ACTAS  
 
8/31/2010
Jantar-Conferência com a Dra. Leonor Beleza
 
Dep.Carlos Coelho

Senhora Doutora Leonor Beleza, começamos os jantares da Universidade de Verão com um momento cultural. Neste primeiro jantar onde, temos o privilégio de a ter como nossa convidada, vamos começar com um momento cultural protagonizado pelos grupos da Universidade de Verão, trata-se de escolher e ler um poema. Vamos ter pelo grupo verde a Helena Dias, que nos vai trazer um poema de Bretch na sua tradução portuguesa chamado "louvor do aprender" e a razão do dever de escolher este poema é de que a Universidade de Verão prima pela excelência na formação de jovens valores na sociedade portuguesa, cidadãos, homens e mulheres activos. Os jovens são o futuro têm de compreender o que os rodeia, questionar a realidade que os envolve e assim desenhar o futuro. Temos de tomar a chefia, é esta a razão que leva o grupo verde a ter escolhido o “Louvor do aprender”. Depois vamos ouvir do grupo cinzento, o grupo cinzento diz-nos que através de Miguel Torga, Fernando Pessoa, Alberto Caeiro e Pedro Homem de Melo, o grupo cinzento decidiu cartografar a evolução de um aluno da Universidade de Verão na visão de que ainda só imagina o que está para vir transportado pelos sentimentos de quem já viveu a ouvir e do que nos invadiu neste primeiro dia animado de trabalhos. E vamos ter pelo grupo cinzento Arnaldo Trindade, a Madalena, o Tiago Alves, o João Antunes dos Santos, a Filipa Almeida e o Nuno Firmo. Vamos portanto ouvir os grupos, verde e cinzento.

 

“Louvor do aprender”

"Aprende o mais simples! Pra aqueles

Cujo o tempo chegou

Nunca é tarde de mais!

Aprende o abc, não chega, mas

Aprende-o! E não te enfades!

Começa! Tens de saber tudo!

Tens de tomar a chefia!

 

Aprende, homem do asilo!

Aprende, homem na prisão!

Aprende, mulher na cozinha!

Aprende, anciã!

Tens de tomar a chefia!

 

Frequenta a escola, homem sem casa!

Arranja saber, homem com frio!

Faminto, pega no livro: é uma arma.

Tens de tomar a chefia.

 

Não te acanhes de perguntar, companheiro!

Não deixes que te metam patranhas na cabeça:

Vê c'os teus próprios olhos!

O que não sabes por conta própria

Não o sabes.

Tens de tomar a chefia."

 

(APLAUSOS)

 

Não há mais fregueses? Vocês cinco e eu tenho aqui dois micros, como é que vocês vão fazer isto?

 

Um aluno da UV chega a Castelo de Vide. “Insónia Alentejana” - Miguel Torga

 

 

"Pátria pequena”

 

Deixa-a dormir um momento que seja

No teu leito maior térrea planura

Onde cabe o meu corpo e o meu tormento

Nesta larga brancura de restolhos de cal e solidão

E ao lado do sereno sofrimento de um sombreiro a sangrar

Pode talvez um pobre coração bater

E ao mesmo tempo descansar

O aluno… Sonha com o que há-de vir"

 

“O quinto império”, Fernando Pessoa:

 

" Triste de quem vive em casa,

Contente com o seu lar,

Sem que um sonho, no erguer de asa,

Faça até mais rubra a brasa

Da lareira a abandonar!

 

Triste de quem é feliz!

Vive porque a vida dura.

Nada na alma lhe diz

Mais que a lição da raiz-

Ter por vida a sepultura.

 

Eras sobre eras se somem

No tempo que em eras vem.

Ser descontente é ser homem.

Que as forças cegas se domem

Pela visão que a alma tem!

 

E assim, passados os quatro

Tempos do ser que sonhou,

A terra será theatro

Do dia claro, que no atro

Da erma noite começou.

 

 

Grécia, Roma, Cristandade,

Europa- os quatro se vão

Para onde vae toda edade.

Quem vem viver a verdade

Que morreu Dom Sebastião?”

 

 O aluno mergulha de cabeça, não o vê... - Fernando Pessoa

 

"Primeiro estranha-se,

Depois entranha-se

O aluno descobre como pode utilizar as suas potencialidades"

 

 

 

“Eu sou do tamanho do que vejo” - Alberto Caeiro

 

"Da minha aldeia vejo quanta terra se pode ver no Universo

Por isso a minha aldeia é tao grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura

Nas cidades a vida é mais pequena que aqui na minha casa no cimo deste outeiro

 

O aluno parte mas não esquece – “Juventude” - Pedro Homem de Melo

 

“Lembraste Carlos, quando ao fim do dia, felizes andamos ambos nadar

E na nossa roupa a espuma persistia a dar ao sol o nome do luar

Tudo era fácil, melodioso e longo

Aqui e além, o súbito ditongo ecoava em nós certa canção pagã

Contudo, o azul do mar não tinha fundo

E o mundo continuava a ser mundo

Banhado pela aragem da manhã."

 

(APALUSOS)

 

(Depois do Jantar)

 
Francisco Oliveira

Boa Noite, eu em nome do grupo bege e da nossa mascote, o Zé-bege, gostaria de fazer um brinde à Dra. Leonor Beleza. Sendo uma pessoa tão ocupada, gostaríamos de agradecer-lhe o facto de estar disponível para estar aqui presente connosco, a fim de partilhar connosco a sua vivência e experiência, quer seja no governo, quer seja na sociedade civil. É igualmente um prazer termos entre nós, uma das grandes figuras do feminismo português, como a Dra. o representa e muito bem. A Dra. é um exemplo, porque trabalhou muito para que o papel da mulher fosse reconhecido na sociedade portuguesa (desde já um obrigado por isso). E proponho o Brinde também a todos nós e há beleza de cada um.

 

(Risos e Palmas)

 
Dep.Carlos Coelho

Sra. Dr.ª Leonor Beleza, Sr. Presidente da Juventude social-democrata, senhores Deputados José Matos Rosa e Cristóvão Crespo, senhores Presidentes das Câmaras Municipal de Castelo de Vide e de Portalegre, senhor Director-adjunto Duarte Marques, senhores conselheiros, senhores avaliadores, minhas senhoras e meus senhores, creio que iniciamos os jantares-conferência da Universidade de Verão da melhor maneira, confesso que tenho a maior das admirações pela Senhora que aceitou o nosso convite para ser a oradora neste jantar-conferência. A Dr.ª Leonor Beleza exerceu a docência universitária, foi jurista na Presidência do Conselho de Ministros, foi mais tarde Secretária de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, um lugar nuclear em qualquer governo, foi Ministra da Saúde, foi deputada à Assembleia da República onde exerceu as funções de Vice-presidente da Assembleia da República, creio que terá sido a mulher com mais responsabilidades e funções diferentes na direcção do PSD, foi Presidente do Congresso e do Concelho Nacional, foi Vice-presidente da Comissão Política Nacional, foi presidente do Conselho de Jurisdição Nacional e actualmente é Conselheira de Estado. O Nuno Santos numa pergunta que lhe dirigiu recordava isso mesmo, não deixa de ser curioso, da política no masculino em Portugal, que o Conselho de Estado que reúne as principais figuras do Estado português, entre todos, tenha apenas uma mulher que é a Dr.ª Leonor Beleza, escolhida pelo Presidente da República no conjunto das cinco personalidades que ele pode nomear para esse alto lugar do Estado. Actualmente a Dr.ª Leonor Beleza é a presidente da Fundação Champalimaud, tem com hobby brincar com os netos, tem como comida preferida a tosta mista, tem como animal preferido a cegonha, (não sei se é pela alegoria da reprodução), tem como livro que sugere "Snow", o filme que nos sugere "Uma verdade inconveniente" e a qualidade que mais aprecia nas pessoas é a coragem. Coragem aliás é, uma qualidade que ninguém nega à nossa convidada de hoje. Dr.ª Leonor Beleza, eu tenho o privilégio de lhe fazer a primeira pergunta, depois haverá perguntas dos participantes da Universidade de Verão e a pergunta que lhe gostaria de fazer é uma pergunta simples. A senhora que tem um curriculum político como poucas mulheres têm em Portugal, a senhora que exerceu funções de grande responsabilidade no governo, na Assembleia da República e no partido, o que é que a levou a fazer uma viragem na sua vida, a sair da política activa e a entrar neste desafio de ser Presidente da Fundação Champalimaud e ao fim e ao cabo o que isso que está a fazer? O que é a Fundação Champalimaud? Minhas senhoras e meus senhores, para responder à minha pergunta e às vossas perguntas, connosco no primeiro jantar da Universidade de Verão, a senhora Dr.ª Leonor Beleza.

 

(palmas)

 
Leonor Beleza

Caro Carlos Coelho, senhor presidente da JOTA, senhores Deputados, senhores Presidentes de Câmara, amigos e amigas, duas palavras brevíssimas de introdução para agradecer o convite para estar aqui de novo na Universidade de Verão que se tem revelado uma instituição de particular estabilidade no PSD, certamente pela enorme capacidade de quem a organiza e pela capacidade de ter instituído a Universidade de Verão como um local privilegiado de formação política das camadas mais jovens. Eu acho que essa ideia assegura à própria Universidade, também pela capacidade com que é conduzida, um sucesso especial que tem resistido a muitos factores que não têm sido propriamente de estabilidade no interior do nosso partido, e hoje essa caracterização aparece com muita clareza, eu acho que em particular no contexto desta edição da Universidade de Verão apareceu salientada de forma que eu acho que é importante para todos nós, a relevância de por uns dias acolher um número de jovens daqueles que desejam ter intervenção social e política e aqui de uma maneira, intensiva, organizar uma série de sessões com o objectivo de que sejam debatidas as questões importantes relacionadas com a formação política e com a situação do nosso país. Gosto também muito de voltar a Castelo de Vide e ao distrito de Portalegre, tenho recordações muito especiais do tempo em que fui deputada por este partido, gosto muito de encontrar os meus amigos desse tempo e de tempos bem anteriores deste distrito por muitas coisas, enfim que o passado comum que temos nos levou a viver há muitos anos algumas coisas, outras à menos anos.

