar no mesmo tom, calmo, sereno para vós, durante três minutos, vocês já foram embora porque estão a pensar em outras coisas.

 

Outras das conclusões a que os neurocientistas chegaram é que o estímulo visual chega primeiro à parte da emoção e só meio segundo depois chega ao processamento racional. Isto quer dizer que eu me levantei, estou-vos a falar, mas assim que eu me levantei vocês já gostavam de mim ou não e tudo aquilo que eu disser a seguir serve para fundamentar esse facto. Se eu disser umas coisas inteligentes, vocês pensam: “este é um gajo fantástico”; se eu disser umas coisas parvas, vocês pensam “eu sabia que o gajo era parvo”

 

Quem é que sabe o que isto é? [imagem projectada]. Não é o Ku Klux Klan, são padres numa procissão católica de Segóvia.

Isto serve para vos dizer o seguinte: como o processamento visual chega primeiro à parte da emoção que à parte racional vocês criam na vossa cabeça preconceitos. Se eu estiver mal vestido, não sirvo para estar aqui, se eu estiver excessivamente bem vestido sou um “cagão”, se eu for assim com este ar moderno é porque sou “yupi”, ou seja, um género moderno.

 

Isto serve para vos fazer a seguinte pergunta: podemos ou não gostar de alguém que não conhecemos? Claro que sim.

 

Preconceito é a palavra-chave da comunicação, tudo se faz à sua volta. E isso não é obrigatoriamente mau. Há preconceitos bons e maus, o padre Lino Maia tinha a vantagem de ser padre e vocês dizem que como ele é padre é bom, já o António Carrapatoso que é empresário vocês começam logo a pensar no que pretende ele vender. Tudo funciona à volta de preconceitos.

 

Então como é que se comunica, sabendo agora que nós temos uma memória de três segundos e temos estas dificuldades todas em assimilar preconceitos? Comunicamos com “KISS”, “word of mouth” ou “Buzz” e com “Soundbites”.

Vamos começar pelo KISS, “keet it simple stupid”.

É um termo utilizado na publicidade nos Estados Unidos e significa que a mensagem que queremos passar ao receptor, que nós sabemos que é um ser limitado, o nosso “peixinho dourado”, tem de ser simples e estúpida.      

Devemos pensar no que queremos dizer, a quem queremos dizer e o que queremos que seja lembrado.

Sabendo à partida que daqueles 45 minutos de intervenção o cérebro do peixinho só vai decorar 3, temos de antemão de pensar qual a parte dos 45 minutos que deve ser lembrada. Qual a parte decisiva.

A comunicação leva tempo, tempo é dinheiro, não podemos gastar o dinheiro dos outros e a nossa prioridade é apenas que comprem a nossa mensagem.

 

[VÍDEO FUTEBOL]

 

Bem, eu não sei se vocês conseguiram perceber qual o resultado do jogo a que se estava este senhor a referir ou sequer se perceberam que ele estava a falar de um jogo de futebol. Ou seja, em política e em comunicação no geral temos sempre a tendência de nos exibirmos, utilizando palavras mais caras, vocábulos mais pomposos e de nos perdermos no raciocínio, sem chutarmos à baliza. Não se esqueçam que a prioridade é sempre fazer com que os outros percebam aquilo que nós estamos a dizer e não o contrário.  

 

Depois, há que falar do “meio”. É que, para além de termos um emissor, uma mensagem e um receptor, temos de saber que existem meios diferentes para comunicar.

Antigamente tínhamos os meios tradicionais: as conferências, os comícios, as assembleias de partido, a comunicação social (rádio e televisão).

Hoje em dia as novas tecnologias oferecem-nos mais uma série de meios utilizáveis para passar a mensagem. Qual é a dificuldade? É que falar para uma televisão não é a mesma coisa que falar para um blogue. Escrever para um jornal, não é a mesma coisa que escrever no Twitter, que contém uma limitação tecnológica de 40 caracteres. Num Jornal pedem-vos 2500.

 

A mensagem tem de ser obrigatoriamente adaptada ao meio, mesmo em coisas simples.

 

Bom, o que é o “Word of mouth” (ou “buzz”)? É simplesmente “o que dizem por aí”.

Isto tem muito a haver com os preconceitos de que falava logo no princípio. Vou indicar-vos alguns preconceitos relacionados com a política.

 

Cá vai este: dorme três horas por dia, vocês sabem quem é?

 

VOZES

Marcelo Rebelo de Sousa.

 

O Orador

Pois, é o que dizem, não é? Mas já aqui alguém dormiu com ele?

RISOS

 

Outro: “rouba, mas faz” é outro preconceito associado à política.

 

Outro: “esse é um arrogante”, muito relacionado por exemplo com o Manuel Maria Carrilho.

 

E o pior preconceito da política é o “aquele não hipóteses de ganhar”. A partir do momento em que se gera este preconceito, o de que um politico não tem hipóteses de ganhar, ele passa mesmo a não ter hipóteses de ganhar, porque há um ciclo importante neste conceito do “word of mouth”: aquilo que começa como conversa de café e passa a ser um local comum com imensa gente, entre definitivamente na nossa cabeça sem que nós consigamos racionalizar o processo.

 

“Soundbites” é uma expressão que originalmente nasce do cinema, em que antigamente a imagem e a sonorização eram feitas à parte. Isso dava ao realizador a hipótese de escolher o melhor teste de som para aplicar ao filme.     

 

Agora imaginem que a imprensa vem aqui filmar o discurso de encerramento do Pedro Passos Coelho no Domingo. O presidente do Partido fala durante uma hora, mas o Telejornal só tem reservado para a Universidade de Verão escassos cinco minutos. Seriam passadas umas imagens vossas e umas declarações do Reitor e sobraria um minuto e meio para o Dr. Pedro Passos Coelho, em que temos ainda que ouvir o comentário do jornalista. O que ficará das palavras do líder serão trinta segundos e, das duas uma, ou nós como políticos trabalhamos para que aqueles trinta segundos saiam o melhor possível, um belíssimo “soundbite”, que resuma toda a intervenção ou então estamos tramados.

 

Exemplos de grandes “soundbites”:

- Vou andar por aí! Não sei se vocês se lembram desse extraordinário soundbite de Santana Lopes num Congresso em que ele não era candidato sequer.

- O partido sexy, de António Pires de Lima.

- Para Angola e em força.

- Nunca erro e raramente tenho dúvidas

- Geração rasca

- O País está de tanga. Este serviu para Durão Barroso explicar que as finanças do País estavam falidas

- Beijar uma mulher que fuma é como lamber um cinzeiro.

 

Mas se as pessoas só memorizam 3 segundos, temos de ter cuidado com esse tempo e ter cuidado com os preconceitos que os mesmos geram.

 

[VÍDEO BUSH]

 

Não foi apenas por estes três segundo que Buch ficou com fama de estúpido, foi pela repetição de vários outros três segundos. E nunca ninguém tinha feito um teste de QI ao Bush, mas todos “sabemos” que ele é estúpido, não havendo dúvida alguma, ou seja é um preconceito.

 

Uma das formas de trabalharmos a mensagem é termos cuidado com as palavras e com as expressões que utilizamos. Eu costumo chamar-lhe na brincadeira “vocabologia”, que é um termo inventado.

 

[VÍDEO BLAIR E CAMERON]

 

O filme é centrado em discursos nos quais Blair e Cameron repetem palavras. Como é que é possível dois políticos em campos literalmente opostos utilizarem as mesmíssimas palavras ou como é possível que haja palavras mais na moda que outras. É muito simples: porque vocês formam preconceitos em relação às palavras, de modo em que algumas soam bem e outra mal. Existem umas que trazem estímulos positivos às vossas cabeças e outros negativos. No caso dos positivos uma é o “change”, ou seja, a mudança que será uma intenção de todas as pessoas e a outra é o “novo”, sendo uma lição que nós aprendemos em publicidade.