O Carlos Coelho fez-me uma pergunta que imaginarão eu tenho um prazer especial em responder. Não propriamente por ter deixado uma vida política mais activa para me dedicar a outra coisa, não é tanto ter deixado, não é certamente isso, eu sou, continuo a ser uma militante base do PSD e com o mesmo empenho com que sempre fui. Não há diferenças de empenho entre quem está numa posição ou noutra, acho eu, quando somos militantes deste grande partido. Mas a verdade é que houve um momento da minha vida em que aconteceu uma coisa, que para mim constitui um privilégio, e que me levou a optar por outra coisa, não foi propriamente uma opção do nada, eu acho que aquilo que eu faço hoje não é o género de coisa que a gente quando é pequenino nos perguntam queres ser o quê quando for grande, não. Foi preciso que alguém nos pedisse para estar nesta situação e nessa ocasião eu tive, eu acho que fracções de segundo porque a pergunta me foi feita e foi respondida imediatamente, a senhora quer ser presidente de uma fundação dedicada às questões da ciência da saúde que eu vou criar, foi assim que António Champalimaud um dia me telefonou e me perguntou (imaginam que a surpresa foi imensa), a distinção que eu senti imediatamente foi uma coisa, que nunca me tinha passado pela cabeça e desde que o testamento foi aberto e a fundação foi publicamente anunciada e começou a sua actividade, que me cabe de facto o privilégio bastante raro que é de ter uma função para uma pessoa que foi escolhida naquelas circunstâncias. Imaginarão que a minha escolha foi uma escolha decorrente de alguém me ter posto, me ter distinguido desta maneira, perguntando se queria fazer isto. Na altura respondi imediatamente que sim porque percebi rapidamente o que era fácil perceber dada a personalidade de quem me estava a interrogar e o conteúdo para que ele me convidava, que certamente teria a oportunidade de criar alguma coisa porventura menos comum e é dessa coisa menos comum que eu queria falar-vos num contexto talvez um bocadinho mais alargado. Há não muito tempo nos Estados Unidos, alguns dos grandes filantropos, alguns dos quais com nomes muitíssimo conhecidos de toda a gente, juntaram-se e fizeram um desafio às pessoas que têm, grandes fundos financeiros e o desafio, o conteúdo do desafio era, doem metade daquilo que têm com objectivos de carácter filantrópico, para criar instituições, organizações que se dediquem à promoção da qualidade de vida e do bem-estar dos cidadãos do mundo enfim, com mais enfoque ou com menos enfoque numa área ou outra do mundo. Entre eles estava o Bill Gates e Warren Buffett, portanto, pessoas que toda a gente sabe que doaram somas inacreditáveis com o objectivo de serem gastas em filantropia e eu acho que esse gesto para o qual eu quero chamar a vossa atenção tem uma importância muito especial no mundo de hoje e está relacionado com aquilo que eu faço. É preciso ter consciência, às vezes não temos e nem sempre medimos bem o alcance de certos gestos em sociedades como a nossa ou em sociedades completamente diferentes, e para este efeito as sociedades anglo-saxónicas são das, facto diferentes de por exemplo, sociedades europeias continentais. Sei que há aqui juristas, eles saberão como eu sei que a nossa lei e o nosso Estado partem do princípio que aquilo que uma pessoa amealha durante a vida ou que recebe de património tem por objectivo natural ser transmitido à sua família e por isso existem direitos como o nosso, existem regras que limitam aquilo que uma pessoa que tem muitos ou poucos bens pode fazer ou de que pode dispor no interior do seu património. Existe uma coisa que se chama sucessão legitimária, que significa que uma parte importante daquilo que a pessoa amealha se destina necessariamente à sua família e esse foi um limite com que contou António Champalimaud quando decidiu que fosse criada uma fundação, mas esses limites não existem nos direitos anglo-saxónicos e por isso as pessoas às vezes não compreendem a enorme diferença que existe entre países onde é mais comum, é mais frequente as pessoas disporem daquilo que têm em beneficio do conjunto da sociedade em relação a sociedades aonde isso não é sentido como uma coisa tão natural que esteja tão presente no espírito das pessoas. Culturas diferentes, formas diferentes de olhar para as coisas e em relação ao nosso caso, direitos diferentes que impõem limites em actos como estes, por exemplo uma pessoa que em Portugal tenha cônjuge e filhos não pode dispor de metade dos seus bens como os tais filantropos americanos aconselhavam os colegas ricos a fazerem em relação às suas fortunas. Este gesto americano tem tido repercussão e tem sido falado em muitos outros sítios do mundo, e esta história da filantropia, da existência de fundações ou organizações que se podem chamar ou sim ou não mas que têm esse tipo de organização, é alguma coisa em que cada vez hoje se repara mais e se olha, eu acho muito interessante muitas das perguntas que me foram dirigidas hoje aqui pelos participantes da Universidade de Verão, porque têm a ver justamente não tanto com a fundação Champalimaud mas com as fundações em geral e qual pode ser o respectivo papel. É muito interessante olhar para qual pode de facto ser o papel dessas instituições, eu acho que toda a gente compreende por exemplo quando se olha para a Fundação Gates que tem mais de dinheiro que alguns países podem gastar no respectivo orçamento. É fácil compreenderem a influência extraordinária que patrimónios desse montante muito bem geridos podem ter na produção efectiva do bem-estar das pessoas. No caso da Fundação Gates um pouco por todo o mundo, porque a fundação Gates está particularmente não apenas mas de uma forma muito enfática centrada na promoção do bem-estar das pessoas do mundo em desenvolvimento aonde a educação e o acesso à saúde são muito diferentes daquilo até que mesmo nós em Portugal estamos habituados. O gesto que teve António Champalimaud é um gesto do tipo desses, é um gesto de uma pessoa que juntou uma fortuna considerável, bens consideráveis, no momento em que pensou o que é que deve acontecer a esse património e que decide de forma que é muito pouco comum ainda entre nós, decide praticamente dispor daquilo de que ele podia dispor para criar uma fundação. O gesto que teve na altura repercussão pública grande, não só porque as pessoas provavelmente não pensariam que uma coisa dessas pudesse acontecer, não tanto pela pessoa que estava em causa mas porque em Portugal não é muito comum e portanto as pessoas confrontam muito alguém que se lembra de fazer um gesto destes com o que é que a família pensa, porque a nossa atitude cultural a que o nosso direito aliás dá cobertura é um pouco a ideia de que o que é natural, aquilo o que é esperável das pessoas e não é só o direito português são os direitos continentais em geral, é que aquilo que as pessoas têm se mantenha nas respectivas famílias. Em suma, aquilo que eu hoje tenho basicamente de fazer é de dispor de um património que foi aquilo que António Champalimaud deixou à fundação, naturalmente tratar da manutenção e do desenvolvimento desse património que não é das funções mais simples e eu ia dizer de hoje em dia mas provavelmente foi sempre assim a gente está sempre a achar que no nosso tempo as coisas são sempre mais complicadas, e com isso fazer aquilo que ele disse no testamento que queria que é, aquilo destina-se a promover a pesquisa científica na área da medicina. Ele foi muito limitado naquilo que disse no sentido de que deixou um imenso campo aberto a quem tinha de tomar decisões, privilégio que ele deixou que caísse sobre mim e sobre o Dr. Proença de Carvalho, nomeado também no testamento como uma das duas pessoas que decidiria as coisas fundamentais em relação à criação da fundação como é que aquele património é convertido em pesquisa científica na área da medicina.

E portanto o que eu hoje tenho de fazer, se me perguntarem se tenho saudades de outras coisas, tenho, continuo a interessar-me por outras coisas, é evidente, nós todos sabemos que quem está muito tempo empenhada de forma muito activa na vida pública e na vida política, quer dentro do partido quer em cargos oficiais não se desliga disso com muita facilidade e certamente não é esse o meu caso mas aquilo que eu estou a fazer é absolutamente apaixonante, que é agarrar em bens avultados e transformar aquilo numa coisa especial que é uma fundação com este tipo de objectivo. É pouco comum em toda a Europa continental, não é uma coisa comum, fundações grandes dedicadas a esta área encontram-se sobretudo fora da Europa continental, existe uma enorme fundação deste tipo no Reino Unido que se chama All Can Trust, existem várias entidades parecidas nos Estados Unidos, não há muitas, agora isto é importante porquê? Não é apenas porque é muito dinheiro não é apenas também porque o tipo de coisas que António Champalimaud quis que a fundação fizesse do meu ponto de vista são decisivas para o desenvolvimento das pessoas e para o bem-estar e para a qualidade de vida e tudo isso, também é importante outras coisas. Às vezes as pessoas quando falam da minha actividade agora, contrapõem a vida política à sociedade civil, eu não sei se essa contraposição, (nós percebemos o que ela quer dizer mesmo que, eu acho que os partidos políticos também fazem parte da sociedade civil mas isso é uma outra história), faz algum sentido porque tem haver de facto com a capacidade da sociedade civil, do sector privado, fazer coisas que são muito importantes para a evolução do bem-estar das pessoas e do progresso das pessoas. Provavelmente alguns de vós não saberão o que é que a fundação Champalimaud está a fazer e portanto para terminar a resposta a esta pergunta, gostava de vos dizer alguma coisa sobre o projecto principal da fundação que de certa maneira se corporiza num edifício que apareceu na área de Pedrouços, junto à Torre de Belém. Imagino que muitos de vós já terão visto esse edifício, enfim vê-se bem, aquilo que ali está é um instituto científico. Alguém há bocadinho falou-me na sede, aquilo não é a sede da fundação, a sede da fundação formalmente será naquele local mas não é a sede da fundação, eu não precisaria nem a Fundação Champalimaud, nem António Champalimaud certamente acharia que a fundação precisava de uma sede daquele tamanho, não, não é aquilo, o que ali está sobretudo a parte fundamental daquele conjunto é um enorme edifício que vai ser o instituto de investigação científica e um hospital e o que vai lá ser feito que eu queria dizer-vos? Porque aquele espaço todo é um centro de investigação científica, centro de inovação e de investigação científica que eu acho, passem a modéstia, que será um marco importante da capacidade científica do nosso país e eu também queria que fizesse parte do motor que puxasse a ciência em Portugal para cima. O que lá vai ser feito é investigação científica em duas áreas que têm a ver com as ciências da vida, as neurociências e o cancro. Ainda há muita gente que pensa que a gente está a tratar de olhos, também de alguma maneira mas a parte central, aquilo que vai ficar naquele edifício é um programa de neurociências e um programa de investigação em cancro. Na investigação em cancro vamos fazer investigação clínica, isso quer dizer investigação feita por pessoas que prestam cuidados clínicos e que envolve doentes, quer dizer com isto que aquele espaço enorme é um hospital onde serão tratados doentes de cancro, aquele enorme espaço é um hospital onde serão tratados doentes de cancro e onde investigadores básicos e médicos que fazem investigação clínica tentarão encontrar maneiras novas de compreender os desenvolvimentos que ocorrem no interior das pessoas e que fazem surgir um cancro e que fazem metastizar um cancro, é sobretudo sobre as metástases que a nossa investigação vai incidir e que tentarão encontrar maneiras de aliviar o sofrimento das pessoas que sofrem de cancro, é sobretudo isso que vai acontecer naquele espaço e para mim é importante em tão pouco tempo (a inauguração do edifício vai ocorrer com o Centenário da República no dia Cinco de Outubro, a actividade científica naquele local começará no fim do ano e a actividade clínica, que digamos o fecho do ciclo que aquele edifício conterá, vai começar no principio do mês de Abril). O que é que vai ser feito ali de diferente, porque é que tenho tanto empenho em vos explicar que é simultaneamente um hospital e um lugar de investigação? Eu não sei quantas pessoas eventualmente aqui terão profissões na área da saúde ou na área de investigação científica, que pelo menos a área da investigação científica vos interessa muito traduz o facto de Elvira Fortunato estar aqui num dos próximos dias, ela é de uma outra área da ciência (…) em ter obtido uma bolsa muito extraordinária, presumo que terão a ocasião se falar com ela do European Research Council, a segunda pessoa a obter essa bolsa, o mesmo tipo de bolsa que Elvira Fortunato obteve foi de um americano que dirige o programa de neurociências da Investigação Champalimaud e eu digo isto, não por achar graça que seja estrangeiro que recebeu esta bolsa trabalhando para a Fundação Champalimaud, mas porque é um pouco o movimento da fuga de cérebros ao contrário. Nós estamos sempre a falar na história dos cérebros que fogem e achamos que o sítio para que eles fogem é sempre para os Estados Unidos, pois eu tenho muito gosto em vos dizer que quem dirige o nosso programa de neurociências é um americano que se veio estabelecer em Portugal com uma bolsa da União Europeia para trabalhar na Europa e o sítio da Europa aonde ele está é em Portugal. Eu acho que isto tem algum interesse e responde a algumas perguntas daquelas que fizeram favor de me dirigir porque alguém me pergunta porque é que há dificuldade ou há de facto... (…)...se formos às pessoas certas, tivermos um programa  que faça sentido e podemos ter acesso a uma série de coisas que são essenciais para que essas pessoas efectivamente sintam que podem vir fazer ciência aqui e eu termino apenas com uma referência, eu tive no percurso  em que tive que escolher, com as pessoas que estão na fundação o que é que nós vamos fazer em que é que vamos investir este património, como é que se vai traduzir o apoio à investigação científica na medicina pela Fundação Champalimaud de facto, como é que trocamos por miúdos aquilo que o fundador nos mandou fazer. Tive o privilégio sobretudo nos Estados Unidos poderemos discutir porque é que foi assim, de ter acesso a pessoas de topo na investigação científica alguns deles prémio Nobel, que tiveram a imensa paciência de explicar a uma leiga da ciência como eu era e continuo a ser, quais as áreas onde faz sentido investir são estas ou aquelas, preocupe-se com isto não se preocupe com aquilo. Um grande cientista que se chama Jim Watson, provavelmente muito de vós sabereis quem é, que é o pai do DNA, Prémio Nobel há dezenas de anos e que é o Presidente do Conselho Científico da Fundação Champalimaud depois de nós termos pedido muito ele aceitou fazer isso e de facto exerce de uma maneira empenhada essas funções disse-me uma vez assim, a senhora não se limite à ideia de que quer fazer uma coisa que no seu país tenha relevância, não se limite a pensar eu quero uma coisa boa em Portugal, não, não pense assim, pense que quer fazer uma coisa que é boa em qualquer lado do mundo porque não há nenhuma razão para as pessoas que têm os meios e a determinação e conseguem chegar a pessoas e a meios e a conhecimentos e a coisas que eles me facilitaram enormemente, eu digo eles, inúmeros cientistas com quem falei, não deve limitar-se a coisa nenhuma, hoje uma instituição cientifica ou é um Instituto World Class ou verdadeiramente não vale a pena pôr muito dinheiro nele. Portanto a ambição com que eu tento fazer isto na fundação é a ambição que ele tentou que eu tivesse. Ele vai estar aí no dia Cinco de Outubro e continuará certamente a explicar-nos o que é que nós devermos fazer, mas eu queria que ficassem com esta ideia aquilo que vai nascer ali será um falhanço se não for uma coisa World Class, se não for uma coisa que está feita para funcionar ao nível das melhores em qualquer outro lado, é isso que vamos seguramente fazer, é isso que António Champalimaud merece que a gente faça com aquilo que nos deixou e é isso que inúmeros cientistas que já estão a vir trabalhar connosco e que estão a colaborar neste processo nos ajudam a compreender que podemos fazer, e com isto também vou respondendo a algumas das coisas que foram sendo perguntadas, certamente que outras serão, terei muito gosto em vos responder mas o que sobretudo queria que soubessem é o que está a nascer naquele sítio extraordinário da cidade de Lisboa e do país à beira Tejo, de facto não há, não era possível um localização melhor e isso é sobretudo importante do ponto de vista da necessidade de utilizarmos todas as vantagens competitivas que a gente pode utilizar quando faz uma coisa deste tipo, aquilo que está ali a nascer é uma instituição dedicada ao estudo de doenças que são extremamente negativas do ponto de vista dos seus efeitos nas pessoas e do sofrimento que ocasionam. São doentes, investigadores e médicos que vão ocupar aquele espaço e que com o conjunto dos cientistas que existem no nosso país, hão-de tornar o nosso país mais competitivo, melhor, mais considerado nas suas instituições e nos seus cientistas.