 

Um produto em que aparece a palavra “novo” vende cerca de 15 a 20% mais na primeira semana, sendo uma coisa verdadeiramente extraordinária. As pessoas associam “novo” a “melhor”.

 

É por esta razão é que nós temos palavras boas de utilizar na política, como por exemplo tecnologia, governance, desenvolvimento, accountabilitiy, ou seja, responsabilização. Depois existem palavras que nós não podemos utilizar em política, como por exemplo empreiteiro, política, negócio, porque tendo nós uma raiz católica, tudo o que meta dinheiro é uma coisa suja, nós não falamos em dinheiro, mas sim em fundos, em verbas, em receita, em despesa.

 

 
Dep.Carlos Coelho

Passamos para a segunda parte deste Falar Claro que é o “Escrever Claro”. Vocês têm de adaptar a estrutura de texto ao objectivo que perseguem.

 

Vamos distribuir agora um exemplar de uma convocatória. A convocatória tem de ter dados essenciais. Vocês não fazem ideia da quantidade de vezes que alguém esquece um dado essencial, ou o local, ou o tema, a hora. O que está sublinhado são os dados essenciais.

 

Se estiverem a chamar os jornalistas devem ter um tema que seja aliciante para que eles se interessem. Porém, não os pode satisfazer totalmente, ou um jornalista mais preguiçoso pode achar que não vale a pena assistir à conferência de imprensa, construindo a notícia com base na informação que vocês deixaram na convocatória.

 

O segundo documento que vos vai ser distribuído é um comunicado da Direcção da Universidade de Verão. Trata-se de uma declaração sobre quem ganhou a UV em 2010, ou seja o grupo “Turquesa”.

Se virem o texto que vos está a ser distribuído, é um texto que vai em crescendo. Quando nós fazemos uma declaração, isto é muito comum no discurso político, geralmente deixamos o mais suculento para o fim, para que a Assembleia vá crescendo em atenção. Começamos com frases mais gerais e depois vamos subindo de forma a terminarmos a intervenção com um clímax e recebermos uma grande ovação.

 

Mas a lógica dos jornalistas é exactamente contrária, vão ver agora um terceiro documento, chamado “press release”. Este documento é exactamente o contrário, a estrutura de documento começa com o mais importante e acaba com o menos importante. Em termos técnicos, o primeiro parágrafo da notícia designa-se por “Lead”.

 

Se uma notícia for muito bem feita, toda a informação essencial está concentrada no primeiro parágrafo.

 

Estes são portanto os três tipos de texto mais comuns. Nunca se esqueçam que o texto tem que ser adaptado ao seu objectivo.

 

Alguns conselhos para escrever claro:

- sejam directos

- não utilizem vocabulário que não dominem

- uma linha não deve exceder as quinze palavras

- um parágrafo não deve exceder as cinco linhas

- um texto não deve exceder os cinco parágrafos.

Estas são regras simples para um texto e uma comunicação simples.

 

E tenham atenção à formatação porque quando nós comemos, também comemos com os olhos. Um prato gastronómico bem apresentado suscita o nosso apetite. Se um prato que vem à mesa mal servido, nós reagimos logo. Pode ser a melhor delícia do mundo, mas não comemos. É rigorosamente a mesma coisa com um texto escrito, porque se o texto convidar aos olhos nós lemo-lo, se for maçudo e desinteressante, ninguém lê a primeira linha.

 

Falemos agora da Comunicação Social.

Quais são os cuidados a ter numa conferência de imprensa?

 

A primeira coisa que vocês devem saber quando querem organizar uma conferência de imprensa, seja na associação de estudantes, na estrutura da JSD, ou onde fazem a vossa acção cívica ou política, é reflectir sobre a necessidade dessa mesma conferência de imprensa.

 

Ou seja, às vezes cedemos à vaidade de falar aos jornalistas. Ora um dos primeiro passos para perder a credibilidade é fazer uma coisa que não é necessária.

A primeira vez que vocês convidarem os jornalistas e eles perceberem que aquilo não era necessário, na próxima vez eles não põem lá os pés.

 

Devem, portanto, perguntar-se primeiro se o tema é suficientemente importante para atrair a imprensa. Se acharem que é muito importante mas apenas para vocês, então não valerá a pena convidá-los.

 

E, atenção, se deram uma conferência de imprensa recentemente, será pouco razoável que os jornalistas apareçam outra vez, a não ser que a última entrevista tenha tido muito sucesso e eles estejam à espera que vocês digam coisas muito picantes.

 

Depois vejam o dia e a hora: é preciso ter em atenção a imprensa local e regional. Se os jornais fecharem à quinta-feira, não vale a pena fazer uma conferência de imprensa à sexta-feira, porque estão uma semana antes do próximo fecho. È melhor fazerem à quarta-feira ou à terça-feira. A escolha do dia e da hora é particularmente importante.

 

Façam a convocatória cinco dias antes, porque se fizerem muito tempo antes, as redacções esquecem. E lembrem-se de telefonar na véspera para obter confirmações.

 

Atenção ao tamanho da sala, porque não há nada mais ridículo que uma sala para 300 pessoas com apenas 5 presenças, ou estarem 30 jornalista numa sala que só comporta 10.

 

Atenção também às luzes e ao problema da contra-luz. Não pensem em ter uma janela aberta por trás porque arruína qualquer recolha de imagem, seja ela por vídeo ou fotografia. Sejam cuidados com a decoração da sala, porque o vosso enquadramento é muito importante.

 

Algumas regras adicionais.

 

Preparem-se para dividir o “jogo”, isto é, se estão quatro pessoas na mesa, não faz muito sentido que seja só uma a falar. Vejam quem é que vai “à dobra” e para dizer o quê.

 

Nunca se esqueçam que os jornalistas não são o vosso destinatário. Vocês têm os jornalistas à frente, mas não estão falar para eles. Estão a falar para os leitores. Os jornalistas são apenas o elo de ligação ao público.

Vocês podem detestar o jornalista que se encontra à vossa frente, mas o que interessa é o vosso leitor.

 

Tenham habilidade a justificar medidas mais polémicas e impopulares. Se a vossa secção, associação ou a vossa direcção está sob fogo não vale a pena pensar que podem esquecer esse problema.

 

Se for uma coisa delicada vai haver perguntas e vocês têm de ter capacidade para justificar as vossas medidas.

 

Respondam de forma directa, clara e breve. Quanto mais falarem mais se enterram: utilizem expressões mais curtas, frases mais sucintas. É que, por melhor que seja a vossa comunicação, quanto mais falarem, mais disparates poderão fazer.

 

Respondam com serenidade e com classe, mesmo que a pergunta do jornalista seja mal intencionada. Nesses casos podem fazer um sorriso irónico, respondendo com elevação.

 

E cuidado com as respostas evasivas, porque traduzem fragilidades.

 

Outros cuidados.

Saibam sempre qual é o “sound byte” que vocês querem largar nessa conferência de imprensa.

 

Em relação ao material de som das conferências de imprensa e eventos: é necessário ter muito cuidado, porque muitas acções bem pensadas fraquejam por causa da qualidade do som.

 

Uma das coisas boas que nós temos aqui na Universidade de Verão é a qualidade do som.

 

Uma vez vi o Prof. Cavaco Silva no Porto a fazer uma intervenção. De cada vez que se aproximava do microfone existia um ruído de feedback. Tentou falar várias vezes até que se fartou e desistiu do microfone. Moral da história 2/3 das pessoas não ouviu nada e  todas as pessoas se queixavam do ruído do microfone.

 

Nas entrevistas pensem aquilo que querem dizer. Criem mensagens novas e tirem fotos, sobretudo para a imprensa local e regional.

 

Na rádio, usem voz firme e levem notas, apesar de não as deverem ler. Se eu ler um texto na rádio, o público que me está a ouvir percebe que eu estou a ler. Nesse caso não estou a comunicar.

E, na rádio, cuidado também com as pausas. Às vezes há a tentação de as fazer para criar suspense: ora o vosso único contacto com o emissor é o som, daí que uma pausa seja uma morte porque dá a ideia que houve um problema ou a emissão foi abaixo. Trata-se de um corte na comunicação, por isso cuidado com as pausas na rádio.

 

Na televisão as respostas têm de ser mais curtas que na rádio. Para os homens diz-se que o melhor é gravata vermelha sob camisa azul, fato sem riscas, nem brilho, presumo que para as senhoras seja o equivalente mas sem gravata, em princípio.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

No que diz respeito à rádio, às pausas e ao silêncio, a maior parte dos políticos tecnicamente torna-se mais redondo por causa da forma como os jornalistas colocam as perguntas, ou seja, o jornalista pega no microfone, faz uma pergunta, aponta-o.

A tendência dos políticos é continuar a falar porque têm medo do vazio. É um medo desnecessário. É que o jornalista através dos cortes de som consegue montar a nossa resposta de forma escorreita.

 

Falemos de novos meios.

Nós somos uma espécie de privilegiados, tendo em conta o nosso acesso à informação ou por causa do nosso interesse na questão política.

No País existem cinco milhões de acesso à banda larga, não apenas de acessos à internet mas daqueles que nos permitem ver imagens e som ao mesmo tempo. No País existem também sete milhões de televisões, segundo dados do INE, o que significa que a internet é um meio quase tão banalizado como a televisão.

No entanto estamos sempre a pensar nos velhos meios.

 

À vossa esquerda vocês têm 59 mil exemplares de papel do Público, as vendas deverão andar à volta das 25 mil por dia. Por outro lado, o número de visualizações por dia na sua página da internet é de 163 mil, ou seja, o Público online é mais lido.

 

Esta é a comparação entre o célebre Jornal Nacional da TVI, que é visto por 818 mil espectadores diariamente. Por outro lado, a audiência diária do Sapo são 996 mil pessoas…

 

Quem é que aqui tem Blogue, Twitter ou Facebook?

 

Portugal é o terceiro País na Europa com a maior penetração de redes sociais, depois o Reino Unido e da Espanha. Existem 2,4 milhões de utilizadores no Facebook, ou seja, ¼ da população está nessa rede. E na nossa classe etária a percentagem é muito maior.

 

Se os media são Poder, então nós também temos Poder quando estamos a fazer um blogue, um tweet ou post no facebook, porque estamos a escolher a nossa programação, o que queremos destacar, significando que o poder é nosso. O Poder está na rua. Fazemos aquilo que queremos.

Nós somos assim, uma espécie de “Che Guevara”, donos e proprietários de “medias” com a sua própria audiência, seja de dez pessoas ou de 10 mil, como alguns facebooks.

 

Esta nova forma de fazer política, usando os novos meios, traz uma mudança de linguagem muitíssimo relevante: quer quanto à dispersão da mensagem quer quanto aos resultados.

 

[VÍDEO HUGO CHÁVEZ]

 

Este vídeo atingiu rapidamente milhares de visualizações. Aqui troça-se de dois Ministros [Pinho e Lino] que deixaram de o ser…

 

Qual é que vocês acham que foi o programa mais visto durante as últimas eleições legislativas? Terá sido a Judite de Sousa e a Grande Entrevista? Os programas eleitorais? Os “Gato Fedorento”?

Foram mesmo os “Gato Fedorento”.

 

Houve aqui qualquer coisa que mudou no País. A mensagem política passou a usar imenso o humor. Ou seja, temos mesmo que trabalhar em novos meios.

 
Dep.Carlos Coelho

15 Conselhos para falar em público

 

1.º Conselho - Não ter medo do medo.

Eu gosto muito de recordar a história de uma grande actriz norte americana, Sarah Bernhardt.

Uma vez em palco a actriz perguntou a uma corista se ela estava nervosa. Resposta da corista: “eu nunca fico nervosa antes de entrar em palco”. Sarah Bernhardt olhou para ela e disse-lhe: “há vir a ficar, minha menina, no dia em que tiver algum talento”.

Ou seja, é normal ter medo quando entramos em palco e esse receio até pode ser positivo tendo em conta o nosso excesso de confiança que nos pode levar a cometer alguns erros.

 

Ainda sobre o medo, uma coisa que lhe está associada é o nervosismo que leva algumas pessoas a não saber o que fazer com as mãos durante uma intervenção. Passo a palavra ao Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

A tendência é meter as mãos nos bolsos. Errado. Isso significa, em primeiro lugar, má educação. Em segundo lugar, perdemos um elemento fundamental de comunicação, que são as nossas mãos.

 

Ora se, quando estamos nervosos, o corpo produz adrenalina, nós temos que a “enfiar” em algum sítio. Temos de criar um escape para o nervosismo.

 

Costumo recomendar às pessoas que segurem alguma coisa nas mãos. Uma caneta, por exemplo. É um óptimo escape para o nervosismo.

 

O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa passa o tempo a brincar com o relógio, é o seu escape. O Prof. Cavaco Silva fala sempre da mesma maneira em que os gestos são sempre iguais, quase mecânicos. Ele criou um mimetismo que é o seu escape.

 
Dep.Carlos Coelho

2.º Conselho – Ser firme: não atrair os abutres!

Como as moscas são atraídas pelo sangue, numa assembleia muitos são atraídos pela nossa fraqueza. É mais fácil atacar quem tem dificuldade em se defender. Isso sucede na natureza também, os predadores vão atrás dos mais fracos.

Sejam firmes! Nem que tenham de aparentar mais firmeza do que a que sentem!

Há vários truques para enfrentar audiências. Um deles é não nos afundarmos no papel! Mas para quem não gosta de enfrentar os olhares dos outros, outro truque é olhar um palmo acima da última cabeça.

Dá a aparência de estarmos a olhar para a audiência.

 

3 – Não começar a falar sem definir o objectivo e intuito da intervenção.

Imaginem que quero fazer uma intervenção sobre Economia. Mas qual é o meu objectivo? Eu posso querer ser racional e dizer qual é o meu modelo económico para Portugal. Ou posso querer transportar emoção, aí tento lançar uma campanha sobre determinada medida. O intuito nesse caso é diferente. A estrutura do discurso não é a mesma.

 

Vamos ver alguns exemplos de uso de uma intervenção – a resposta a um pedido de esclarecimento - com objectivos diferentes.

 

[VÍDEO 1]

 

Como viram, há uma pergunta e uma resposta muito objectiva.

 

[VÍDEO 2]

 

Aqui, neste exemplo, aproveitei a pergunta para mudar a conversa. Em vez de responder objectivamente, meti outros assuntos. Ou seja, aproveitei para fazer uma derivação.

 

Vejam agora um exemplo de uso da “resposta a pedido de esclarecimento” para puro contra-ataque, desfocando o tema central da conversa.

 

[VÍDEO 3]

 

Vejam que até a figura mais limitada do debate político pode ser usada com intuitos tão diversos.

 

4.º Conselho – Não ignorar a audiência. Discursar não é arengar para o vazio. Uma comunicação bem feita não é um acto unívoco. Eu estou a falar convosco e vejo pelas vossas caras se estão com atenção ou distraídos, se estão a gostar ou não.