 

(palmas)

 

 
Dep.Carlos Coelho

Senhora Dr.ª Leonor Beleza, eu esqueci-me de dizer há pouco mas vem a calhar na sequência das suas últimas declarações que há, pela primeira vez, e foi uma sugestão da direcção do partido, do Dr. Pedro Passos Coelho quando reunimos para pensar esta Universidade de Verão, que houvesse um traço em comum nos cinco convidados para os jantares-conferência. O traço em comum eram portugueses que se evidenciaram em Portugal mas com reconhecimento internacional. Dr.ª. Leonor Beleza acabou de dizer, em testemunho autorizado em voz própria aquilo que nós já sabíamos, é que ela é portadora de um testamento, de fazer uma Fundação podia-se ter limitado a fazer uma coisinha à portuguesa. O que é verdade é que hoje a Fundação Champalimaud está na imprensa especializada no mundo, referenciada com um centro de investigação que vai ser nuclear nas áreas que decidiu abraçar, isso resultou no fundo da ambição da presidente da Fundação. A Dr.ª Leonor Beleza e a Fundação hoje são reconhecidas internacionalmente nesta área do saber. E o facto de como a Dr.ª Leonor Beleza nos disse agora (e já sabíamos) ter alguns Prémios Nobéis a colaborar com a Fundação e designadamente nos órgãos de responsabilidade científica, resulta exactamente disso mesmo, de não ter havido a preocupação se me permitirem, provinciana, de parecer bem na fotografia nacional face ao testamento e fazer uma coisa benzinho mas ter a ambição de ter em Portugal um núcleo de investigação do melhor que há no mundo e isso é mérito naturalmente de quem dirige a fundação. Espero bem que os resultados dessa investigação não deixem de honrar o investimento que nele é feito e também naturalmente o país que acolhe. Vamos entrar agora no conjunto de perguntas, vamos fazer duas a duas, conjunto de duas perguntas e vamos ter primeiro do grupo azul o Fernando Gomes e depois do grupo laranja a Vânia Sousa.

 
Fernando Gomes

Antes de mais boa noite, agradeço a presença da Dr.ª Leonor Beleza é sempre com grande gosto que a ouço, que a vejo e há já algum tempo não tinha o privilégio de a ouvir por isso aqui a saúdo e agradeço a sua presença. Cumprimentar também o nosso magnífico Reitor em nome de toda a organização que nos tem estado a ajudar e que tem sido um papel fundamental até agora, agradecer também os restantes membros de concelhia, Presidentes de Câmara, Deputados que nos honram com a sua presença e dar aqui um abraço especial ao presidente da JSD, Pedro Rodrigues em nome da estrutura. Gostava de dizer que é uma grande honra termos entre nós uma mulher que é um exemplo, é um exemplo não só na sua conduta, na sua actividade política no passado que tem, nos exemplos que nos tem dado do seu passado como seriedade, rectidão, hombridade, respeito e estando sempre, mas sempre ao lado do PSD quando o PSD precisou. Isso é um exemplo que pouco se vê na política. Muitos falam, muitos aparecem, desaparecem, dizem que estão presentes, há alturas em que muitos aparecem, agora a Dr.ª Leonor Beleza sempre nos deu um exemplo que é estar presente quando o Partido Social Democrata precisa de si. Isso é um exemplo que nós não podemos esquecer. Gostaria também de a saudar nas suas novas funções ou mais recentes funções, é também um grande exemplo de intervenção cívica, na intervenção cívica que tanto faz falta na investigação como forma de potenciar e possibilitar que as futuras gerações tenham mais, tenham mais que nos hoje temos. No futuro, que esse futuro seja melhor, hoje temos um futuro nos jovens de hoje temos um futuro melhor se calhar que as gerações dos nossos pais mas aquilo que nos esta a possibilitar com a Fundação Champalimaud o seu trabalho nas várias áreas especialmente na área de medicina é algo que dá um património histórico, Portugal é pequeno, tal como já foi frisado, Portugal é pequeno para esse património mas é algo que nos honra e que nos deixa muito contentes. Passava agora se calhar à pergunta, depois desta introdução um bocadinho mais extensa que é, estando a Fundação Champalimaud tanto à frente não sente que muitas vezes está a substituir, não querendo se calhar mas por necessidade ou por esquecimento ou porque outros canalizam verbas para outro tipo de actividade, não se estará a substituir e não é uma critica é um elogio porque a falta é dos outros não é da sua fundação, não se estará a substituir ao governo e a esse património, essa instituição que deveria com os nossos impostos que nós pagamos no dia-a-dia, fazer algo do género? Acho que é isto que eu penso, é isto que eu acho também importante a doutora nos transmitir se colaboram consigo, se á um plano estratégico em que eles participam e ajudam ou se há algo que não há mais mãos a medir, a fundação está sozinha. Por último e pegando também em palavras suas, o seu gosto e o seu não esquecer a actividade politica também neste lado de quem ouve e de quem vê o PSD fazem falta quadros como a doutora, por isso repto se não pensa voltar, não vai voltar um dia porque nós tínhamos muito gosto em receber e de estar ao seu lado em campanha para um dia participar. Por isso fica aqui o repto se quiser, acho que, pelo menos eu falo por mim e grande parte de nós estará ao seu lado. Obrigado.

 

(palmas)

 
Vânia Raquel de Sousa

Boa noite, Vânia de Sousa do grupo laranja, é um privilégio recebermos a Dr.ª Leonor Beleza, uma figura ilustra no PSD por todo o seu percurso político e que demonstra que na política existem mulheres com uma enorme qualidade e contributos. Francisco Sá Carneiro referia que as questões das mulheres eram as questões mais importantes da sociedade e enquanto mulher e tendo e ocupa cargos de grande responsabilidade, como é que vê ou encara o decreto-lei que estipula a presença da mulher na política. Considera que a mulher só está na política pelas cotas? Obrigada.