Falar para uma Assembleia não é falar com, é falar para.

 

Retenham a sigla “AIR”: devemos assegurar-nos que a assembleia nos presta Atenção, devemos conquistar o seu Interesse e assegurarmo-nos que ela vai Recordar aquilo que dissemos.

 

5.º Conselho – Não esquecer que os outros nos vêm.

Não se “ouve” um discurso, normalmente “vê-se” um discurso. Vê-se o orador, os seus gestos, a expressão, o nervosismo, etc.

Urge “representar” o discurso, ter linguagem gestual. Nada de gestos exuberantes. É que, para lá do discurso, as pessoas focalizam-se apenas no acessório, na rábula.

Temos aqui exemplos de bons comunicadores que falharam.

Vejam os tiques. Quando eles são habituais ou muito exuberantes tendem a desviar as atenções.

O eng. Guterres tinha o tique de compor o cabelo. Quando ele falava, muitos já só estavam atentos ao momento em que ele se descuidaria e faria o gesto de novo.

 

Outro exemplo: Marcelo Rebelo de Sousa, outro grande comunicador. Quando foi presidente do PSD deu uma entrevista ao Miguel Sousa Tavares e à Margarida Marante. Fez a brincadeira de ora tomar notas com a mão esquerda ora fazê-lo com a direita. E fazia desenhos.

A determinada altura as pessoas deixaram de atentar nas suas palavras para passara a atentar nas suas mãos.

Era uma coisa que desviava as atenções do essencial.

 

[VÍDEOS ALUSIVOS]

 

6º Conselho - Tenham atenção à vossa imagem as pessoas só votam em quem confiam. Passo a palavra ao Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Reconhecem este senhor na imagem? Isso mesmo, Lula da Silva, nos tempos da sua anterior imagem.

Vocês elegiam este senhor para algum cargo público? Quer dizer, se o vissem na rua talvez mandavam vir a polícia, com medo? A verdade é que “este” Lula candidata-se três, quatro vezes à presidência brasileira, perde sempre, sucessivamente, até que um dia se apresenta a votos com outro visual.

Cá está ele, gravata quase monocolor, pin na lapela, a barba aparada, o cabelinho arranjado. Este sim, é um homem a quem podemos confiar a chave de um carro, de uma casa, já lhe emprestamos o país para ele poder governar.

“Este” Lula ganha as eleições. Reparem como ele está diferente daquela imagem de sindicalista árduo e trabalhador que tinha há uns anos atrás.

Claro que mudou o discurso, mas mudou sobretudo de imagem.

Lembrem-se: as pessoas só votam em quem confiam.

 
Dep.Carlos Coelho

7º Conselho - Não falem sem sentir o que se diz.

Recusem o discurso monocórdico, transmitam as vossas emoções, aquilo que vocês acham, aquilo que sentem, aquilo em que acreditam. As pessoas sentem quando nós falamos com o coração e sentem quando nós estamos a mentir. A autenticidade do discurso é um elemento essencial da sua eficácia.

Vai ser-vos distribuída uma brincadeira já muito conhecida.

É uma tabela com palavras dispostas em colunas. Escolhendo uma expressão de cada coluna podemos fazer 10 mil combinações de frases bonitas mas sem sentido.

São 10 mil oportunidades de não dizer nada.

10 mil oportunidades de não convencer ninguém e de soar a falso.

 

8º Conselho - Ganhem a simpatia do público.

O primeiro discurso não tem de ser um discurso muito elaborado, mas deve ser um discurso que ganhe a simpatia do público. Sejam modestos sem serem humildes ou simplórios; não tenham receio de parecer simples. Às vezes nós nas primeiras intervenções queremos dar ideia que somos uns grandes trutas, capazes de fazer discursos muito complexos, isso não é o mais importante, sobretudo se se é jovem.

 

[VÍDEO RODRIGO MOITA DE DEUS]

 

Não é um discurso muito substancial, mas deixa um ar de simpatia. As pessoas pensam: “o jovem está a dar as primeiras palavras, foi elegante, não atacou os outros, disse qual é o espírito com que está aqui”. Ganhou a simpatia dos interlocutores. Não desconsiderem esta ideia de ganhar a simpatia.

 

9º Conselho - Não sejam chatos.

Falar mais de 20 minutos é um erro. Não sigam o meu exemplo e o do Rodrigo aqui hoje.

Sejam breves e concisos, não falem depressa demais. E cuidado quando falam sem papel porque perdem a noção do tempo.

Recusem o discurso redondo. O que é o discurso redondo? Todos nós passamos por essa fase, a ideia que temos que falar com elegância. A comunicação não é um concurso de elegância, é um concurso de eficácia. Entre ser muito sofisticado ou mais eficaz, o que interessa é ser eficaz, não é utilizar palavras muito complicadas para as pessoas dizerem: “Este gajo é muito inteligente”. Não, é utilizar palavras que toda a gente compreende, para que toda a gente perceba o que nós dizemos. Temos aqui um exemplo de um discurso redondo, simulado na altura pelo Gonçalo Capitão, antigo Deputado da JSD.

 

[VÍDEO CAPITÃO 1]

 

Uma pessoa ouve isto e pensa: “O que é que ele quer dizer? O que é que ele quer dizer com esta coisa?”. E o que ele quer dizer é uma coisa muito simples e pode-se resumir de uma forma mais clara...

 

[VÍDEO CAPITÃO 2]

 

Era isto que ele queria dizer. Só que a primeira vez, num discurso escrito talvez funcionasse, num discurso oral não funcionou.

O discurso mais directo é, de longe, mais eficaz.

Mais: o discurso político não é um exercício de elegância, é um exercício de eficácia.

 

10º Conselho - Nunca decorem um discurso escrito.

Quem decora um discurso escrito, arrisca-se a perder a meio e depois já não consegue apanhar.

 

[VÍDEO]

 

Esta é uma situação cruel.

E acontece quando um texto não é feito por nós e não o adaptámos à nossa linguagem ou não o trabalhámos.

 

 

11º Conselho - Nunca descurar as defesas.

Lembrem-se que podemos ser sempre alvo de ataques.

Um deles é o clássico: “O senhor não disse nada que merecesse a nossa atenção”.

Contra isso, usem o “truque” de incluir grandes princípios num discurso escrito. Princípios que todos têm que subscrever. Assim antecipar ataques.

Exemplos:

- não há solidariedade sem reduzir as diferenças gritantes entre os cidadãos

- não há progresso justo em Portugal, sem que ele se faça sentir em todas as regiões do país. Etc.

Usem “cool words”: participação dos cidadãos, qualidade de vida, ambiente, bem-estar, transparência de administração, vocês num discurso de fundo conseguem sempre pôr conceitos e princípios que são relativamente universais.

 

São grandes princípios, em função do tema da intervenção, que reduzem a capacidade dos nossos opositores de dizer: “O que o senhor disse foi completamente irrelevante, não disse nada de jeito.” “Não disse? Então é porque o senhor não concorda com a igualdade, com a transparência, com a redução de assimetrias, etc”.

 

12º Conselho - É melhor responder que não se sabe do que simular conhecimento.

Não há nada pior em política do que o ridículo da pessoa fingir que sabe e ser apanhado na curva.

Se eu estiver num debate, por exemplo numa rádio, e for confrontado com uma coisa que não sei, a pior coisa que eu posso fazer é fingir que sei e depois ser desmascarado. É melhor arranjar um escape, dizer “Nunca tinha visto este problema sob esse ângulo, parece-me interessante, pode ser talvez perigoso, ou inaplicável ou de difícil execução, mas gostaria de pensar um pouco melhor antes de me pronunciar”. A pessoa diz “Olha que curioso, aqui está uma pessoa séria, não é precipitado.”