 

(palmas)

 
Leonor Beleza

Bem, em primeiro lugar muito obrigada por aquilo tudo que ouvi. Eu apetecia-me dizer, nós vivemos tempos complicados e difíceis em que porventura muitas vezes sentimos que temos dificuldade em resolver coisas e andar para a frente e quem tem a minha idade já esta farto de crise e de ouvir falar em crise e agora é por causa desta e agora é por causa daquela, eu acho que a atitude individual de cada um de nós deve ter perante isso, é um bocado resistir a onda. Se cada um estiver a tentar fazer uma coisa que é contra a onda, eu sou daqueles que continua a achar que vale a pena e no fundo o estímulo e a vontade que nós agora na Fundação temos de fazer coisas e estamos a fazer agora é um bocado em contra-ciclo mas era agora, é agora, que está a ser feito, que vai ser feito e eu devo dizer que não sinto dificuldades especiais nem sequer pela maneira como alguns porventura neste momento possam olhar para o nosso país. Eu não acho que esta Fundação ou outra coisa qualquer se substituam ao governo, ao Estado porque a minha fé política está muito longe de achar que o Estado esgota as nossas capacidades, os nossos interesses e as nossas ambições. Isto é um tema recorrente no discurso político do PSD que a força, a existência de uma sociedade que não se esgota nem no Estado nem no governo nem em coisíssima nenhuma pública, formada por cidadãos capazes de resolver coisas, capazes de agarrar as coisas, capazes de fazer as coisas, capazes de andar para a frente e portanto eu olho para as fundações e para as associações e para as instituições que existem na sociedade desta forma. Portanto eu não estou a substituir ninguém, espero estar a colaborar com outros e a estar a colaborar para a força do conjunto. Há um lugar em particular nas questões de investigação científica para as entidades privadas que fazem investigação científica, poderemos muito de nós estar a pensar como pensamos em entidades privadas que fazem investigação científica pensar o quê? Nas farmacêuticas, sim senhora, as farmacêuticas são no mundo hoje colectivamente o sector que investe mais em investigação cientifica com objectivos que sabemos quais são, que são os seus e que estão no seu sítio e que são muito diferentes daqueles que têm fundações ou universidades ou entidades desse tipo como é a Fundação Champalimaud e há um lugar na investigação científica na área da medicina para instituições de carácter independente, que não buscam o lucro, o seu objectivo não é o lucro quanto ao qual eu não tenho absolutamente nada mas no caso concreto não é o nosso objectivo, e que podem actuar de uma maneira diferente encaminhando a investigação para certas áreas que achem que são mais relevantes, pondo dinheiro em áreas onde porventura as farmacêuticas não ponham ou os Estados tenham dificuldade em pôr. Os três grandes sectores, em que podemos pensar na actividade científica na área da saúde, são três: as grandes farmacêuticas, (as grandes e as pequenas, as farmacêuticas são no mundo o sector que investe mais em investigação em saúde), depois os Estados que são imediatamente a seguir às farmacêuticas o sector, o conjunto de entidades que investe mais e depois em termos absolutos com bastante menos expressão mas com muita relevância em relação às escolhas que fazem, as entidades de carácter independente, privadas e sem fins lucrativos como são as fundações. O activo de instituições deste tipo hoje na investigação cientifica no mundo é extraordinário, porque funcionam com mais independência, com mais capacidade de enfrentar os riscos do que os Estados que por muitas razões que sabemos muito bem têm uma capacidade de acção limitada e com objectivos diferentes daqueles da indústria que evidentemente e por natureza se preocupa em obter resultados de carácter financeiro daquilo que investiu. Portanto, este lugar destas instituições é muito importante e eu acho que é muito interessante que em Portugal onde porventura temos menos recursos do que outros e onde certamente investimos menos em ciência do que outros, com progressos feitos nos últimos tempos devo reconhecer, é muito importante que haja o sector privado independente com alguma força e com alguma projecção a actuar e enfim articulado com instituições de outros países, portanto eu não acho que estou a substituir coisa nenhuma. Aquilo que eu gostava era que pudéssemos nós puxar por este sector, pela relevância deste sector, pela importância deste sector pela importância do investimento na área da saúde que esse sim é pequeno em termos comparados com outros sectores ainda em Portugal. Devo dizer, a pergunta foi-me feita, eu respondi directamente, nós contamos até agora com o melhor apoio por parte do governo e da Câmara Municipal de Lisboa, são as duas entidades públicas com mais relevância em relação a quem está a fazer um centro de investigação em Portugal, contamos com todo o apoio, portanto eu só posso dizer que neste aspecto houve colaboração, trabalho em conjunto, reconhecimento da importância que esta a ser feito, já houve do governo anterior porque foi no governo anterior que a fundação nasceu e isso manteve-se devo dizer no âmbito do actual governo.

Quanto a voltar, eu nunca saí, portanto eu não tenho que voltar aonde nunca saí. O meu papel neste momento é menos activo, tenho imenso orgulho pelo facto de ter sido convidada pelo senhor Presidente da República para ser membro do Conselho de Estado, exerço essas funções o melhor que posso e sei, neste momento eu estou a fazer uma coisa cuja importância não é mais nem é menos, é outra e aquilo que eu quero é que aquilo que eu estou a fazer também seja importante para o meu país e não só mas que também seja importante para o meu país e por isso esta história da Fundação Champalimaud ser reconhecida é uma coisa tão importante para a gente, eu acho que nós precisamos de factores de reconhecimento nacional de factores, de elementos que façam compreender que em Portugal se pode fazer tão bem como em outros sítios e que as pessoas que vêm trabalhar connosco podem ser tão boas como as que vão para outro sítio qualquer. Nós neste momento, eu disse-vos, falei-vos do americano que dirige o nosso programa de neurociências, o nosso programa de neurociências neste momento está alojado no Instituto Gulbenkian Ciência, onde temos mais de 70 neste momento de cientistas a fazer investigação na área das neurociências com um nível de reconhecimento muitíssimo interessante. Neste momento, aqueles que estamos a recrutar, estamos a competir com algumas das melhores instituições do mundo em matéria de neurociências na Europa e nos Estados Unidos e eu tenho muito orgulho em que isto seja assim, tanto de facto Carlos Coelho, isto é mesmo a sério, nós estamos mesmo a fazer isto e nós queremos que um dia quando se pensa em Portugal, se pense naqueles que têm muitas coisas boas e entre eles na Fundação Champalimaud que a gente sabe o que é que faz.

(palmas)

Desculpem! Eu entusiasmo-me tanto com a palavra fundação que às vezes, mas não é por o assunto das mulheres ser menos importante para mim como aliás os que estão aqui á minha volta já perceberam. Sobre a história das cotas, eu sempre fui favorável às cotas, tenho muita pena neste ponto não acompanhei a posição que o PSD no fim acabou por ter, houve uns tempos em que pensámos que, eventualmente que poderia ser de outra maneira, mas sou favorável sim e sou favorável porquê? Não porque eu goste das cotas, nenhuma mulher acha graça à história de que é ministra da cota ou deputada da cota ou presidente da câmara da cota, ninguém acha graça a isso, mas o problema foi, desculpar-me-ão mas olhem para a Assembleia da República, de facto hoje tem mais mulheres do que o que tinha, e porque é que tem mais mulheres do que tinha? Porque cada um dos partidos teve de pensar um bocadinho mais a sério numa história de que é muito mais importante que as cotas, e essa história que é muitos mais importante que as cotas é que aqueles que tomam decisões em nosso nome sejam efectivamente representativos da sociedade que representam, e essa efectiva representação passa por alguma diversidade como também existe na sociedade em que nós estamos. Cada um de nós tem a experiência que tem neste domínio, eu já tenho muita e eu sei que é verdade que um conjunto de pessoas que toma uma decisão seja sobre que área for, importante para aquilo, para o bem-estar das pessoas para a qualidade de vida das pessoas, se esse grupo compreende melhor as necessidades daqueles em nome de quem está a exercer o poder, porque é disto que eu estou a falar, se esse grupo compreende melhor, há uma muito maior probabilidade de a decisão que é tomada ser respeitadora dos interesses efectivos das pessoas e nessa necessidade de representação, há um factor muito importante que é o sexo e nós somos todos diferentes uns dos outros por variadíssimas coisas, somos diferentes porque nascemos num sítio em vez de termos nascido no outro, se somos velhos em vez de sermos novos, se estamos com saúde ou se estamos doentes, somos diferentes, sentimos de maneira diferente e essas coisas tem, uma diferença que eu acho que é essencial entre as pessoas, nós temos exactamente a mesma dignidade, isso é para mim uma questão absolutamente básica de fé, diria eu, há uma coisa diria eu, que nos torna muito diferentes uns dos outros que é ou somos homens ou somos mulheres, e portanto que as decisões numa sociedade actual sejam tomadas por corpos aonde as mulheres estejam ausentes, desculpem! mas eu já sequer tenho idade para dizer isto com paninhos quentes, não falo! Não é certo!

 

(palmas)

 
Dep.Carlos Coelho

Sra. Dr.ª Leonor Beleza perdoará que lhe diga que há uma forma de linguagem para uma audiência jovem, defender as cotas significa defender as senhoras a partir de determinada idade.

(Risos)

 
Leonor Beleza

Eu acho provavelmente, as jovens não passaram por algumas coisas que eu passei, eu fui aluna de direito e tive que andar a ver autópsias porque supostamente um dia poderia ser magistrada coisa que na altura a lei me vedava. Eu ainda sou do tempo em que as mulheres podiam ver o seu contrato de trabalho revogado pelo marido se lhe apetecesse, tinham de obedecer ao marido porque era isso que as leis da família diziam, não podiam ser magistradas nem diplomatas, isso hoje já não está lá. Houve uma geração que se encarregou de fazer desaparecer das leis e espero eu, da cabeça de muita gente, não das cabeças de todos, nós ainda somos um país onde por ano um número inaceitável de mulheres é morta por pessoas próximas dela, como sabem. Portanto ainda há aí um problema muito sério, muito, muito, muito, sério que se traduz na violação dos direitos mais elementares, a gente escusa de gritar só contra o Irão. Temos muita coisa para gritar aqui dentro. Eu excito-me um bocado a falar destas coisas como poderão ver, bom, mas o que eu queria dizer àquilo que o Carlos Coelho disse é assim, eu tenho convivo natural sobre variadíssimas formas coma gente muito mais novas e muitas vezes eu acho que as pessoas mais novas não conseguem imaginar o que era uma faculdade de direito como aquela aonde eu estive onde as meninas se sentavam à frente e os meninos atrás e as meninas às vezes tinham vergonha de entrar na aula porque eram recebidas por um número de assobios imensos. O meu querido amigo Marcelo esteve hoje aqui e certamente recordar-se-á tão bem como eu que ele estava na mesma aula onde isso acontecia, na mesma aula onde me aconteceu a mim, não assobiava, não tenho nenhuma prova de que assobiasse. Bom, mas em suma eu acho que hoje o mundo é muito diferente, as jovens que frequentam a faculdade de direito nem fazem ideia do que é que era esse tempo, é uma coisa completamente disparatada, pronto até lembrar-lhes a comparação com isso, mas há uma coisa que as raparigas novas descobrem rapidamente, é que se lembram de casar e ter filhos começam a descobrir que a vida não lhes é assim tão fácil, que ainda há coisas que ainda há obstáculos e se a gente deixar de olhar só para Portugal e para os países que estão aqui á nossa volta e começar a olhar para outros sítios perceberá que há um confronto de maneiras diferentes de olhar a coisas no mundo que ainda tem força e que está muito longe de vos garantir que aquilo que entretanto vamos obtendo está ganho. Mas era só para isto, é que eu acho que as mais jovens dentro de nós, vós, muitas de vós provavelmente olharão como velharias para algumas destas coisas que eu estou a dizer. Mas no dia em que um patrão qualquer vos perguntar, vai-se casar? Vai ter filhos? Elas descobrirão que essa pergunta não é feita a toda a gente, essa foi para elas e ainda é para por alguma coisa, portanto o que eu peço é compreendamos todos que nada está ganho entre nós, nada, nada, um dia podem discutirmos, às vezes bastará o desemprego, uma situação de desemprego séria como aquela que nós estamos a viver apresenta alguns riscos desse ponto de vista. Pronto eu não quero ser o velho do Restelo.