 

Uma forma mais elegante é dizer ao nosso interlocutor: “Evocou argumentos novos que merecem reflexão”, “Se reagisse de imediato não lhe faria justiça, prefiro valorizar os seus argumentos, pesá-los com outras opiniões, e voltar ao assunto na próxima oportunidade”. Encontrar uma forma elegante de sair, mas não nos deixarmos atolar numa situação em que, objectivamente, nós não dominamos o jogo.

 

13º Conselho - Atacar com firmeza, protegendo a retaguarda.

Nunca afirmem o que não sabem ou aquilo de que não têm provas. Uma expressão muito interessante é o “parece-nos que”.

Vamos supor que há um escândalo numa autarquia envolvendo o Presidente da Câmara e que eu sou membro de uma assembleia municipal pela Oposição.

Imaginem esta intervenção: “a confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e políticas”. Isto tem um peso. E eu nem estou a afirmar nada nem a acusar ninguém. Reporto-me apenas a rumores.

E imaginem uma tirada com um pouco mais de picante: “… temos que retirar consequências políticas e criminais”. Aqui estou a subir um bocadinho mais na pressão política...

 

14º Conselho - Nunca atacar com maldade, dosear a agressividade.

Nunca façam ataques pessoais, mas podem insinuar com fundamento e com clareza. Se formos atacados, devemos representar a indignação, deixá-los envergonhados.

 

Vejamos os seguintes exemplos.

 

[VÍDEO CAPITÃO 3]

 

Portanto, fomos atacados e dissemos aos Comunistas o pior que se lhe pode dizer. “Os senhores são como os fascistas”. Primeiro faz-se o tributo “aos senhores lutaram pela liberdade, pela democracia” para depois lhes dizermos que estão a fazer o mesmo que os fascistas.

 

[VÍDEO CAPITÃO 4]

[VÍDEO CAPITÃO 5]

 

Neste último vídeo o Gonçalo Capitão foi aquilo que se chama um “filho da mãe educadinho”: sem ofender deu uma boa cacetada.

 

15º e último conselho - Nunca admitam ser inferiorizados pela idade, sexo, cor da pele ou o que quer que seja.

Sempre que isso acontecer, têm que se vitimizar e recorrer à defesa da honra. Um exemplo da defesa da honra do Gonçalo Capitão:

 

[VÍDEO CAPITÃO 6]

 

Nunca aceitem ser discriminados sem reagir.

 

Finalmente, numa das Universidades de Verão, houve uma colega vossa que me perguntou: “e se a discriminação for múltipla?”

Nós somos um país um bocadinho machista e, nalgumas áreas, racista. Portanto eu quero que imaginem a situação de uma mulher, jovem, negra, que é ridicularizada numa assembleia. O que é que ela deve fazer?

Nós começamos a pensar nisso e achamos que o ideal seria uma resposta deste género: “Vejo-o nervoso, agressivo e precipitado, não sei o que o perturba mais... (para qualquer homem a ideia de estar perturbado por uma mulher é logo um ataque forte)… não sei o que o perturba mais: se o facto de eu ser jovem, de ser mulher ou de ser preta? Qualquer dos receios... (dizer a um homem que tem receios é muito violento)... qualquer dos receios  só por si já o deveria embaraçar. Concentre-se no que eu aqui afirmei e na razão que me assiste. Tudo o mais é preconceito que o deveria envergonhar.»

 

O sangue frio valoriza a reacção e impede o disparate. Se o conseguirem, ganharam a comunicação.

 

Muito obrigado pela vossa atenção.

 

[PALMAS]

 

Pedro Rodrigues

Muito obrigado a ambos.

Vamos agora dar início à ronda de perguntas dos grupos.

 
Rafael Antunes

Actualmente, vemos o pessimismo do BE e o populismo do CDS.

Mesmo assim, vemo-los passar a mensagem e ouvimos as pessoas na rua a dizerem: “ele até tem razão”.

 

Será que eles escolhem soundbites melhores que os nossos?

Devemos ir no mesmo sentido?

Obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Os soundbites servem para ajudar o público a memorizar a mensagem! Eles têm uma funcionalidade que é impossível ignorar.

Pelas razões que demonstrámos, não é possível fazer política hoje em dia sem aplicar técnica. Até porque essa técnica serve para garantir que o público ouve a nossa mensagem.

 

Quem é a mensagem? Ahh, esse é outro problema…

É óbvio que é mais fácil ao BE que ao PSD ter uma linguagem agressiva/divertida. É que o PSD é um partido de poder.

Como o BE nunca será partido de poder, tem uma grande “vantagem” para construir todos os soundbites do mundo: não precisa de se preocupar com a memória dos eleitores…

 
Tiago Gualdrapa Soares

Nos EUA os talk shows entraram na rotina e são amplamente usados para fazer a análise política diária.

Há diversos: “Late night”, “Tonight Show”, “Jon Stewart”, entre outros. Em Portugal tivemos há pouco tempo o “Gato Fedorento esmiuça os sufrágios”, tal como já tivéramos o “Diz que é uma espécie de magazine”, que nos trouxe uma sátira ao Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e à polémica do aborto.

O “Não” ao aborto, defendido pelo Prof. Marcelo, acabou por perder o referendo.

No seu ponto de vista, humoristas como Bruno Nogueira, Rui Unas, os Gato Fedorento têm poder ao manipular as massas com o seu humor político?

 

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

O humor é uma arma usada em política já desde os gregos. Chama-se sátira!

É das armas mais poderosas porque com ela conseguimos colar preconceitos às pessoas através da piada.

Conseguimos fazer quase tudo com o humor e este permite uma coisa adicional: a desresponsabilização! Conseguimos dizer quase tudo o que quisermos de uma pessoa e os outros desvalorizam Porquê? Porque a palavra corrente é: “ele estava só a fazer humor”…

 

Programas como o “Diz que é uma espécie de magazine” têm grande impacto. Nos EUA, uma sondagem credível disse que 60% dos jovens têm o programa do Jon Stewart como o único contacto com a informação. E notem que não se trata de um programa de informação…

 

Quando olhamos para o sucesso desses programas temos de nos lembrar que os programas tradicionais, sobretudo acerca de política, são uma autêntica “seca”. Temas banais comentados sempre da mesma forma por representantes dos diversos partidos.

 

A irreverência desses programas de humor é muito cativante. Não é difícil de perceber o seu sucesso.

 
Ricardo Rosa

Na comunicação política em Portugal, não estaremos nós a ligar muito à aparência e menos ao conteúdo?

Dou o exemplo da arrogância e vaidade de José Sócrates.

 
Dep.Carlos Coelho

Uma comunicação eficaz é aquela que tem os dois elementos: conteúdo e forma.

E conjugando-os, temos 4 casos.

- uma mensagem não ter nem conteúdo nem forma adequada. Ela é um total fracasso.

- haver conteúdo mas a forma é má. Vocês ficam de consciência tranquila mas a mensagem não chega às pessoas.

- não haver conteúdo (ou haver conteúdo duvidoso) mas a forma é excelente. Pode resultar em sucesso, mas será sempre efémero.

- a boa comunicação política é aquela que tem ambas as qualidades: substância e boa forma!

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Há uma forma de fazer política que é a política sem vergonha. Essa é a política sem memória. A política de fazer tábua rasa do que dissemos ontem e hoje vir dizer algo totalmente diferente ou contrário.

Essa é a política do Eng. Sócrates.

 
Sandra Gomes

Hoje em dia, a comunicação é fundamental para que as empresas consigam vender os seus produtos. Muitas delas recorrem a agências de comunicação e de publicidade para o fazerem, assumindo ser uma boa medida estratégica.

Vemos também algumas vezes alguns políticos declararem à imprensa que não recorrem a agências de comunicação, notando-se algum preconceito a esse nível.

Mas existirá esse preconceito? E que preconceito é esse?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Essa é uma pergunta que me pode comprometer [RISOS].

Para quem não sabe, eu trabalho com uma agência de comunicação e já trabalhei também para o Grupo Parlamentar do PSD e nessa altura não houve qualquer preconceito.

O Governo também repete muitas vezes que não trabalha com agências de comunicação. Em todo o caso, não precisa, pois este Governo é em si profissional de comunicação.

 

[PALMAS]

 

De facto, existe esse preconceito. É um política pensa que se precisa de um profissional de comunicação é porque não está a trabalhar bem, o que nem sequer é mentira, porque o público percepciona as coisas dessas maneira.

Mas imaginem um líder partidário em campanha. Faz no mínimo 3 intervenções por dia.

Acham que ele pode escrever 3 intervenções por dia? Está num almoço a pensar no que vai escrever para a intervenção da tarde e durante a tarde no que vai dizer no jantar comício e durante o jantar vai estar a pensar no que vai dizer aos jornalistas na manhã seguinte?

Que vida diabólica seria esta.

Claro que precisa de alguém! Alguém que o ajude a pensar, que o liberte da redacção das suas próprias ideias. Não é no carro, a fazer quilómetros que ele vai escrever os discursos.

Isso seria a política sem profissionalismo.

 

Vejam que o primeiro partido a defender a profissionalização dos seus quadros foi, pasmem, o Partido Comunista russo. Lenine, quando escreve os “Cadernos de Maio”, uma espécie de manuel de como tomar o poder, ele exige a profissionalização do partido. E nos partidos comunistas todos eles são profissionais, porque precisam de se dedicar 100% à política.

 

Sim, esse preconceito existe e cabe-nos a nós, profissionais da comunicação, combatê-lo.

 
Renato Guardado

Imagine que se encontra numa conferência de imprensa e tem os jornalistas a tentar que fale de assuntos polémicos internos do partido ou da sua própria vida pessoal.

Que técnicas usaria para fugir a esse tipo de perguntas?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Vamos ser claros: nós somos os donos da mensagem e temos todo o direito de numa conferência de imprensa dizer “não respondo”.

Imaginando o caso anterior da conferência de imprensa sobre o Grupo Turquesa e há um jornalista que faz uma pergunta acerca do projecto de revisão constitucional do PSD.

A resposta só pode ser uma: “desculpa mas não estamos aqui para falar sobre esse tema. Estamos aqui para falar sobre a Universidade de Verão”. E não se sai disso.

Claro que tem um custo, que é a imprensa escrever que nos recusámos a responder mas esse é um risco menor porque nos “enterrarmos” ao falar de um tema para que não estávamos preparados.

Se quisermos comprar a guerra da pergunta, podemos dizer: não estamos aqui para falar sobre isso mas eu respondo à sua pergunta. E aí damos a nossa posição, mas corremos o risco que a notícia da conferência de imprensa seja essa declaração e não o tema que preparámos.

 
Mariana Ferreira Macedo

O marketing político tem uma enorme importância na actualidade. Exemplos disso são as campanhas realizadas no Brasil e, mais recentemente, nos EUA, com Barak Obama.

Sobretudo esta última campanha mostrou-nos o poder do marketing, nomeadamente promovendo o voluntariado eleitoral. E vimos também o poder das redes sociais numa campanha.

 

Recentemente, assistimos ao uso que a rainha da Jordânia fez do facebook para desmistificar preconceitos face ao Médio Oriente. Ela própria respondia a pessoas de todo o mundo. A isto assistiram milhares de pessoas.

 

Não acha que esta é uma nova e muito eficaz forma de fazer política? Que relevo lhe atribui?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

O marketing político é fundamental. É uma ferramenta que nos serve de guia para um determinado período de tempo.

E nem precisamos de ir à campanha do Obama. Se eu tivesse 100 euros por cada vez que me falam da campanha do Obama estaria hoje rico.

Pode não ir tão longe e ficarmo-nos pela campanha do aborto. Tivemos centenas de blogs criados para o efeito. Tivemos a participação da população em geral, o chamado “empowerment”. Vimos isso tudo na campanha do aborto.

E porquê? Agora vem a parte chocante: é que a campanha não era partidária! E nos casos que referiu assistimos a uma despartidarização das campanhas. Nelas, os partidos quase desapareceram.

E isto deve-se aos preconceitos. As pessoas têm má opinião dos partidos e da política.

A única forma que temos de conseguir o tal “empowerment” é despartidarizando as coisas.

É irónico que tenham de ser os partidos a adoptar a estratégia da despartidarização das campanhas e é mau para a democracia que 36 anos depois as pessoas estejam assim tão fartas.

 

Relativamente às redes sociais, mudou tudo. Aliás, mudou toda a nossa forma de comunicar. Costumo dar este exemplo. Há 25 anos atrás, a loja da Bertrand que mais vendia era a do Chiado. Hoje em dia é a loja online. Há agora uma aplicação que permite ler livros no telemóvel. Neste natal, por essa aplicação foram vendidos mais livros que pela Amazon.

Nós, antigamente, metíamos um outdoor e o público levava com a nossa mensagem e “ponto final”. Hoje não. Hoje colocamos um outdoor e as pessoas comentam, dizem se gostam ou não, gira-se comunicação em torno disso. Porquê? Porque as pessoas hoje têm as ferramentas para se tornarem importantes.

As coisas mudaram, mas mudou sobretudo isso: hoje as pessoas têm ferramentas de comunicação em massa.

 
Isabel Pinho

Actualmente, a internet permite que toda a qualquer pessoa tenha um palco privilegiado para se fazer ouvir. E fá-lo em meios de comunicação desprovidos de censura, acessível a todos e com visibilidade muito elevada. Exemplo disso são os blogs.

 

É frequente a difamação e a criação de buzz negativo nesse tipo de meios, o que leva a graves entraves a quem quer fazer política de forma séria.

Como nos podemos proteger e que medidas podemos tomar para que esses comportamentos não se desenvolvam?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Os social media, que são os meios de comunicação cujo conteúdo somos nós que produzimos, têm esse “pequeno” problema de não terem filtro. Mas é também uma enorme vantagem.

Antigamente, a única forma de um político falar com o eleitor era através de um senhor chamado jornalista.

Hoje já não há absoluta necessidade dessa intermediação.

 

É um meio muito próximo do selvagem. Graças a deus não há uma Alta Autoridade para a Comunicação dos Blogs. Mas há uma forma de censura, ainda assim. Qual é?

É a audiência, e esta tem a ver com a qualidade. Temos imensos casos de pessoas que passaram a ser conhecidas devido aos blogs. O Daniel Oliveira, por exemplo. Ou o Pedro Marques Lopes.

E temos casos de pessoas que se achavam muito conhecidas mas quando foram escrever para os blogs não resultou.

 

Por isso a maior censura é a audiência. Reparem que há cada vez menos blogs anónimos. Porquê? Porque esses não têm audiência. Sem credibilidade não há audiência. Por isso opta-se por dar a cara, porque isso traz credibilidade.

Em todo o caso, não há maior gerador de preconceitos e campanhas negativas como os social media. Como se combate? Gerando uma campanha positiva ao lado!