 
Dep.Carlos Coelho

Bem, vamos ao segundo grupo de perguntas, onde está o grupo castanho e eu não posso deixar de agradecer ao grupo castanho o facto de nos ter recebido na sua mesa e agradecer a todos os membros do grupo castanho na pessoa da Mafalda como coordenadora, e dizer à Mafalda uma coisa, raramente houve nesta Universidade de Verão maior sintonia entre a coordenadora ou coordenador do grupo e o nosso convidado ou a nossa convidada, porque neste caso, quer a Mafalda quer a Leonor podem dizer que têm a beleza em frente delas, (palmas), as duas perguntas que nós vamos ter são do grupo castanho, a Raquel Faria que aliás é estudante de medicina, está no 6º ano e o Tiago Figo do grupo encarnado.

 

Raquel Faria - Boa noite a todos, uma boa noite especial à Sra. Dr.ª Leonor Beleza e em nome do grupo castanho manifestar toda a nossa admiração por todo o percurso e pelo que fez em todas as áreas onde se envolveu. A nossa questão vai de encontro à nova proposta actual de revisão da Constituição que tem sido proposta pelo PSD e que tem gerado uma grande discussão nomeadamente na área da saúde. Enquanto ex-ministra da saúde e conhecedora da área e da saúde em Portugal, gostaríamos de saber como é que vê a exclusão do conceito tendencialmente gratuito que neste momento está presente e os efeitos que poderá ter no futuro, se por um lado pode dar acesso a um maior qualidade de serviço nacional de saúde e homogeneidade de acesso, por outro pode levar a uma bipolarização entre privados e público e termos um serviço de saúde de primeira e de segunda categoria consoante seja privado ou público. Gostaríamos de saber qual era a opinião das consequências da dita revisão.

 
Tiago Figo

Bem, boa noite eu queria cumprimentar todos os presentes em particular a nossa convidada deste jantar-conferência, em nome do grupo encarnado e devo dizê-lo também com uma particular e franca emoção por estarmos perante uma personalidade que ao longo do tempo também me habituei a ver como uma pessoa séria, como uma pessoa íntegra, como uma pessoa de bem como já vão escasseando na política. A pergunta que eu queria fazer prende-se com uma pequena afirmação que a Dr.ª Leonor Beleza teve na sua intervenção inicial, em relação à possibilidade que há de chamar para Portugal alguns dos grandes cérebros estrangeiros. Aquilo que eu queria perguntar é se ao invés de chamar para Portugal técnicos qualificados estrangeiros também não seria melhor chamar ou apostar nos jovens técnicos portugueses ou se já não têm qualidade suficiente para colaborar na actividade científica da Fundação Champalimaud e se não têm ou se ainda há poucos o que é que é possível ainda fazer nesse domínio para melhorar. Obrigado.

 

(palmas)

 
Leonor Beleza

Bom, tanto quanto eu sei não há um projecto de revisão constitucional do PSD e eu acho que a informação que eu tenho é a informação pública e enfim não me parece razoável que de repente andemos todos a discutir uma coisa como, ou chamando-lhe eventualmente o projecto, há uma história, há uma ideia, um assunto que está a ser falado entre nós. Eu gostava de vos dizer que neste tipo de assuntos às vezes há uma dose de hipocrisia grande na forma como as coisas são discutidas e as pessoas chamam uma coisa às realidades e depois discutem muito consoante os nomes que lhes puseram e recusam-se a olhar para as coisas de frente. Eu fui responsável pela introdução de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde e porventura só poucos de nós aqui é que nos lembraremos da barafunda que foi essa primeira introdução de um sistema em que no fundo havia algum co-pagamento por parte das pessoas que tinham acesso às prestações numa altura em que aliás o governo do PSD de que eu fiz parte, do primeiro governo em que eu estive como ministra da saúde, era um governo minoritário e portanto aquilo que decidia era revogado na Assembleia da República logo a seguir e foi o que aconteceu também com as taxas moderadoras e depois acabaram por ser aceites e por se ir impondo. E portanto eu posso invocar alguma responsabilidade pessoal em ter chegado à conclusão que não poderíamos continuar a fingir, como na altura a Constituição dizia. Na altura a Constituição era menos suave do que é hoje porque não falava tendencialmente em gratuito, falava em gratuito e portanto a dificuldade era um pouco maior em discutirmos exactamente o que é que estava por trás, mas no fundo como é próprio de nós de certa maneira quando enfrentamos realidades complicadas, tentamos ir com passos que tenham um ar suave, bom e portanto de certa maneira foi suave dizer tendencialmente gratuito. O que no fundo quer dizer a Constituição é que admite que haja algum princípio de co-pagamento, podemos chamar-lhes taxas moderadoras quando entendemos que o que está em causa é apenas moderar o acesso a prestações de saúde e podemos chamar-lhes de outra maneira. Eu devo dizer que tenho experiência pessoal de situações em que não me parece muito justo que certas pessoas que estejam por exemplo isentas de taxas moderadoras só porque formalmente pertencem a uma certa categoria, como hoje acontece, portanto nós temos uma maneira às vezes pouco clara de tentar olhar para as coisas e de falar a sério daquilo que estamos a discutir e em vez de estarmos a dizer aqui d’el rei, estamos a salvar a essência da democracia, talvez seja mais importante que nos concentremos porventura com menos, eu ia dizer preconceito mas é uma palavra talvez perigosa neste contexto, sobre as realidades que de facto enfrentamos. E o problema é, pode o nosso país continuar a fazer de conta que pode garantir a toda a gente o acesso em termos gratuitos a prestações de saúde, pode? Porque o problema já nem é só de se a gente acredita, não é uma questão de fé é uma questão de realidade, é pode ou não pode, pronto e já não está a fazê-lo na prática. Só que não discutimos no meu ponto de vista de uma maneira suficientemente objectiva o efectivo co-pagamento da saúde que existe em Portugal. Como sabem em Portugal neste momento há cada vez mais pessoas que têm de facto acesso a seguros de saúde, e não é verdade, o Serviço Nacional de Saúde ou o Sistema Nacional de Saúde se quisermos falar de outra maneira em Portugal garante hoje coisas que não garantia há 20 anos, portanto há um progresso efectivo no acesso a prestações de saúde indicadores básicos de saúde em Portugal muito grande nos últimos anos, muito grande nas últimas dezenas de anos. Podemos ter algum orgulho naquilo que o nosso sistema de saúde tem vindo a realizar, mas o nosso sistema de saúde tem sofrido modificações muito grandes sem que a gente discuta e chame o nome às coisas. Por exemplo, há uma privatização sucessiva que está a ocorrer e que nós não reconhecemos muito como efectiva mudança do paradigma, e portanto a minha proposta neste domínio, era que tentássemos, mas porventura este não é o período em que isso é muito fácil de acontecer por razões que têm a ver com o contexto político geral, que tentássemos discutir as coisas em vez de andar a discutir palavras. Com toda a franqueza eu acho que não vamos muito longe a discutir palavras, aquilo que nos precisamos de saber é se podemos hoje garantir toda a gente a todos os níveis cuidados de saúde que ninguém também quer limitar ou restringir, em termos em que as pessoas não paguem nada mesmo quando podem. Podemos fazer isso ou não podemos? Então temos de funcionar de uma outra maneira, e o que eu propunha é que tirássemos esta ênfase das palavras que pomos nas coisas e tentássemos discutir a sério conceitos e também discutir a sério qual é mesmo o papel do sector privado, que do meu ponto de vista, não vale a pena estar a dizer que deve ser ou deve deixar de ser. Em Portugal tem hoje um papel muito importante. Há muita gente que tem acesso de facto ao sector privado. De facto ele existe. Era muito importante do meu ponto de vista que o papel de regulador do Estado fosse muito mais forte do que é hoje, para a gente não continuar a ouvir histórias como passa a vida a ouvir que há uma clínica onde se fazem umas coisas que de vez em quando correm mal, a gente sabe de vez em quando que eles correm mal provavelmente não sabemos todas as vezes e depois quando se tenta o que se sabe é que não está licenciada, não está autorizada, ninguém sabe o que eles fazem. Isto é que não devia acontecer. Portanto o papel de regulador do Estado, o papel de fiscalizador daquilo que acontece do meu ponto de vista é inferior àquilo que devia ser. Eu acho que há aqui um conjunto de coisas que a gente devia discutir. E já agora desculpem lá também um outro anda muito por aí e que eu não posso deixar de falar: nós não precisamos que os cidadãos portugueses vão a outros países ser operados a cataratas não é preciso. Nós temos recursos para resolver esses problemas todos. É inaceitável que em Portugal haja cegos com cataratas, como há porque estão a espera de serem operados. É completamente inaceitável, uma operação leva minutos, poucos, a fazer, precisa de um cirurgião para fazer durante minutos muito poucos. Há inúmeros cirurgiões que podem fazer isso em Portugal, não há nenhuma razão, mas nenhuma, de nenhum tipo que justifique que para esse tipo de operações, portugueses tenham que ir ao estrangeiro. Também é importante que as pessoas saibam exactamente com o que é que podem contar portanto o que nós temos é um problema de organização e de igualdade de acesso. Alguma vez ouviram falar na chamada via verde de acesso aos serviços de saúde? Sabem o que é que as pessoas querem dizer quando usam esta expressão? Querem dizer as pessoas que têm amigos lá dentro, às vezes não são só as pessoas que têm mais dinheiro ou que têm mais meios, embora muitas vezes coincida. Muitas vezes coincide normalmente quem tem mais meios e mais poder e tem mais acesso mas às vezes não são só essas pessoas, e essa via verde que existe mais, que entram porque conhecem não sei quem ou porque a madrinha conhece não sei quem, e isso também é um problema sério de desigualdade e aquilo que eu quero dos serviços de saúde do meu pais, sejam públicos ou privados e que vivem por cima é que a gente não passe a vida a discutir quem tem mais acesso, que a gente passe a vida a discutir aquilo a que não têm acesso ou que tem a menos, isso é que é o problema importante e do meu ponto de vista aquilo que é absolutamente essencial que um Estado civilizado as segure é que ninguém é excluído do acesso a cuidados de saúde pelo facto de não ter meios ou conhecimentos ou o que quer que seja. E aqui também há problemas muito mais complicados que não têm só a ver com o dinheiro e com os conhecimentos de pessoas, que têm a ver com a nossa capacidade de compreender aquilo que nos está a ser feito e aquilo que nos está efectivamente a ser prestado pelos serviços de saúde. Quanto aos cérebros de cá e aos de lá, o que eu quero é gente excelente eu não faço distinção, não devo fazer pela nacionalidade das pessoas que recruto, eu estou a recrutar indiferentemente portugueses e estrangeiros, a única coisa que eu peço é que seja recrutado quem seja muito bom. Portanto não entra nenhum português se houver um estrangeiro com mais capacidade que queira entrar também, mas é óbvio que eu gosto de ter portugueses a trabalhar na fundação Champalimaud e tenho. Era o que faltava também! Quando a gente fala de fuga de cérebros as pessoas estão sempre a pensar nos nossos que se vão embora, eu falei nos de lá que vêm para cá porque isso é que eu acho que é igualdade mesmo que a gente deve procurar não é só que os nossos não fujam é que os outros também queiram vir trabalhar connosco. O Dr. Durão Barroso, uma vez como Presidente da Comissão recebeu umas queixinhas das universidades europeias a dizer que as universidades americanas têm a mania de andar nas universidades europeias à procura dos melhores para os convencer a ir para os Estados Unidos e o que ele lhes respondeu foi “façam o mesmo!”, portanto o nosso problema não é queixarmo-nos dos outros, portanto eu falei de que há estrangeiros que querem vir para cá, mas há muitos portugueses que estão a voltar para Portugal para voltar a trabalhar connosco. Agora há um problema sério na Europa na competitividade na ciência europeia, e que é o facto que muitos pouco recursos europeus são de facto disputados entre todos os cidadãos que são cientistas europeus, muito pouco recursos e por isso a ciência europeia é hoje bem menos competitiva do que por exemplo a ciência nos Estados Unidos e até noutros espaços também mas por isso é menos competitiva. O que nós queremos é que venham os melhores, se forem portugueses fico feliz da vida.