 
Arnaldo Trindade

Relembrando o vídeo “Blair/Cameron”, de que modo a linguagem corporal influencia a comunicação política?

 
Dep.Carlos Coelho

A linguagem corporal é importante para transmitir emoção. Vocês não ouvem um discurso, vocês vêem um discurso.

Daí que quando querem fazer passar uma mensagem emocionalmente forte, devem representar bem o discurso.

Imaginem que eu estou a dizer que a minha avó faleceu e ponho um sorriso nos lábios. Não funciona! Mas nós vezes muitas vezes isso acontecer, sobretudo com jornalistas apresentando calamidades nos telejornais.

É por isso que tem de haver uma consonância entre o discurso ouvido e visto.

Depois, temos de adaptar isso a cada target. Há assembleias em que não existe problema se o orador estica um dedo acusador e outras em que isso é mal visto porque “é feio apontar”.

Temos de analisar bem a sala: as idades, estratos sociais, se há ou não jornalistas na sala (há liberdades que podemos ter caso não exista imprensa na sala, por exemplo).

 

Portanto, tem de haver sintonia entre a linguagem corporal e a substância, e adaptação entre a linguagem corporal e a nossa audiência.

 
Nuno Carrasqueira

A comunicação quando é bem feita consegue fazer passar mensagens falsas, repetindo-as até se “tornarem” verdades.

Como combater isso?

 
Dep.Carlos Coelho

Em primeiro lugar, é mais fácil passar uma mensagem simples que uma difícil. Ao Governo, é mais fácil vender uma medida popular que uma impopular.

Dito isto, às vezes associamos à mensagem erros que não são da mensagem mas sim da estratégia. Sobretudo erros da estratégia do adversário. Quando não construímos bem a nossa mensagem, o adversário tem o caminho aberto para nos comprometer.

Lembrem-se que a comunicação não é apenas a forma como falamos mas também a forma como definimos a nossa estratégia: quando falamos, em que meio, de que maneira, etc.

Se não formos inteligentes na definição, deixamos o campo aberto ao adversário.

 
Maria João Ramos

Nas últimas décadas, e a partir do conceito de soberania popular, passámos um século e meio a trabalhar para as massas e a tentar saber como as conquistar. E, de repente, aparece uma coisa chamada facebook que altera todo esse conceito.

O paradigma altera-se e começamos a direccionar a mensagem a título individual.

Como pode o PSD fazer chegar a sua mensagem às massas e qual e melhor forma de combater a abstenção, de modo a ganhar as próximas eleições, fazendo jus à soberania popular?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Nos últimos 100 anos tivemos 20 de I República, onde os senhores se andavam a matar uns aos outros – o povo estava escondido dentro de casa, pelo que não havia soberania; tivemos depois 60 de ditadura salazarenta, onde era proibido o exercício do voto; é por isso que temos muito pouca experiência de soberania popular, como a exercemos todos os dias.

 

E também não é verdade que o facebook mudou o mundo. Na revolução cultural chinesa, as autoridades criaram um muro onde se podia deixar mensagens. As pessoas aproveitavam para denunciar os vizinhos para não irem elas presa.

Isto é como o facebook: partilha de pensamentos.

O que muda, afinal? Muda a velocidade!

E muda a sensação (bem real) de poder.

Cada um de nós tem um poder imenso!

Ontem éramos ninguém, porque a nossa audiência eram as 20 pessoas com quem nos dávamos e hoje a nossa audiência são os 2.4 milhões de utilizadores do facebook em Portugal.

 

O PSD tem, em primeiro lugar, reconhecer esse poder. Tem de estar atento a todos estes mecanismos.

Havendo isso, talvez o PSD consiga fazer uma coisa que os partidos foram deixando de saber fazer: ouvir! Ouvir as pessoas.

 
Dr.Pedro Rodrigues

Terminaram as perguntas dos grupos e vamos iniciar as perguntas livres.

 
Dr.Pedro Rodrigues

Terminaram as perguntas dos grupos e vamos iniciar as perguntas livres.

 
Tiago Cartaxo

Há pouco vimos que David Cameron criou a sua imagem política baseada na de Tony Blair. Foi uma ideia de sucesso esta a de clonar uma imagem também ela de sucesso.

Acha que Passos Coelho devia seguir este exemplo ou manter o seu estilo?

 
Mariana Ferreira Macedo

Peço que me esclareçam um pouco melhor sobre a utilização do “parece-nos que”.

 

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Na política, o “parece-nos que” ou o “acho” não devem ser usadas com frequência. Até porque um político não acha nem lhe parece. Um político sabe! Não tem hesitações.

Não há pior palavra em política que o “acho”. Vocês ou sabem ou vão para casa.

 
Dep.Carlos Coelho

Concordo relativamente ao “acho”.

Quanto ao “parece-me”, é uma expressão que pode ser utilizada em casos de buzz sobre coisas delicadas. É uma defesa.

 

O Tiago Cartaxo pergunta se Passos Coelho deve imitar alguém. O Pedro Passos Coelho não deve imitar ninguém, sobretudo não deve imitar José Sócrates.

Se o líder do PSD der a ideia que é um mimetismo de Sócrates, está acabado. Temos de protagonizar uma alternativa a sério: na substância e na forma.

 
Jorge Manuel Oliveira

Na última campanha eleitoral assistimos a comícios do PS um pouco à americana: um púlpito a meio e o público em volta desse púlpito.

O PSD, pelo contrário, adoptou a forma tradicional, com um palco, a audiência na frente e alguns dirigentes (nomeadamente da JSD) a fazer fundo ao discurso.

Qual destes modelos considera o mais apropriado?

Há pouco referiu que com os social media nós ganhámos imenso poder, mas por que será que a televisão ainda tem tanto poder?

 
Helena Dias

Será que hoje, com o descrédito da política e dos políticos, a mensagem individual feita para um grupo de amigos via facebook passou a ter mais força que a mensagem dos dirigentes partidários?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Hoje em dia, todas as aparições públicas devem ser pensadas tendo em conta o espectáculo. Tudo aquilo é um espectáculo. E está cronometrado. Pensamos tudo. Desde como a pessoa entra até aos ângulos de câmara.

O PS é mestre a fazê-lo!

E hoje o PSD está a saber fazê-lo também.

É raro o evento do PSD que não tenha transmissão “live” para internet. E tudo tem de ser pensado como se fosse um espectáculo estruturado ao pormenor.

Porquê? Por uma questão de atenção do público. É preciso garantir que as pessoas ficam impressionadas ou sensíveis à mensagem e que a mesma chegue em condições ao público que está em casa.

 

Quanto à televisão e à audiência.

A televisão tem cerca de 100 canais, mas a audiência divide-se em 4 grandes canais. Na internet, há milhões de canais. Cada blog, cada perfil de facebook, é um canal. A audiência é maior: há mais gente com ligação à internet que com TV Cabo, mas a atenção é mais espartilhada na net que na tv.

 

Falemos de conteúdos: os canais e meios tradicionais são negócios e vivem da publicidade. Para terem publicidade, precisam de audiências. Essas audiências conseguem-se com conteúdos que atraiam as pessoas. E quais são? Futebol, crime, sexo, futebol, sexo, sexo, sexo. Os media tradicionais deixaram de ter espaço para discutir ideias.

Então, onde é que o espaço é de borla? Na internet…

Por isso, se você quiser publicar um artigo interessantíssimo de 15 páginas sobre a pesca do robalo, não há jornal nenhum que o publique nem televisão nenhuma que o convide a falar.

A opção é despejar o artigo na internet. É por isso que a internet se tornou num arquivo de ideias.

 

Quanto à credibilidade da mensagem. As pessoas estão fartas das mesmas técnicas de mensagem. Seja ela política ou comercial. A mensagem do Tide é “lava mais branco”, a do Skip é “lava mais branco”. Qual devo comprar, se ambos dizem o mesmo?

Hoje, a mensagem poderosa é a chamada “peer to peer recomendation”, a mensagem típica de alguém que usou o detergente A e diz que está satisfeita.

Essa é a mensagem que funciona.

Assim, uma pessoa dizer no café: “eu gosto do Pedro Passos Coelho” é muito mais importante que qualquer rede de outdoors. Porquê? Devido ao cansaço quanto às técnicas de mensagem e a falta de crédito dos políticos.

 
Edi Lemos Gama

A Inglaterra tinha até há pouco tempo uma forma muito tradicional de fazer política. Os próprios debates entre candidatos só surgiram há relativamente pouco tempo, coisa que cá já se fazia há anos.

Acha que corremos o risco de vermos uniformizada a forma de fazer política em todo o mundo ocidental?

 
João Serra

Imagine que tenho uma entrevista em que receio espalhar-me ao comprido. Devo refugiar-me pedindo as perguntas por escrito ou isso levaria facilmente a que pensassem que estou receoso ou mal preparado?

 
Dep.Carlos Coelho

Oh João, ponderadas as coisas, se há grande risco de meter a pata na poça, o melhor é não dar a entrevista.

Se pretender mesmo dar a entrevista, uma das defesas é pedir as perguntas por escrito.

Outra é a entrevista gravada em que cada uma das partes fica com cópia da gravação, até para sua defesa.

O que costuma acontecer é que, por razões de espaço, a entrevista nunca sai toda e, geralmente, a parte que sai é que provavelmente menos lhe interessará…

 

Quanto à comunicação uniformizada, como estamos num mundo global, o mais provável é todos nos imitarmos nas boas ideias. Porém, não creio que se possa falar em uniformização porque a lógica da comunicação é falarmos para sectores, ou targets. Falar para um português não é o mesmo que falar para um chinês, e isto não tem só a ver com a língua, mas com a cultura, a relação com o poder, etc.

Teremos uma standardização de instrumentos, mas não uma uniformização.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Como alguns que vocês sabem, eu participei na campanha contra o aborto. Fi-lo por carolice e não profissionalmente.

O nosso orçamento foram 600 euros. Isso mal dava para um outdoor no Marquês de Pombal. E que fizemos nós? Uma campanha barata de vídeos no youtube.

A campanha do Obama inovou? Sim! Porquê? Porque não tinha dinheiro! Se tivessem angariado o dinheiro suficiente logo nos primeiros tempos, a campanha deles seria standard! Não havendo dinheiro, inovaram.

O que devem reter é que nós vamos sempre evoluir para os mesmos meios até que alguém fique sem “cheta” e invente uma coisa nova e barata.

 
Gonçalo Camarinhas

Havendo hoje tantos políticos a aderirem ao facebook e a convidarem jovens para as suas páginas, como se explica este afastamento dos jovens?

 
Gonçalo Azenha

Um dos conselhos que nos deram foi não falar do que não acreditamos. Porém, muitas vezes temos de defender ideias com as quais não concordamos a nível pessoal. O que fazer nesses casos?

 
Dep.Carlos Coelho

Essa é de facto uma situação complicada.

O meu conselho é fugirem, se possível, a defender ideias com que não concordam. Não devemos ser os protagonistas de uma mensagem do partido dessa natureza.

Podemos refugiar-nos no silêncio. E há sempre no partido quem defende essa mensagem com eficácia, porque acredita nela.

Mas imagine que essa é uma questão estratégica que não pode evitar. Se for uma matéria de consciência pessoal, é-lhe legítimo que diga: “tenho uma opinião diferente da do meu partido”.

Não sendo, aí não há que encarar politicamente a situação.

Mas nunca se esqueça da questão da eficácia: terá menos eficácia se tiver de passar uma mensagem em que não acredita.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Gonçalo Camarinhas, o afastamento deve-se muito aos maus hábitos da política tradicional. Na campanha das europeias, o PS lançou no youtube uma entrevista da Inês de Medeiros ao Vital Moreira.

Até aqui tudo bem.

A entrevista tinha mais de uma hora.

Chato! Chatíssimo!

Usar uma linguagem nova com os vícios do passado é parolice.

 

O tempo está a terminar e eu não podia deixar de vos dizer que venho à UV há 7 anos. Já fui Conselheiro, Avaliador, Orador. Deixei de passar cá os 7 dias quando nasceu o meu terceiro filho.

Devo dizer que venho cá todos os anos porque acho que a melhor coisa que posso fazer é formação e agradeço muito mais esta oportunidade de estar aqui convosco.

 

[PALMAS]

 

Quero também elogiar a vossa criatividade, que me espantou pela positiva!

 
Carla Nazareth

As novas tecnologias começam já a ser usadas em coisas tão usuais como convocatórias e plenários. Já se usa o facebook e o mail para isso.

Esta prática não poderá levar à exclusão de alguns destinatários da mensagem devido ao fosso de gerações?

 
Lília Bispo Martins

Em minha opinião, os meios tradicionais de campanha, outdoors e flyers, estão antiquados, são despesistas e deviam ser postos de parte. Gostaria de saber a vossa opinião sobre isso.

Já agora, para quando um “falar claro” na Assembleia da República?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

De facto, Carla, usar meios inacessíveis a alguns prejudica a comunicação, por isso deve usar vários! Use os adequados a cada público.

O mesmo digo à Lília: não gosta dos outdoors, certo, mas olhe que eles têm a sua utilidade. Se não tiver uma campanha gráfica na rua, é como se ela não existisse.

 
Nuno Miguel Mendes Firmo

Dada a proliferação das empresas de comunicação, e visto que os políticos se preocupam cada vez mais com a imagem, não estaremos a caminhar para um mundo de políticos-bonecos, sem opções e ideias próprias?

Será que a política não estará a perder a sua alma?

 
Sofia Manso

Vemos no Parlamento que o Primeiro-Ministro usa de uma retórica cm a qual foge às perguntas. O CDS apresentou até uma lista das perguntas feitas às quais nunca obteve resposta.

Como se combate isso?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus

Sim, os políticos são cada vez mais bonecos. Vimos há pouco o vídeo do Cameron. Imaginem que ele tem concorrido contra o próprio Blair? Seria uma luta entre o original e a cópia…

Mas o público costuma saber a diferença e gosta de coisas diferentes. Por isso é que as cópias morrem por si próprias.

E sem originalidade não há agências de comunicação que lhes valham!

 

Sofia: quem não tem vergonha, faz de tudo!

O importante, mais até que denunciar casos como o de Sócrates, é educar o povo para a vergonha!

 
Dep.Carlos Coelho

A reflexão do Nuno faz sentido. Podemos estar a criar uma política sem alma, de políticos de plástico, formatados por técnicos de marketing.

Mas eu acho que as pessoas percebem isso. Mais cedo ou mais tarde, elas reagem.

Por uma questão de eficácia, a política de plástico não vai vingar. Mas se isso não for o suficiente, apelo à vossa consciência enquanto futuros quadros políticos.

Sejam quadros políticos com alma, com substância, com projecto.

Não aceitem ser formatados, modelados ou limitados por ditames da moda ou da imprensa.

 

Última mensagem: na comunicação política, o importante não é aquilo que vocês dizem mas sim aquilo que os outros escutam.

Muito obrigado pela vossa atenção!

 

[PALMAS]

 

 

 

 

10.00 - Avaliação da UNIV 2010
12.00 - Sessão de Encerramento da UNIV
13.00 - Almoço com participantes de anteriores UNIVs