 

(palmas)

 
Dep.Carlos Coelho

Terceira ronda de perguntas vamos ter o Gonçalo Azenha do grupo cinzento e a Joana Felícia do grupo roxo.

 
Gonçalo Azenha

Boa noite a todos, em nome do grupo cinzento quero saudar os nossos colegas, os nossos orientadores, o presidente da JSD Pedro Rodrigues, o director da Universidade de Verão Carlos Coelho e os demais convidados e quero saudar em especial a Sra. Dr.ª Leonor Beleza, seja bem-vinda à Universidade de Verão. Pela informação que nos foi facultada e corrija-me se estiver errado, a investigação da Fundação Champalimaud irá se centrar-se ou centra-se em três áreas: as neurociências, a visão e a oncologia. O que nós gostaríamos de saber é que uma vez que pelo menos duas destas áreas neurociências e oncologia são áreas que abrangem várias doenças, se aquelas que serão focadas pela investigação da Fundação Champalimaud, se os critérios de selecção tiveram em conta as necessidades da população portuguesa. Muito obrigado.

 
Joana Felícia Baptista

Boa noite a todos os presentes, em primeiro lugar quero agradecer à Dr.ª Leonor Beleza pela sua presença neste jantar, em segundo lugar quero confessar publicamente em nome do grupo roxo ao nosso conselheiro Paulo Pinheiro que toda a confiança que lhe mostrávamos esta tarde ao dizer que tínhamos três perguntas preparadas caiu por terra e durante este jantar tivemos que elaborar mais de cinco perguntas, cerca de umas sete perguntas, por isso os nossos parabéns aos outros grupos e à Dr.ª Leonor Beleza pela excelente conversa que nos tem proporcionado. Assim, a nossa pergunta é, Dr.ª Leonor Beleza na sua opinião como deve ser feita a reorganização dos recursos financeiros e humanos no Sistema Nacional de Saúde por forma a combater o trabalho pouco qualificado que tantas vezes se verifica. Obrigado.

 

(palmas)

 
Leonor Beleza

Em relação às áreas da Fundação Champalimaud, a escolha do cancro tem uma razão nacional. Falou em neurociências, cancro e visão, a visão é de facto tratada de uma maneira um pouco particular porque tratamo-la sobretudo como objecto do prémio Champalimaud de visão, que é um prémio de um milhão de euros que nós damos todos os anos e que tem exclusivamente a ver com as questões da visão, quer as questões de carácter científico quer o combate à falta de visão no mundo em desenvolvimento. Em relação às duas outras áreas, portanto, não são exactamente outras duas áreas estas áreas sobrepõem-se nalguma medida, (por exemplo as neurociências têm uma enorme medida a ver com a visão) O prémio Champalimaud de visão 2010 que vai ser entregue no dia Cinco de Outubro aquando da inauguração justamente foi atribuído a neurocientistas da visão, portanto há aqui uma área muito grande de sobreposição. A nossa escolha foi muito dirigida por este tipo de critério, o que é investido em pesquisa científica numa determinada área de doenças/saúde em comparação com o sofrimento que é efectivamente ocasionado nessa grande área de saúde, quer em relação ao cancro quer em relação a doenças neo-degenerativas ou doenças de carácter psiquiátrico, são aquelas que estão enfim na área muito grande das neurociências. Portanto tentamos perceber qual era o sofrimento que as pessoas efectivamente suportam, há maneiras científicas de fazer essa avaliação e é a área muito grande das neurociências, enfim, é uma área enorme, abrange aquilo que nós hoje chamamos de doenças neurológicas e psiquiátricas e é hoje uma área em expansão no mau sentido no mundo até pelo envelhecimento da população. São doenças cada vez mais com expressão e aonde a ciência não descobriu algumas coisas básicas sobre porque é que o cérebro ou como é que o cérebro funciona e como é que essas doenças são ocasionadas. Por exemplo, em relação à depressão que hoje está muito na moda discutir exactamente o que é e se os critérios pelos quais se determina que uma pessoa está deprimida são verdadeiramente critérios científicos, enfim eu não vou tentar discutir coisas que sei mal mas hoje diz-se que uma pessoa está deprimida, sofre de um certo número de sintomas num conjunto possível, e pode haver uma quase disparidade total entre os sintomas que sofre uma pessoa e a outra portanto uma pessoa não sabe bem se aquilo é mesmo a mesma doença como é que é ocasionada e como é que pode ser tratada. E quem diz essa diz muitas outras doenças dessa área, e portanto há uma outra razão para além da tal diferença entre o sofrimento e o que é investido e que tem a ver com o momento cientifico actual, e com o interesse enorme que é posto hoje em descobrir as coisas fundamentais sobre o funcionamento do cérebro porque sabemos de facto ainda muito pouco, os cientistas dizem que vai haver um "clique", o "clique" pode ser daqui a cinco anos ou daqui a dez e querem dizer por isso as regras básicas de funcionamento do cérebro e cujo enfim o mau funcionamento eventualmente se traduzem em doenças. Portanto, a escolha das neurociências não é muito complicada, é mais complicada a escolha que efectivamente fizemos de nos limitarmos a ciência básica durante algum tempo, mais tarde entrar em ciência clínica o que já supõe a escolha de certas doenças e não de outras porque nunca conseguiremos entrar no leque enorme de doenças que são abrangidas. Em relação ao cancro, também o critério de sofrimento versus o que é investido, contou. Aqui porventura com menos força porque o cancro é a doença, ou é uma das doenças em que é investido mais dinheiro para tentar debelá-la mas depois também como a razão europeia e portuguesa, e por isso faz todo o sentido certa maneira a resposta que lhe vou dar de forma como formulou a pergunta. A investigação clínica em campo na Europa está muito atrasada em relação aos Estados Unidos, portanto há uma razão de carácter europeu e recomendações da União Europeia, portanto das entidades científicas da União Europeia, no sentido da investigação em campo clínica (portanto feita por médicos, com médicos e com doentes) na Europa seja fortemente intensificada, porque há uma diferença brutal entre aquilo que neste momento é investido (e portanto descoberto) também nos Estados Unidos e aquilo que é investido e descoberto na Europa. E depois há uma razão portuguesa e essa razão portuguesa é porque nós temos alguns indicadores na área do cancro menos bons do que outros países europeus, e a nossa convicção é que investir em investigação em cancro melhora o nível de tratamento e portanto também queremos por essa via, ajudar a que os números em Portugal de sofrimento (no fundo é a questão fundamental) por essa doença melhorem. Portanto há um conjunto de razões que nos levaram às escolhas que efectivamente fizemos sendo que na visão esqueci-me de lhe dizer uma coisa muito importante o nosso fundador tinha problemas muito sérios de visão quando morreu, e portanto o prémio de visão que tem o nome dele também é não só um incentivo a que a área da visão seja destacada entra as áreas de saúde como uma área importante, como uma homenagem ao nosso fundador. Quanto à pergunta sobre a reorganização dos nossos meios financeiros e humanos, num contrato ou num contexto de trabalho porventura pouco qualificado acho que foi a palavra utilizada, bom, eu admito que essa palavra esteja a ser usada em relação a problemas que a gente às vezes ouve falar de falta de recursos em determinadas áreas, é isto que era objecto da pergunta? Não era nesse sentido? Então eu posso não ter percebido direito. Bom, pronto, nós hoje ouvimos falar em Portugal, sim...

 

 
Gonçalo Azenha
… questão de por vezes os profissionais de saúde não fazem aquilo que os compete, ou seja os profissionais de saúde estão a exercer além...
 
Leonor Beleza

Olhe eu vou-lhe contar uma história sobre as operações aos olhos que talvez ajude a compreender, a compreender isso bem. Em Portugal nestes últimos tempos tem-se discutido muito se os recursos são suficientes, se não são suficientes, os médicos existem, se não existem, se estão a fugir para outro lado qualquer, enfim estamos a discutir muito isso está a ser uma discussão muito, e eu acho que é uma discussão um bocadinho perturbadora também, porque ficamos inquietos se ouvimos dizer de repente que não há pessoas para nos tratar em relação a certas coisas. Há profissionais de saúde muito bons em Portugal, há uma questão de organização, de facto os recursos e distribuição dos recursos que é complexa e que há algum crescimento menos programado das áreas, ou das entidades de prestação de serviços na área da saúde de uma maneira que não foi porventura muito pensada, isto foi sempre assim, não é uma coisa nova, as entidades vão tomando decisões sobre entrarem neste e naquele sector sem que isso tenha sido objecto de uma grande programação nacional, a gente faz um bocadinho de conta e depois isto vai crescendo mais para ali ou mais para “acolí”, e eu não sou obviamente defensora de nenhum plano central, mas acho que há algumas coisas que ganhavam em ser uma bocadinho mais claras e clarificadas mas deixe-me só contar a história das operações dos olhos. Quem ganhou o primeiro prémio Champalimaud de visão foi uma instituição indiana que existe no sul da Índia, eu não sei se sabe ou se algum de vocês esteve no sul da Índia mas é num sítio que eu não conheço na Europa nada de parecido, portanto numa área, é numa cidade que se chama Madurai que é uma cidade com coisas absolutamente extraordinárias como todos os sítios da India que eu vi até hoje, mas quando eu entrei na cidade ia à procura da cidade e nunca mais via a cidade é uma espécie, nos nossos critérios, uma aldeia enorme, cheia de gente mas um meio muito diferente do nosso. Naquela cidade existe uma das instituições de saúde mais fantásticas do mundo inteiro, é de facto extraordinário quer o nível de prestação de cuidados que eles prestam, quer a organização, a gestão daquilo e com isso eu garanto-vos que em Portugal tínhamos imenso a aprender, imenso a aprender. Só uma pequena diferença, aqueles hospitais estão feitos para que as pessoas que precisam de se tratarem entrem e só saiam tratadas, percebem o que eu quero dizer? É assim, este está com um problema de olhos sério, precisa de ser operado, não sai daqui antes de ser operado. Portanto percebem o que é que eu quero dizer? As instituições de saúde não afugentam as pessoas, não lhes marcam vinte vezes, dias para vir, listas de espera, isso não existe naquele meio pequeno, não estou a falar da Índia, estou a falar de uma certa instituição. Esta instituição chama-se ARAVIND EYE CARE SYSTEM e notabilizou-se inicialmente pela forma como fazia operações às cataratas. As cataratas são a primeira causa de cegueira no mundo e a Índia porque é enorme e porque tem mais de mil milhões de habitantes, é o país do mundo com mais cegos e também porque ainda tem atrasos em muitas áreas e é o país com mais cegos por cataratas e portanto para eles é vital operar cataratas em grandes quantidades porque também eles são todos aos milhões, não é? Cada uma destas instituições serve muito mais milhões do que os nossos que não conseguem operar cataratas e as pessoas têm que ir para outro sítio, pronto. E eles tentam operar todos mesmo, não é deixá-los ir para outro sítio, até começa haver alguns de nós que também lá vão, que é interessante e eu já conheço quem já lá tenha ido, bem, como é que eles operam às cataratas? Sem preconceitos e sem esquisitices é assim, os gestos que o cirurgião, só o cirurgião pode fazer, são feitos pelo cirurgião, tudo o resto é feito pelas outras pessoas. E portanto se cada cirurgião que faz uma operação às cataratas, em vez de estar não sei quanto tempo e ver se é preciso outro ao lado e mais não sei o quê, só pratica os gestos do cirurgião e eles dizem uma coisa que em Portugal seria criminosa do ponto de vista da nossa ideologia que é, aquilo é um sector de produção como tem o McDonald’s, são eles que dizem, os indianos, não sou eu, eu não me atreveria a dizer porque cá entre nós se a gente comparar a prestação de cuidados de saúde à feitura de hambúrguer no McDonald’s, somos crucificados como imaginam, são eles que explicam que o princípio de eficácia é o mesmo, e o princípio é o cirurgião não perde tempo, nós não temos cirurgiões para perderem tempo, portanto o cirurgião só pratica os actos que só o cirurgião pode fazer, a preparação da pessoa para ser operada e a sequência da operação, essa está entregue a outros técnicos e estes senhores conseguiram uma coisa, quando eles começaram a fazer operações às cataratas tinham de comprar uma coisa que se chama lentes interoculares que são metidas dentro do olho quando é feita uma operação, tinham que as comprar no mercado internacional, era caríssimo para indianos, caríssimo e portanto eles não conseguiam fazer as operações que eram precisas porque não tinham dinheiro para comprar as lentes e o que é que fizeram? Desataram a fabricá-las, fizeram descer o preço no mercado internacional das lentes interoculares e hoje são grandes produtores de lentes interoculares. Eu visitei estas coisas, eles fazem coisas inacreditáveis. Do ponto de vista técnico, são tão bons como os melhores em qualquer lado, eu não teria nenhum medo que eles me operassem às cataratas, nenhum e iria lá a correr mesmo, bom, iria lá muito mais depressa do que para outros sítios para onde mandam para cá os nossos. Além disso eles são tão bons a gerir os recursos que têm, que são estudados na Universidade de Harvard como case study em MBA, portanto no MBA em Harvard, o ARAVIND EYE CARE SYSTEM sistema criado e baseado no sul da Índia é estudado como um sistema de gestão fabuloso. A organização deles é uma coisa extraordinária, uma pessoa que entra no hospital recebe uma coisa, desculpem estar com esta conversa toda mas é assim, recebem um papel onde diz assim quando está aqui, dirija-se ao serviço de recepção e nesse serviço de recepção leva tantos minutos e depois vai para um exame básico aos seus olhos que leva tantos minutos, se for detectado alguma coisa então vai para outro sitio e leva tantos minutos, eu gostava de saber qual é o hospital em Portugal aonde alguém diz a uma pessoa quando entra, quantos minutos é que leva até que alguém se digne a olhar para a pessoa, portanto há muito que a gente tem a aprender com estas pessoas e no que diz respeito a gestão de recursos, meus amigos eu aconselharia muitos portugueses a ir a alguns sítios na Índia, Deus me livre de dizer todos os sítios, os cidadãos indianos no seu total têm muitos piores condições de saúde do que nós, mas ir a alguns sítios ver como é que se atende instituição semelhante à Fundação Champalimaud, filantropia.

 

(palmas)

 

 
Dep.Carlos Coelho
E no quarto bloco de perguntas, Artur Miller do grupo bege e António Cardoso Pinto do grupo amarelo.
 
Artur Miler

Ora boa noite a todos os presentes, em especial à nossa convidada Dr.ª Leonor Beleza, eu não gostaria de deixar aqui uma curiosidade, é que ainda hoje falávamos com o nosso primeiro orador o Dr.ª Miguel Monjardino sobre as formas que conseguiríamos trazer ou pelo menos ficar com os nossos cérebros e conseguimos receber aqui um exemplo vivo de alguém que faz exactamente o contrário e que põe, passa da teoria à prática, tantas vezes se fala é preciso trazer os melhores para cá e alguém faz exactamente isso e dá aqui uma forma de termos enorme orgulho no seu trabalho. A minha opinião é acerca do Sistema Nacional de Saúde, era para saber qual é a opinião da doutora relativamente à questão da exclusividade dos médicos no Sistema Nacional de Saúde. É da opinião que os mesmos condicionam a disponibilidade de acesso aos poucos médicos que temos actualmente e mais agora nos cuidados primários de saúde com as USF e mesmo tendo o nosso partido a propor mais intervenção privada. Obrigado.

 
António Cardoso Pinto

Boa noite, em primeiro lugar gostaria de agradecer em nome do grupo amarelo a presença da Dr.ª Leonor Beleza aqui na Universidade de Verão e a minha questão era a seguinte, apesar da melhoria nos últimos anos é notório que a investigação clínica que é praticada em Portugal é hoje insuficiente e vou citar uma frase que está no site da Fundação Champalimaud. “...a fundação tudo fará para que haja mais investigação clínica...", a minha questão é, qual é o rumo e quais os objectivos que a fundação Champalimaud terá nos próximos anos para que Portugal deixe de ser um dos países na cauda da Europa na investigação clínica e passe a ser dos melhores, Obrigado.

 

(palmas)

 
Leonor Beleza

Sobre o Serviço Nacional de Saúde e sobre a exclusividade eu não vou fazer teoria em tentar justificar muitas coisas, vou só dizer o que é que eu fiz quando lá estive há muitos anos. Coloquei os internos de especialidade todos novos que entravam em exclusividade e saiu a legislação a determinar que os directores de serviço novos exerciam o cargo em exclusividade também. Eu não estava a inventar nada nem a fazer nenhuma regra que fosse contra o sector privado ou coisa parecida, eu estava a fazer aquilo que trinta ano antes em França no tempo do General Le Gaulle (não era com nenhum governo de esquerda), tinha sido determinado nos hospitais do Estado francês e para mim é uma questão básica de regras, quer dizer eu se produzo ou se vendo automóveis Opel, não quero que os meus trabalhadores trabalhem para a Volkswagen, quer dizer é assim uma coisa, é uma questão básica como é que são as regra de como a gente funciona, portanto os médicos que vão trabalhar connosco vão ser médicos Champalimaud, eu acho que estou a responder aquilo que faz, eu não sou sector público, sou sector privado. Bom, em relação à investigação clínica, bom, eu acho que tentei explicar a investigação clínica, é investigação aplicada não é toda a investigação aplicada, é investigação que é feita com doentes e com o pessoal que trata de doentes, é uma fase da investigação que é necessária se a gente quer obter meios que efectivamente previnam as doenças ou sirvam para as tratar, portanto por muitos outros modelos que a gente utilize até a esse momento, há um momento em que precisa de pessoas para saber se os medicamentos funcionam, para saber se determinados tratamentos são adequados e por aí fora, portanto este tipo de investigação é escassíssima em Portugal como disse, quer dizer, mas não é só em Portugal, como eu disse é na Europa muitíssimo menos em campo do que o que era nos Estados Unidos. Fazer investigação clínica tem dificuldades próprias porque implica nomeadamente ter acesso a doentes e portanto ter acesso a unidades de prestação de cuidados e é por isso que nós vamos ter um hospital, nós não vamos ter um hospital porque sejamos uma instituição ou porque somos uma instituição dedicada à assistência clínica, nós vamos ter um hospital porque para fazermos investigação clínica precisamos que os nossos investigadores tenham acesso a doentes e portanto é preciso para esse efeito poder contar ou com hospitais próprios ou com hospitais alheios. Nós preferimos que o hospital fosse próprio porque dessa maneira podemos organizá-lo de acordo com as nossas regras e fazer uma coisa que para nós é muito importante, eu repito, não sei se há algum médico aqui ou não, que é garantir aos médicos que trabalham connosco que têm metade do tempo para tratar de doentes e metade do tempo para fazer investigação clínica. E isso acho eu que mais ninguém em Portugal neste momento garante e não é fácil em qualquer outro sítio. Portanto nós andamos à procura de médicos e está a ser difícil e é mais difícil em relação a outros investigadores, nós andamos à procura de médicos que queiram ser também investigadores e isso é alguma coisa que os próprios sistemas de saúde e os sistemas de educação, um pouco por todo o lado não facilitaram, portanto são pessoas que estão habilitadas para fazer investigação clínica e que efectivamente querem ter aquilo que nós também chamamos na gíria, tempo protegido para fazer investigação, a pressão para que eles tratem de doentes não é tão grave que não lhes permita também fazer a investigação. Essas pessoas para nós são o pão para a boca da investigação. Temos alguns, incluindo portugueses, aqui isso de certa maneira ainda é mais importante porque os médicos que são médicos directamente prestadores de cuidados obviamente têm de falar português se não é quase impossível e portanto é mais crucial de certa maneira, ou que sejam portugueses ou por outra razão qualquer dominem a língua portuguesa e temos estrangeiros a aprender, aqueles que vêm trabalhar connosco e que não dominavam a língua portuguesa estão a aprender como se aprende para ir trabalhar para outros sítios também e portanto também é bom que isso aconteça mas digamos estes profissionais são de facto os mais difíceis e são porquê? Porque temos muita pouca tradição de investigação clínica e ensaios clínicos que até há pouco tempo eram feitos em Portugal passaram a deixar de ser feitos em Portugal, há empresas farmacêuticas que passaram a considerar há pouco tempo que não tinham condições para fazer ensaios clínicos em Portugal, ora isto é dramático do ponto de vista da investigação que é feita entre nós e portanto nós também queremos ajudar e temos já contactos com as entidades que são necessárias para esse efeito, queremos ajudar a tornar o nosso meio propício a que aqui se estude a introdução de medicamentos e de tratamentos novos porque isso é crucial, aliás em certas áreas, sabem muito bem até como as pessoas desejam serem incluídas em ensaios clínicos quando os meios provados e estandardizados de tratamento já nem sequer eventualmente funcionem, portanto nós queremos aí também ajudar a que as empresas farmacêuticas voltem a achar que Portugal é um país onde se podem fazer ensaios clínicos.

 
Dep.Carlos Coelho

Dr.ª Leonor Beleza, não é a primeira vez que está aqui connosco conhece as regras da casa, sabe que por uma questão de cortesia nós deixamos a última palavra à nossa convidada e portanto não tornarei a usar da palavra neste microfone o que significa que abuso dessa circunstância para pedir a todos os coordenadores para às 11:15 na sala de aulas termos uma reunião para fazermos a preparação da simulação da assembleia. E sendo a última vez que uso da palavra quero agradecer-lhe em nome de toda a Universidade de Verão as respostas que já deu e aquelas que irá dar no último ciclo de perguntas, onde usarão da palavra em nome do grupo rosa o Luís Bacalhau e em nome do grupo verde o Edgar Filipe.

 
Luís Bacalhau

Boa noite a todos, o meu nome é Luís Bacalhau e deixo em nome do grupo rosa um cumprimento sincero ao Director da Universidade de Verão 2010 Carlos Coelho, ao Director adjunto Duarte Marques e ao deputado e Presidente da Comissão Política Nacional JSD, Pedro Rodrigues pelo mérito do trabalho que têm desenvolvido. Um cumprimento especial à Dr.ª Leonor Beleza, obrigado por ter optado por ser quem é. A pergunta é curta mas densa. Acha que o Sistema Nacional de Saúde está doente, se estiver qual o antibiótico que prescreve?

 

(risos)

 
Edgar Filipe

Boa noite a todos e em especial à Dr.ª Leonor Beleza, queria agradecer desde já a sua presença, e apesar de não termos tido tosta mista ao jantar espero que esteja a gostar de estar entre nós. Posto isto, qual a sua opinião sobre o encerramento de unidades de saúde, como os SAP e maternidades. Será que este encerramento acrescenta valor na prestação de cuidados básicos aos utentes? Muito obrigado.

 
Leonor Beleza

Ora eu apesar dos nossos, sabem que eu sou dos que gosta mais do copo meio cheio do que meio vazio, e portanto tento sempre ver as coisas pela positiva e talvez aconselhasse a que víssemos alguns dados que estão a ser publicados neste momento pela fundação a que preside o António Barreto, fundação Soares dos Santos, e que acaba de publicar várias coisas, entre elas um livro sobre dados de carácter estatístico sobre a realidade portuguesa que retomam uma tese que ele próprio já explicou publicamente: Por muito que a gente ainda ache que há muita coisa que não está certa, apesar de tudo o Sistema Nacional de Saúde, (eu gosto mais de chamar sistema porque não tem aquela divisão um bocadinho apertada que às vezes só a expressão serviço nacional de saúde pode ter), obteve coisas bastante extraordinárias nas últimas décadas e se a gente olhar para resultados podemos ficar tão baralhados como ficamos não há muitos anos quando a OCDE a certa altura explicou que o sistema português, enfim num contexto de classificação de sistemas de saúde, estava entre aqueles que eram perfeitamente razoáveis do ponto de vista, dos resultados efectivos que conseguia atingir. Nós tendemos muitas vezes a ver as coisas pela negativa e certamente há muitos problemas, mas eu não iria tanto por dizer que o sistema está doente como por dizer que ele está pouco clarificado, repito foi aquilo que eu já tentei explicar, eu acho que ninguém parou para dizer “agora vamos fazer assim”, até agora fizemos de certa maneira não será porventura muito fácil de explicar a organização, não estou a falar dos resultados porque esses podem de facto ser conhecidos através da consulta de dado estatísticos e não são tão maus como isso, mas tentar explicar qual é a organização, quem é que tem acesso a quê? Qual é o papel efectivo do sector privado e do sector público? Não é o papel teórico, não é a Constituição, não é um texto, não é uma coisa formal é na prática somos o quê? Eu acho que ninguém parou não só para de facto explicar o que somos hoje mas sobretudo para tentar explicar o que é que devemos ser. Portanto em termos de definição de regras, deve ser o quê? Quem é que deve ter acesso ao quê? O que é que nós podemos efectivamente garantir e o que é que está para além daquilo que é realista. Portanto aquilo que eu aconselharia, o antibiótico é uma coisa porventura um pouco vaga, mas é uma questão de organização, definição das coisas de saber o que é que a gente faz o quê, da gente perceber de vez que a gente não precisa de ir a parte nenhuma esquisita fazer certas operações, há outras coisas que ainda não sabemos fazer entre nós, aliás, devo dizer-lhes que ao contrário de que muitas vezes as pessoas pensam o nosso sistema de saúde garante a ida lá para fora de quem precise de cuidados médicos que não possam ser prestados em Portugal. Isso existe. O Ministério da Saúde tem mecanismos próprios para permitir que isso aconteça, esses mecanismos são usados, mais uma são muitas vezes usados apenas por um grupo pequeno que sabe que essas regras existem e que as sabe accionar, não é muito fácil mas existem, agora a generalidade das coisas nós sabemos fazê-las em Portugal e sabemos fazê-las bem. Nem sempre as fazemos bem mas sabemos fazê-las bem e portanto eu acho que o problema é sobretudo de definição e de organização. Acho que foi largamente a minha guerra quando lá andei e acho que continua a ser aquilo que faz falta. É organizar, é gerir, aquela coisa elementar de saberem as pessoas quais são as regras, como funcionam. Saberem quanto tempo duram as coisas, saberem quem faz o quê, isto é demasiado entregue a cada entidade por si, os hospitais resolvem excessivamente cada um por si o que é que vai fazer. Nós temos alguns casos de medicina relativamente sofisticado em Portugal e que é feita em mais sítios onde devia ser, nós devemos concentrar recursos e sermos muito bons a fazermos as coisas em vez de os dispersar porque era o que faltava era que o vizinho fizesse e eu não fizesse, isto não faz sentido, isto são regras que eu enfrentei quando lá estive e que continuam a ser assim, portanto não devia haver pelo menos em relação aos hospitais públicos esta falta de capacidade de organizar, de dizer que é que faz o quê e como é que se concentram recursos.

Quanto a fechar coisas, eu não sei se a pergunta foi feita à pessoa certa porque eu fui a primeira a fechar maternidades, eu fechei cento e cinquenta. E eu estou absolutamente convencida que o fecho das maternidades foi crucial para a diminuição da taxa de mortalidade infantil em Portugal. E portanto vamos ter muito cuidado, o problema não é fechar. O problema é fechar e não haver um sítio melhor onde as coisas se façam, o problema é fechar e depois as grávidas terem os partos nas ambulâncias porque não apanharam a ambulância a tempo ou a ambulância não foi buscá-la a tempo ou o serviço para onde ela vai não está disponível ou a pessoa anda à volta por vários sítios à procura de quem a trate. O problema muitas vezes em Portugal é que as pessoas muitas vezes são levadas para sítios que não foram fechados e que não são suficientemente sofisticados para responder à situação em que a pessoa está. Um amigo meu, por acaso estrangeiro, num caso concreto que estava em Portugal a passar férias teve em certo momento a necessidade absoluta de cuidados médicos relativamente sofisticados, vieram os bombeiros e a ambulância que apareceu enviada pelo sistema queria levar esse meu amigo para um sítio aonde ele não podia ser tratado. Por acaso para sorte dele estavam dois médicos com ele e esses dois médicos sabiam que o centro de saúde para onde o queriam levar não tinha nenhuma hipótese de o tratar e retardava o tratamento prestado no sítio certo. E o que é que aconteceu? Num carro privado, num meio de transporte privado agarraram nele e levaram para o hospital aonde ele podia ser tratado. Porque é que eu estou a contar esta história? Porque as pessoas têm muitas vezes falsas ideias de segurança em relação aquilo que acontece. É vinte vezes melhor as crianças nascerem numa maternidade onde existem anestesistas, obstetras, parteiras e pediatras do que num sítio onde está um médico com formação generalista como médico e onde o parto a meio se declarar como um parto de risco a pessoa não tem nenhuma hipótese de ser tratada. Isto é uma questão crucial, difícil, também mexe com questões de afastamento e de desertificação sucessiva de certas áreas do território e portanto é uma questão muito difícil, muito dura, muito complicada. Portanto muitas vezes é vinte vezes melhor para a pessoa que efectivamente precisa de cuidados de saúde ser levada para o sítio aonde ela pode efectivamente ser tratada e não ser levada para os centros de saúde que estão abertos durante a noite e que não têm lá pessoal suficientemente qualificado para enfrentar aquela situação. E entre nós há demasiadas regras erradas sobre os sítios para onde as pessoas são transportadas. Eu sei por experiência própria, contei-vos esta história que é recente mas vi inúmeras histórias no tempo em que eu era ministra. Portanto muitas vezes as regras de transportar para o mais perto são regras extremamente perigosas para a pessoa que está doente e portanto o problema é se o que se fecha é fechado sem alternativa. Se se fecha um sítio onde nasciam crianças e o sítio mais qualificado não está pronto para receber, aí é que está o erro e portanto é preciso ver caso a caso se as coisas estão certas. Mas hoje meus amigos, em Portugal não há direito que alguma criança nasça num sítio onde não há tudo aquilo que eu vos falei. Eu ainda era ministra quando uma mulher deu à luz um par de gémeos num hospital daqueles que já devia estar fechado e ainda não estava e a mulher morreu. Eu nunca mais tive sossego ao olhar para aquela história e a partir daí foi fechar mesmo aquilo tudo que tinha de ser fechado. Aquela mulher transportada para onde devia ter sido transportada, hoje estava viva e os filhos dela tinham mãe. E portanto não ficou, porque foi erradamente transportada para uma maternidade que ainda estava aberta mas que não tinha tudo o que era preciso para ela dar à luz com segurança. Portanto vamos tentar ter muito cuidado, (…) infelizmente para mim, são muito mais vezes aqueles que não são da minha cor política que andam a evocar os meus encerramentos de maternidades e outras coisas parecidas, portanto o que eu pedia era muito cuidado na abordagem disto. Fecharem mesmo é errado, mas fechar com critério e com cuidado muitas vezes pode ser uma maneira de não dar falsas ilusões às pessoas, não é um médico qualquer em qualquer sítio durante a noite que resolve uma situação que seja mesmo grave e precise de meios mais sofisticados. Eu queria apenas terminar dizendo-vos, ouvi muita coisa que me sensibilizou muito, podem ter a certeza absoluta, ouvi-la de jovens, muito mais jovens, muito mais jovens, muito mais jovem da idade, já são mais novos que os meus filhos, é uma coisa enfim, que naturalmente me sensibiliza como ali uma pergunta não sei aonde aquelas que para aí havia que dizia que eu tinha sido fundadora da SEDES, eu acho fantástico que haja alguém aqui que saiba que eu fui fundadora da SEDES, já não me lembrava disso mas acho verdadeiramente fantástico que alguém saiba uma coisa dessas e portanto eu, enfim estou desvanecida com muitas coisas que eu ouvi e portanto o que eu queria basicamente em retribuição a muitas palavras que ouvi é dizer-lhes um grande obrigado por me ter sido dada esta oportunidade de vir hoje aqui debater coisas, o Marcelo há momentos disse-me que tinha saído daqui extremamente satisfeito com o grupo que tinha encontrado e com a qualidade do grupo que tinha encontrado, que tinha sido um debate extremamente interessante para ele, que tinha gostado muito de aqui vir e eu não estou senão a constatar que ele estava cheio de razão e agradecer-lhes imenso e ao Carlos Coelho por terem-me dado esta oportunidade de voltar à Universidade de Verão. Obrigada.

 

(aplausos)

 

 

 

 

10.00 - Avaliação da UNIV 2010
12.00 - Sessão de Encerramento da UNIV
13.00 - Almoço com participantes de anteriores UNIVs